FREGUESIA DE SANTO ESTEVÃO

Escrito por Administrador
Qui, 06 de Setembro de 2012 11:57

sestevao2Relação da Freguesia de Santo Estevão do Jacuipe pelo Vigário Antonio Rodrigues Nogueira (1757).
Esta freguesia de Santo Estevão do Jacuipe que lhe dá o nome o rio assim chamado e uma antiga capela que nesta parte houve com a invocação do mesmo Santo. Foi criada de novo no ano de 1751 por dardem de Sua Majestade pela inacessível distância em que ficavam estes moradores das antigas matrizes que eram a de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira e a de São José de Itapororocas, para se lhe acudir com pronto remédio do saudável pacto espiritual dos Santos Sacramentos dos quais, sem grande dificuldade, não podiam ser sedrvidos assim pela razão da distância em que ficavam de 10 léguas de uma para a outra antiga freguesia como pelas contínuas inundações do rio Jacuipe, no tempo das trovoadas, que lhe impedia o passo e tomava a passagem por não dá vão em semelhante tempo, nem haver canoa que facilite o trânsito, pois ainda no caso de haver pelo cabedal que recebe, e tão rápido na efervescência da sua corrente que se faz intransitável, porém passado esta, a pé enxuto, se lhe pisam as suas areias, na maior parte do ano. Tem esta freguesia de circunferência vinte léguas com pouca diferença.
Tem de latitude e de profundidade 12 ou 14”, em alguns pontos, mais ou menos. Fica posta no centro ou no meio dos dois rios Paraguaçu e Jacuipe, pela parte de baixo, se divide da freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira e da de São José e Itapororocas. O Paraguaçu, pela parte de cima, divide da freguesia de São Pedro da muritiba. O Jacuipe que lhe dá o nome tem o seu nascimento da remontada distância do sertão de Morro do Chapéu que serão mais de sessenta léguas e faz barra no rio Paragauçu por entrar nele, e ser este rio maior que o Jacuipe.
O rio Paraguaçu é de profundo pego e tem parte donde podem nadar embarcações de alto bordo, porém é inavegável assim pelos muitos e altas caveiras que tem, como porque no presente não o navegam. O dito Paraguaçu tem seu nascimento em outro rio mais pequeno chamado Paraguaçuzinho que é no caminho do Sertão que vai para Minas no lugar chamado Chapada e na distância de cinquenta léguas desta freguesia. O Paraguaçuzinho de Uma, e este com grande cópia de àguas que em si recebe de outros rios, é que faz rico do seu cabedal ao Paraguaçu Grande, que é o que quer dizer Açu, na lingua da terra.
Este Paraguaçu Grande deságua no mar na distância de sete léguas que é o rio chamado Cachoeira em cuja ribeira está situada a vila assim chamada com a Matriz de Nossa Senhora do Rosário donde se desmembrou a maior parte desta freguesia de Santo Estevão do Jacuipe.
É navegável este rio da Vila de Cachoeira pra o mar na distância, que digo sete léguas, por embarcações de pequena quilha pelas muitas bancas de areia que tem e por isso é necessário esperar as marés para poderem passar as barcas que vão carregadas de tabaco para a cidade. Fica distante o rio Jacuipe, na parte donde começa esta freguesia, do rio Paraguaçu duasléguas. Em outrs partes pelo centro da mesma freguesia é mais longe um rio a outro, conforme a proporção dos sítios, e uns ficam mais aabaixo aporximado do mesmo rio.
No meio desta freguesia tem outro pequeno rio chamado coromathay, o qual somente corre no tempo das inundações, e fica fora delas apenas conserva àgua em algum poço mais fundo donde bebe gado vacum e cavalar que na sua ribeira se criam e só para eles servem a dita água por ser muito parada e salobra. Da mesma sorte é a do rio Jacuipe com o adito de ser em maior abundância nos seus poços por serem mais altos, e em todo o tempo é àgua pestilenta como nas vazantes que lhecausam o estio, pois com o calor do sol se faz tão caudaloso e insuportável que só para os brutos serve.
