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ERA UMA VEZ UM TAMARINEIRO; ENGENHO CENTRAL DE BOM JARDIM

Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sáb, 16 de Maio de 2009 12:12

ERA UMA VEZ UM TAMARINEIRO

TAMARINEIROA história do velho tamarineiro é daquelas que poderiam começar com:
Era uma vez…
E um bocado de meninos em roda escutando. TOMADA/COMMIT
Foi plantado defronte da Casa Grande do engenho Aramaré…

Ficou lá de pé por quase duzentos anos…
Mais de duzentos anos se plantado fora pelo pai de Luis Paulino Pinto de Oliveira
da França quando comprou Aramaré em mil setecentos e sessenta e cinco.
Se lá estivera, o velho tamarineiro, em mil setecentos e cinqüenta e sete, quando já existia Aramaré, seriam quase duzentos e cinqüenta.

Era uma vez…
Foi testemunha das cartas escritas
Por Dona Maria Bárbara Garcez ao seu marido,
Luiz Paulino, nos idos da Independência.
Transcritas no livro Cartas Baianas.

Com certeza estava, imponente, quando, em mil oitocentos e cinquenta e quatro,
A propriedade passou dos Pinto da França para os Costa Pinto, chegando aos Dantas.
Certeza confirmada pelo Cel. Luizinho Dantas na conversa
Com seu visitante Pinto da França (outubro de 1976):
“Vêem, ao pé do grande tamarineiro, que é do tempo dos vossos…”

Era uma vez…
Viveu o Primeiro e Segundo Reinado, Independência, Proclamação, Abolição.
Viu ruir um velho sobrado português, surgir e desaparecer outro à moda brasileira.
E ele nem se abalou com tantas revoluções.

E se eternizaria no massapê, dando sombra como outros de igual tempo.
Os tamarineiros do engenho Cajaiba, que serviam de Tronco dos escravos.
Os tamarineiros dos engenhos Pimentel e Capimirim (perdido dentro do mato).
Também, como a palmeira imperial, sinalizam cana de açúcar.

Se não fora aquele inoportuno facho.
Inoportuno, imprudente facho de fogo
Que o sujeito indeterminado
Pôs no seu velho oco
Pra colher mel da abelha…

Era uma vez…
Adeus parceiro, agora sim,
Aquele dia de novembro de 2003…
Mais nada resta do engenho Aramaré,
A não ser a Foto Bangüê abril 2003.

(Leia o numero 44)
Viraldo
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ENGENHO CENTRAL DE BOM JARDIM

engbomjdBom Jardim também foi nome de engenho, quando pertencia à Freguesia de Rio Fundo, na província de Santo Amaro da Purificação. Como distrito, continuou sob o governo de Santo Amaro, desmembrando-se, assim como Terra Nova, Amélia Rodrigues e Conceição do Jacuipe, em 20 de outubro de 1961, passando a chamar-se Teodoro Sampaio, em homenagem a seu filho ilustre, gerado de uma negra escrava com Francisco Antonio da Costa Pinto.
Bom Jardim, que também se chamou Catuiçara, nome da última estação do Ramal Ferroviário de Santo Amaro (Santo Amaro Catuiçara), deu nome a fábrica de açúcar que se instalou nas suas terras. Essa fábrica tinha um processo mais avançado de produção do que o engenho, sendo a precursora da usina. Esse processo, que consistia basicamente em separar o plantio da cana da fabricação do açúcar, foi chamado de Engenho Central.

“A abertura de Bom Jardim foi certamente um ponto decisivo na história da agricultura brasileira. Era das primeiras usinas do Império que separava, segundo o princípio da divisão do trabalho, o cultivo da cana da fabricação do açúcar”.(O Engenho Central do Bom Jardim, pág. 44, Eul-Soo Pang).
O Engenho Central do Bom Jardim foi inaugurado em janeiro de 1880, sendo o segundo do Brasil (o primeiro foi o Quissamã, no Rio de Janeiro).
”No dia 21 do corrente (janeiro) teve lugar a inauguração deste importante estabelecimento. Às 11 horas da manhã, em presença de grande número de proprietários circunvizinhos e de alguns dos municípios de São Francisco, Mata de São João e Catu, começou o Reverendo pároco da freguesia a benção do edifício e das máquinas e aparelhos, executando a filarmônica 25 de Março, de Santana do Lustosa.”(idem pág.135).

Os idealizadores do projeto foram fazendeiros e proprietários de engenhos da região, objetivando equiparar-se a um processo de produção mais avançado. A infra-estrutura básica para a industrialização já estava em andamento: a ferrovia (Ramal de Santo Amaro – Jacu inaugurado em 1883) para o escoamento da produção e importação dos insumos, e uma escola para formação de técnicos agrícolas, (inaugurada oficialmente em 15 de fevereiro de 1877, porém já em funcionamento no ano anterior). Ambos os projetos nasceram dos mesmos interessados:Visconde de Sergimirim e amigos.

