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O SALTO DOS SANTOS; BEM LEMBRADO

Número 34 – Edição 01 – Terra Nova, Fevereiro 2004
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O SALTO DOS SANTOS

ssantosEsse o nome escolhido por Quito Ribeiro para o
seu show. Provavelmente também para o disco,
em elaboração.

O Bangüê se fez presente, no dia 21 de Janeiro, no
Rio para presenciar o evento. O show foi realizado
no Teatro Sérgio Porto, às 20 horas, como parte
dos 10 Anos do Festival Humaitá Pra Peixe.

Nesse espaço já se apresentaram muitos
iniciantes baianos ou com ligação forte com a boa
terra: João Miguel, Moreno Veloso, Lucas
Santana, Davi Moraes. Foram dois ou três anos de
convite, disse o produtor do festival na
apresentação, confirmado pelo cantor no final do
espetáculo, no ato do agradecimento ao seu
público.

O show começou a lá casa de sopapo, sala de chão
batido: “Eu tinha um coboré/ cozinhava pra mim
só/ minha mãe mandou pra mim/ abobra maxixe
quiabo Jiló”.

Quito Ribeiro, editor e compositor, agora também
intérprete, foi acompanhado pelos músicos Pedro
Sá, Domenico Lancelotti, Stefano San Juan,
Leonardo Monteiro, Benjão e Moreno Veloso. Uma
banda pra lá de inteira.

O baiano do massapê, neto de dona Santinha e de
dona Leonor, já tem músicas gravadas por
Daniela Mercury (Domingo no Candeal), Jussara
Silveira (Rainha de Lá), Ivete Sangalo
(Verdadeiro Carnaval) Daúde e Gilberto Gil
(Afrolodumultimidia), Davi Moraes e Moreno.

O show foi uma festa, bastante alegre,
partícípatívo, com direito a fiu-fiu, musicalidade
gostosa, samba de roda, mensagens poéticas
fortes evidenciando o social. Um show muito
maneiro, disseram os cariocas; um show porreta,
diriam os baianos.

Verdade, verdade o sucesso não foi surpresa para
boa parte da platéia e sim uma manifestação de
alegria, como se finalmente uma criança
esperada nascesse. Para o Bangüê, quem
acompanha o pai de Noé dos tempos da escola
Experimental e do Colégio São Paulo, considera o
resultado natural da Natureza.

Foi-se o parto, agora é esperar o batizado o disco
e uma festa pra Bahia. Mas antes devem surgir
outras apresentações em São Paulo e no Rio,
onde já está agendado para o dia 12 de fevereiro,
no teatro Planetário, na Gávea, outro O Salto dos
Santos

BEM LEMBRADO

blembradoNa voz do rádio:
Poucas mulheres são lembradas, ou nunca lembradas,
Bem lembrado
Como se colocadas à margem, nã o tivessem feitos.
Não participassem dos fatos, não saem na foto.
Bem lembrado.
Mas não é preciso a guerra
Para a marca do povo
No anonimato e com outras lutas,
Também, se fazem presentes, se fizeram presentes.
Bem lembrado.
Em Terra Nova para não se esquecer:
Arlinda Rancheira, com o seu grito,
Lá do Alto, atrás da rua dos Correios:
Ô Neguiiinho! Chamava o seu filho,
Ouvia-se no Jacu.
Bem lembrado.
Dona Elisa do Mingau veio lá do Lixa.
Resta quase nada, na entrada da usina Aliança.
Seu mingau de todo dia, a madrugada já fazia tempo,
Lado de fora do mercado, perto do Ponto Ceen.
Bolachinha de goma, bolo de arroz, de ovos,
Aipim, café forte e da hora fumaçando,
Segunda feira dia da feira, dentro do mercado.
Doces nos domingos, só na sua casa,
Rua da Bomba.
Cada filha era responsável por um tabuleiro,
De onde vinha o sustento de cada uma.
Bem lembrado.
Sinhá Martinha, negra na pele, na saia, na anágua e na chinela.
Vivia só, em sua casa e com o respeito dos vizinhos.
Rua da Estação, junto da Tenda de Duque.
Seu ganho da roupa que lavava e passava.
Ferro de brasa deixou marcas na janela,
Paletó e calça de panamá, engomados.
Na sua alegria, enquanto trabalhava,
Cantava alto e sorria, sem dispensar a cachacinha.
Cachaça ou jurubeba de Zé Rozendo.
Bem lembrado.
Pepê, Dona Maria de São Pedro,
Lavando fato, trabalhando na roça,
Ou botando água de ganho, criou seus filhos.
Sua força e determinação, tirada do sofrimento,
Estampado nas suas rugas e pouco riso,
Que marca, às vezes, quem faz papel de pai e mãe.
A jurubeba, indispensável, pra esquecer ou lembrar
Os filhos que ficaram em Acupe.
Bem lembrado.
Maria Rodrigues e suas novenas.
Novenas de Maria Rodrigues da pensão.
Madalena do carvão, quitanda sortida,
De panela de barro, verdura, banana,
A bucha de lavar prato
Bem lembrado.
O caruru com seu samba, a queima da lapinha!
As noites de Santo Antonio e o mês de Maria?!
Que saudade dessa gente…
Bem lembrado! Bem lembrado!

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