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MISCIGENAÇÃO; FARINHA DO QUICÉ

Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sáb, 16 de Maio de 2009 08:26
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Número 12 – Edição 01 – Sítio Inhatá, 1 a 30 de abril 2002
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MISCIGENAÇÃO

MISCIGENAÇÃOAinda incomoda conversar sobre a mestiçagem, mesmo que seja uma abordagem séria, investigativa.

O passado escravo humilhado, despersonalizado, incutiu no negro aquilo que o branco proclamava: uma posição de inferioridade. Além disso o assunto era, ou ainda é, tabu O assunto é desconversado, dizendo-se que isso não existe na Bahia.

Há pouco tempo assistimos, no Rio, numa Rede não-comercial, a um programa sobre a desigualdade social, e captamos assim: O primeiro passo para resolvermos o problema das desigualdades, das diferenças sociais com os afrodescendentes, é reconhecer que a desigualdade existe ( 65 % dos pobres no Brasil são afrodescendentes). Explicava a entrevistada que a desigualdade da mulher, do índio já é enquadrada como um problema, a do negro não. Logo se conclui: se não é um problema, por que discutir?

Extraímos do Dicionário do Brasil Colonial de Ronaldo Azevedo “O tema da miscigenação ou mestiçagem foi posto em cena pelos historiadores desde o século XIX. Na década de 1840, o recém-criado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e lançou um concurso intitulado `Como se deve escrever a história do Brasil’. Ganhou-o o naturalista alemão Van Martius, para quem a chave para se entender a formação histórica brasileira residia na miscigenação racial entre o branco, o índio e o negro. Van Martius ganhou o concurso, mas seus conselhos custaram a ser seguidos.

Miscigenação – Enquanto o negro foi mais adaptável ao tipo de trabalho imposto pelo colonizador português no Recôncavo em seus engenhos e canaviais, os índios, com sua índole nômade, arredios ao trabalho disciplinado e repetitivo, foi mais útil ao colonizador nas terras interioranas, no Sertão, nas regiões agrestes, sentindo-se mais em casa atrás das boiadas como vaqueiro.

Os índios foram expulsos e exterminados, das terras litorâneas, para dar lugar aos canaviais e aos engenhos. Eles foram muito mais utilizados nas bandeiras do que o negro.

Esses fatores traçaram uma linha divisória da mistura das raças entre o Litoral e o Sertão.

“Os primeiros brancos aqui chegados não traziam, como é sabido, mulheres de sua raça. Tomé de Sousa quando aqui chegou encontrou os portugueses vivendo amancebados com suas negras (índias). Da união do branco com os naturais do Brasil, nasceram os primeiros mestiços, ou seja, os mamelucos.”Historia da Civilização Brasileira, Brasil Bandecchi, pág. 83

Com a vinda dos negros africanos, chegaram também negras escravas .Do contato dos brancos com essas mulheres, resultou o mulato, o pardo.

“Da bandeira, que foi o primeiro condutor de homens brancos para as regiões centrais do pais, o negro não participou… O conquistador português era bastante inteligente para compreender que o negro não ter as qualidades necessárias para ser, no interior do Brasil, um varador de terras vencendo obstáculos, transpondo rios, enfrentando perigos e povoações, em que o índio já estava perfeitamente amestrado…” Luiz Viana Filho, O Negro na Bahia, pág. 117e 118.

A força numérica das bandeiras estava nos índios e nos mamelucos não só por conhecerem profundamente, mas também pela capacidade de luta e de estratégias.

Ainda do livro O Negro na Bahia, na página 120: “A ausência do negro no sertão deu a essa região baiana a sua fisionomia peculiar, diversa da região litorânea. Separa-as a distância racial. Entre as populações de uma e outra região existe o desajustamento de duas culturas diversas, formadas por fatores étnicos e econômicos diferentes. Se no sertão, afastadas as zonas das minas, o índio foi o elemento quase que exclusivo no cruzamento com o branco, no litoral, ao lado do índio, tipo predominante foi o negro”.

Mameluco – O gado não prosperou no Recôncavo nem na beirada do mar. As grandes extensões de terra não comportavam o escravo negro. Um custo alto para um retorno baixo.Luiz Viana Filho cap. III 2a parte, O Negro na Bahia diz. “Também na criação de gado não prosperou o trabalho do negro escravo. O fato é fácil de explicar. Assentava, principalmente, em razões de ordem econômica. A criação além de não suportar as despesas exigidas pelo regime escravo, fazia-se fora das vistas do dono das extensas sesmarias, quase todos residentes nas cidades. Adotara-se por isso o sistema fácil de parceria. O vaqueiro não era um assalariado. Era um sócio. Da bezerrama ‘ferrada’ em cada ano, 25% lhe pertencia como remuneração dos seus serviços… se exigiam duas qualidades: fidelidade absoluta e domínio da região.”

Engenhos Centrais – O avanço, na economia da Bahia, desvinculando a propriedade familiar do engenho para a iniciativa empresarial com a criação dos engenhos Centrais, deu-se em 1877 com o Engenho Central do Bom Jardim ”Em 1877, a Companhia Fives-Lille acertava com os proprietários Visconde Sergimirim, Barão de Oliveira e Cícero Dantas Martins, depois Barão de Geremoabo, a fundação do engenho central de Bom Jardim, provavelmente a única tentativa que realmente funcionou a contento na Província” Anamélia Vieira Nascimento, Memórias da FIEB p g.26, Federação das Industrias do Estado da Bahia. Ainda essa publicação informa que o segundo foi o de Pojuca, em Catu e dois outros inaugurados em 1886 em Rio Fundo e Iguape. “Contratos foram assinados com a Companhia Central Sugar Factories Limited que iniciou sua programação visando à criação de oito engenhos centrais, depois quatro, para finalmente inaugurar apenas dois: o de Rio Fundo e o de Iguape. Inaugurados sem condições técnicas de funcionamento… sofreram má e deficiente administração…enfrentando conflitos com fornecedores de canas e com trabalhadores”.

FARINHA DO QUICÉ

FQUICEO Quicé á um lugarejo pertencente ao município de S. Sebastião/

Casa de Farinha-Quicé

Para os terranovenses, Quicé está ali! E por isso pertence a Terra Nova/. Mas o Pojuca não deixa/ Caprichosamente colocou aquele pedaço de terra na outra margem/ Parece que aquela gente gosta da gente do lado de cá, ou então da feira/ feira de segunda feira/ Nem as cheias do rio impediam/ O resto de uma jangada, resiste pra mostrar, como os farinheiros venciam o rio/ pra continuar a batalha de novo com o massapê/ e chegar com a farinha intacta/ dentro dos alforjes, sobre o lombo dos burros/ no mercado de Terra Nova.
Resposta

Casa de Farinha – Na fig. Neta de Ulisses

Mano, qual é
Cê tá pro fora
Farinha é a de Terra Nova
Aquela que Duque comprava
Na mão de Ulisses
Vinda do Quicé

Oxente parceiro

Se é da família
Das euforbiáceas
Não sei, não sabia.
Sei que é de mandioca
Não de macaxeira

Mas farinha é a de Ulisses
Que Duque comprava
No mercado de Terra Nova
Vinte litros pra semana
Na feira de segunda-feira
Vinda lá do Quicé
Pois é

Só por que cê tá no rádio
Pode dizer o que quer

Disse e repito
Se quiser provar dou prova

Mano, farinha boa
É a que Duque comprava
Na mão de Ulisses
Toda segunda feira
Vinte litros pra semana
Vinda lá do Quicé.

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