“Dentre as diversas concessões feitas para a construção de engenhos centrais nesta província, apenas está sendo levada a efeito a de um na freguesia do Bom Jardim, termo de Santo Amaro, pelos proprietários associados visconde de Sergimirim, barão de Oliveira e Dr. Cícero Dantas Martin […] Para o transporte das canas, está em construção uma via férrea na extensão de 15 quilômetros, sendo 10 para o lado do norte e 5 para o lado do sul. A primeira atravessa e margina os engenhos Tarefas, Quitangá, Coité de Baixo, Santo Estevão do Triunfo, Regalo,Europa, Aurora, Gameleira e Chã; a segunda, os engenhos Cana-Brava, Oiteiro, Casa Nova, Bom Jardim, Malembar, Fazenda Nova, Jacu e outros”. (ibidem págs.119 e 120)

“Duas instituições são dignas de um exame aqui, objetivando evidenciar o poder e os serviços desempenhados pelas famílias patriarcais do Recôncavo e, mais especificamente, pela família Costa Pinto, de Santo Amaro. Em 1859, D. Pedro II, quando de sua visita às províncias do Norte fundou uma instituição, há muito sonhada o Imperial Instituto Baiano de Agricultura […] A segunda instituição de importância foi a Companhia de Estrada de Ferro Santo Amaro”. (Ib pág 35

“Esta escola inaugurou sem trabalhar no ano de 1876, após longo tempo consumido na construção do edifício e suas dependências. Começou tendo apenas treze alunos, dos quais somente dez concluíram o tirocínio escolar de quatro anos.
O curso de agronomia compõe-se de 4 cadeiras, divididas em duas secções acessórias e técnicas de um vasto plano que abrange tudo quanto lhe diz respeito. Essas cadeiras são regidas por professores reconhecidamente habilitados”.(Retirado do Arquivo Público Maço 4590 Secção – Colônial e Imperial)

Os obstáculos eram criados, também, pelos próprios exploradores da indústria de cana. Era uma resistência às mudanças, evidenciando falta de visão para o desenvolvimento da Província, particularmente do ramo industrial de que fazia parte. Isso se evidenciou no próprio projeto da ferrovia.

“Os proprietários, em geral, e os de estabelecimentos açucareiros, em particular, não eram favoráveis à construção de estradas e ferrovias. Em 1853, Ana Francisca Viana Bandeira, senhora dos Engenhos Muçurunga e Subaé, protestou contra a passagem da estrada provincial dentro de suas propriedades e requereu uma indenização. Em outra ocasião, um grupo de proprietários requereu indenização à província. A Companhia Estrada de Ferro de Santo Amaro, pertencente à província, mas em sua organização inicial planejada por Sergimirim, necessitava faixas de terra de dois engenhos e de uma fazenda. O Engenho Terra Nova e Engenho Periperi e a Fazenda Caracanha pertencente à Baronesa de Bom Jardim” (O Engenho Central do Bom Jardim pág.39)

O caso foi parar na Justiça e o governo teve indenizar os proprietários.
As dificuldades que a indústria de cana vinha enfrentando (mão de obra, mercado, impostos, tarifas) não foram superadas pelo novo modelo. A família Costa Pinto, endividada, optou por vender o engenho em maio de 1891

“Impossibilitados de moer bastante cana, profundamente endividados e tolhidos pela escassez de matérias-primas, os principais donos da usina preferiram vender Bom Jardim à Companhia Agrícola Usinas e Terras. Um preço total de 400 contos (Bom Jardim com mais suas 40 tarefas de terra e 17 quilômetros de estrada de ferro e o Engenho Bom Sucesso com 736 tarefas de canavial) […] Já deves saber que vendemos nossa fabrica com o prejuízo superior a 400 contos! Com os Ingleses não podemos trabalhar…- Cícero Dantas Martin (Barão de Jeremoabo) a João Ferreira de Araújo Pinho, Regalo, 17 de maio de 1891. Ao que respondeu Araújo Pinho: Vejo de sua carta que venderam a fábrica com grande prejuízo. Console-se com a certeza de que a indústria do açúcar entre nós está condenada, porque não tem mercado. A Europa fechou-nos as portas com ferrolho de impostos proibitivos, a América do Norte fez de leão com o seu convênio e ainda por cima atirar-nos o sarcasmo de fazer concessões iguais à Espanha” (Ib. págs. 56 e 57).

O engenho operou até a safra de 1926-1927, foi desmontada logo após esta moagem, uma parte do equipamento foi vendida e instalado em Sergipe, a outra parte foi incorporada à usina Cinco Rios a fim de aumentar-lhe a capacidade produtiva. Até o ano de 1938, estas peças estavam em operação na usina Cinco Rios, distrito de Maracangalha.

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Número 36 – Edição 01 – Terra Nova,

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