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Maracangalha

Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Seg, 02 de Novembro de 2009 11:22

Poucos ou quase nenhum nome próprio surge do nada.
Até mesmo o Nada, primo do Infinito, irmão do Tudo,
Tem sua razão de ser.

Dos poucos que às vezes nem pegam, ou ficam restritos,
Estão os apelidos inventados.
Mas de um modo em geral os nomes tiveram suas raízes.

– Meu pai dizia que em Cinco Rios tinha um lugar

Onde se amarrava cangalha, disse D. Leonor.
Vou ali amarrar a cangalha. Vou amarrar cangalha e

Soltar o burro pra pegar o trem.

Cinco Rios era o nome da Usina do lugar.
No lugar tinha uma estação de trem – Cinco Rios.

Com o tempo, quando alguém dizia: Vou amarrar cangalha,
Todo mundo já sabia onde era.

Devia ser perto da estação ou mesmo na sua plataforma,
Nalguma haste ou travessão de madeira ou de ferro.

Amarrar cangalha hoje, amarrar cangalha amanhã,
Amarrar cangalha depois de depois de amanhã
Virou aquele canto, mesmo que não se fosse:
Amarrar Cangalha.

Não custava nada para o tempo batizar o cantinho
Com o nome de Maracangalha, assim mesmo, juntinhos,
Uma coisa só e ele fez, claro, no jeito da gente de lá.

Pelo menos foi esse juízo que Seu Maneca passou pra Dona Lió,
Sua filha com os: vou amarrar a cangalha; lá no amarra cangalha;

Foi pro amarra cangalha, mesmo que não fosse amarrar.
Aí coube ao povo espalhar, nas cartas, nos bilhetes, nos embrulhos.
Foi tão aceito que até virou modinha.

Ah! Bateu uma saudade! Vou lá e volto.
Eu vou pra amarra cangalha…

Salvador, 22 de junho de 2007.
Viraldo

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