Engenho Central de Bom Jardim

PRINCESA IMPERIAL REGENTE
Tomás José Coelho de Almeida
Transcrito em 14.01.2013

Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro
Eul-Soo Pang

Uma Lição – pagina 165 à 167
(Artigo do Barão de Jeremoabo publicado no Jornal de Notícias de 6 de junho de 1891)

engbomjdTendo efetuado a venda do engenho central “Bom Jardim” resolvi fazer pela imprensa um rápido esboço das ocorrências que se deram desde o seu inicio até o final.

Em 1877 inaugurou-se o engenho central Quissamã, primeiro do Brasil, por iniciativa da importante e distinta família do conde de Araruama.
A ideia causou-me um verdadeiro entusiasmo, pois, como lavrador testemunhava o atraso do fabrico de açúcar, nesta então província, abaixo de toda critica e inferior até de Sergipe.

No intuito de introduzir tão notável melhoramento na nossa principal indústria, entendi-me com meu sogro e cunhado, conde de Segimirim e visconde de Oliveira e de acordo com eles contratei, em outubro do mesmo ano, com a companhia Fives-Lille a montagem da fábrica.
Para levar avante a empresa tornava-se preciso contrairmos um empréstimo, pelo menos 650 contos, para cujo fim recorremos ao Banco da Bahia, presidido então pelo distinto baiano dr. Francisco José da Rocha, que tendo visitado o engenho de Quissamã, sobre o qual escreveu uma detida narração, por sua vez entusiasmado, fez sentir a seus colegas a vantagem da empresa e a necessidade de auxiliar a decadente lavoura desta província.
Aceita a proposta pela direção, com exclusão apenas de um diretor, comendador, que, não me conhecendo, disse em minha presença “que lavradores quando se apresentavam ao estabelecimento era todos muito bons e honrados e depois o calote era certo” calando-se ao aceno de um amigo que acompanhou-me (para felicidade do banco, este diretor jamais fora reeleito e a opinião pública não o tem em conta de honrado), metemos mãos à obra, contraindo o referido empréstimo de 650 contos com juros de 8%.
Lutamos com dificuldades insuperáveis no transporte de todo material em carros de bois, na distância de 5 e 6 léguas, abrindo estradas, fazendo pontilhões, etc., etc.•.
O câmbio deu-nos um prejuízo, pela baixa, superior a 70 contos, e, em janeiro de 1880 tivemos satisfação de inaugurar a fábrica.
Sem favores do governo pedimos o transporte gratuito do material na estrada de ferro, apenas de duas terças partes, por termos obtido da companhia inglesa o de um terço.
O presidente do gabinete de 78“visconde de Sinimbu” deferiu prontamente nosso requerimento; mas a politica e a inveja de nossos inimigos que sucederam àquele benemérito cidadão fizeram cassar esse favor e nada mais pudemos obter dos ministérios de que fizeram parte os conselheiros Manuel e Rodolfo Dantas.
Por ocasião de discutir-se no Senado o orçamento da despesa, o meu saudoso amigo cons. Junqueira, em minha ausência e à minha revelia, sabendo dessa ocorrência, mas ignorado a totalidade dos fretes pagos, fez passar uma emenda mandando restituir-nos 11 contos de réis, quando havíamos pago mais de 30. Foi este o favor que obtivemos, não falando nos direitos aduaneiros que por lei já eram dispensados.
Além da fábrica, construímos uma estrada de ferro com 14 quilômetros e adiamos a destilaria para quando chegasse ao Jacu a ferrovia de Santo Amaro.
Correram os tempos e fomos satisfazendo nosso compromissos com pontualidade até que, baixando consideravelmente o preço do açúcar, fomos assaltados por contínuos déficits e tivemos de recorrer, em 24 de maio de 86, ao banco, para baixar o juro de 8 para 7%, o que efetivamente conseguimos.
Neste ínterim inaugurou-se a estrada de Santo Amaro, e era de grande urgência não só o entroncamento da nossa via férrea com aquela, para acabar a importação em carros de bois, como a montagem da destilaria.