O rio chamado Coromathay tem seu nascimento perto, porque há nos limites desta freguesia, e nos seus mesmos limites acaba de se meter e entrar no rio Paraguaçu donde barra, e donde perde o nome. Em nenhuma parte desta freguesia tem a àgu nativa (quero dizer fontes0 e somente nativa, que é o lugar onde se tem determinado levantar a Igreja Matriz que Sua Majestade foi servido mandar dizer nesta freguesia, donde não há Capela mais, do que a de Santo Estevão de que no ´princípio desta relação fiz menção a qual deixou de todo arruinar o seu administrador o Padre José da Costa Almeida em ódio à criação da dita freguesia. E só porque nela se não administram os Sacramentos na falta da igreja Matriz, e com efeito assim o conseguiu o seu inexoráavel ânimo porque os Sacramentos se administram em uma casa de palha donde resido, nem a igreja Matriz que Sua Majestade foi servida mandar levantar, se tem levantado até o presente, é menor a casa que mandou fazer para a residência do Pároco neste ajuste de áspero sertão.
Consta esta freguesia de 1650 almas, ds quais mil, com pouca diferença, são de comunhão. Em toda esta gente somente contém 20 homens brancos, tudo o mais são mulatos, mamelucos, mestiços e escravatura de negros que plantam tabaco e criam alguns gados vacume cavalar.
Muitos dos própios donos das fazendas não residem nelas pela aspereza dopaís, que fora criar algum gado e plantar tavbaco, esta terra em que, verdadeiramente e em todo o sentido, se perde o benifício, pois nem admite a planta da mandioca pra farinha, nem outra alguma que produza em tempo gêner algum de fruto mimoso para o passadio da vida humana.
Apenas produz algum milho, feijão que é sustento providencial destes apísanos, isto é quando as invernadas são favoráveis. No inverno se planta e no inverno se colhe, porque como a produção destas duas drogas é prefixa, no termo de tres meses chuvas do dentro da computação deles se faz colheita. E fora deste tempo não há outra alguma planta que exista em semelhante porção de terra nem que possa resistir á intemperança do clima, exceto a planta tabaco, cuja folha e cuja erva parece que é aquela que falou S. Gregório Naziozeno que a fabulosa gentilidde criou na sua Idéia que contra ferro, peleja, florese estando cortada, e vive depois de morta: “Esta auteminforme planta, que exia Ffloret, advrsus ferrum creat, morte vivil”. Assim tenho observado na natureza desta planta tabaco, pois contra o rigor mais semelhante de Parca universal de todas as plantas, que é o raio solar, que neste continente fere ativamente, só a planta do tabaco lhe se corta e decepa, ta nto mis cresce e revenfece, e depois de cortada e morta então é que vive pelo beneficío de machucar ao sol para se tercer e curar, e por isso com verdade se pode dizer que vive depois de morta.
Aqui também morre a sementeira divina nessa inculta seara que produz o grão de Evangelho, porque cai sobre as pedras que não tem humanidade, que são estes inermes paisanas, e estes bisonhos colonos, que supostos sejam nascidos alguns deles, e outros criados no Grêmio da fé, vivem, contudo tão dissonantes dos bons costumes e da suave harmonia dos santos dogmas da mesma fé católica, que a maior parte deles pelas adustas figuras mais parecem feras humanas. Neles o hábito de viverem desafinados os faz parecer sem alma, pouca religião, nenhuma política civil, porém muita humildade pela pobreza em que vivem e a falta de não viverem trilhado o caminho do céu com os oficios do culto divino, que lhes infunda respeito, temor e atenção, por não haver caso dedicado a Deus para os mistérios da sua adoração, os confirma e estabelece na relaxação dos vícios, na depravação dos costumes e na froxidão do espírito, cuja contagiosa epidemia no estado da natureza caída vai transcendendo por natureza de pais e filhos conaturalizarem em um profundo enriquecimento da vida eterna da qual só se lembram (se é que o fazem) nas confuzas vozes dos trovões.
Aqui não há povoação, nem rebanho junto por que tudo são ovelhas desgarradas pelas distancias em que moram um dos outros, o que tudo faz não haver igreja Matriz donde possam,ao menos nas festas principais do ano, e pelo santo tempo da Quaresma, ouvirem a palavra de Deus.
É preciso ao Pároco andar vijiando continuamente levando consigo viático nõ se sustentar a vida própria, mas também a vida d’almas com parcos tão ásperos e trabalhos, como se pode coligir da esplêndida situação deste país, e da sua intemperança.

Pesquisa realizada em agosto de 2002.
Viraldo

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