Precisávamos de capital para essas obras ou deixaríamos de satisfazer nosso compromisso com o banco, ou este teria que fornecê-lo. O nosso comércio que sempre auxiliou a desditosa lavoura com juros de 12 e 18%, ou antes o banco, trancou-nos as portas de modo que sofremos grandes perdas à falta daqueles melhoramentos necessários e urgente.
Quando tomamos um fôlego recorremos ao presidente de então, cons. Chaves, que acolheu-me com cavalheirismo, prometendo deferir nossa justa pretensão que consistia no consentimento para entroncarmos nossa ferrovia com a da província.
Pois bem; o deferimento foi de ordem tal que não procuramos o nosso requerimento, e somente na presidência do cons. Bandeira de Melo, fomos atendidos e completamos os 17 quilômetros, cessando o transporte em carros de boi!!
Necessitávamos ainda da destilaria e de novo recorremos ao banco, tendo a mesma sorte da anterior pretensão do entroncamento.
Outro fôlego deu lugar a fazermos a encomenda, e em 87 (quando os prejuízos já eram enormes) montamo-la, elevando-se nessa ocasião o capital da fábrica a mais de 800 contos.
Daí por diante seguiram-se a Lei de 13 de maio de 88, que tirou-nos os braços de chofre, as repetidas secas e a depreciação do açúcar, cujos preços não davam nem para o custeio dos engenhos, fatos estes que estão em consciência de todos.
Neste pé, lutando com enormes dificuldades, falta de braços e de capitais, o Banco Emissor, que único se tem esforçado para animar as industrias e dar vida às empresas e riquezas desta terra, cujos capitais até então viviam na ociosidade dos juros de apólices, entrou em negociação conosco (se bem que outra oferta nos fosse feita por uma empresa do Rio de Janeiro, mas dependente de delongas) realizamos a venda à companhia agrícolas Usinas e Terras representada pelo Banco Emissor e Companhia Industrial e de Melhoramentos em 27 do mês findo, por 400 contos, da fábrica, com 17 quilômetros de ferrovia, destilaria nova e todos utensílios, 40 tarefas de terras, com o prejuízo de perto de 410 contos.
Restávamos ao Banco da Bahia 362 contos. Tendo de saldar um débito de uma só vez, solicitei à sua digna direção um abatimento qualquer, e a resposta foi que “isto nos ficava mal”, o que equivale a dizer que o homem de bem não tem direito à mínima atenção; os velhacos tratantes que dão prejuízos enormes à praça ficando sempre ricos, esse sim, são dignos de todas as atenções.
À vista de recusa tão formal remimos a dívida, deixando de pagar os juros dos dois meses que se iam vencer, “maio e junho”.
Convém dizer que nesse espaço de tempo pagamos ao Banco da Bahia – principal e juros 1.019:520$860 sendo àqueles 650 contos (temos os recibos).
Trabalhamos 12 anos para o Banco da Bahia, passamos por privações não pequenas e afinal, perdemos em dinheiro mais de 400 contos (não tenho presente o excesso).

Transcrito em 14/01/2013 – 

LEI N. 1815 – De 15 de julho de 1878

Concedendo em favor da fábrica central do Bom Jardim o direito de desapropriação dos terrenos estritamente necessários para o assentamento dos trilhos da linha férrea que vai ser construída para o serviço da mesma empresa

O Barão Homem de Melo, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, Dignitário da Ordem da Rosa e Presidente da Província da Bahia.
Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial decretou e eu sancionei a Lei seguinte:
Art. 1º. Fica concedido em favor da Fábrica Central do Bom Jardim o direito de desapropriação dos terrenos estritamente necessários para assentamento dos trilhos da linha férrea, que vai ser construída para o serviço da mesma empresa.
Art. 2º. Revogam-se as disposições em contrário.
Barão Homem de Melo.

O ENGENHO CENTRAL DO BOM JARDIM pag. 135