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NO CAMINHO DA ESCOLA

Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sáb, 16 de Maio de 2009 11:54
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Número 39 – Edição 01 – Terra Nova, julho de 2004
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NO CAMINHO DA ESCOLA

cescolaÉ muito importante as pessoas se colocarem, com fundamento, sobre os mais diversos assuntos, principalmente os que dizem respeito a direitos, melhoria de vida da população, saúde, educação. Isso demonstra amadurecimento, crescimento espiritual, mostra que elas estão lendo, que estão observando.

Já existe uma preocupação real com os negros, índios, de um modo geral com os pobres desprovidos de assistências. A situação incomoda tanto de parte da sociedade, como dos órgãos governamentais, estão ai as políticas públicas para educação, saúde as ONGs. Mas, infelizmente, também, ainda existem pessoas inescrupulosas, tanto na sociedade como nos órgãos públicos, agindo de má fé surrupiando parte do dinheiro, destinado às famílias carentes, recursos da merenda escolar, da bolsa escola, do vale gás, do de fome zero. Esses estão ainda arraigados no atraso, pensam muito curto, são verdadeiros criadores de marginais, pois sua atitude tira garotos da escola e joga só Deus sabe onde, não se sente com qualquer responsabilidade com a coletividade. Só pensam em si,é um coitado egoísta.

O Bangüê também se preocupa com essa população negra e pobre que precisa de muita ajuda para se incluir como cidadão na sociedade, para levantar sua auto-estima,e coloca o aprendizado através da leitura como um pilar importante. Julga tão importante que chega a afirmar: quem não lê não pensa. A assertiva parece exagerada, mas a verdade é de que a leitura limita o pensar.
Observar é outra maneira de valiosa importância para formar pensamentos; formar opinião. Na verdade observar é uma forma de leitura, que fatalmente elevará o interesse pela leitura formal. Quem ler a revista Veja (número 1865 de 04 de agosto 2004), secção Ponto de Vista, pagina 18 verá: “O primeiro passo para aprender a pensar, curiosamente, é aprender a observar”. Esta verdade se evidencia na leitura que se faz do outro,vivi-se diuturnamente, numa campana, observando o outro, fazendo uma leitura dos seus gestos, suas reações, ouvindo a linguagem do seu corpo. Tudo isso num exercício natural de observação.

Já escrever é uma maneira mais concreta de fixar, transmitir o que se leu, o que se observou, o que se pensou. Às vezes as idéias estão prontas, a cabeça já fez o texto, só resta a oportunidade para entregá-lo á ponta dos dedos. Para que esse momento se realize, falta algo para o contexto: um som, uma frase, qualquer coisa que se sinta. É só ficar atento, observando que a oportunidade surgirá. Às vezes um termo obsceno, chulo, feio, mas que se absorvível no texto, se torna oportuno.

“Morei numa avenida (conjunto de pequenas casas no fundo de uma maior). Quantas vezes voltei com o papel higiênico, debaixo do braço, porque tinha alguém no sanitário (na verdade, na época teria dito latrina ou sentina). No contexto que saiu a frase e de quem a produziu (negro nascido na década de 40 em Salvador, emergente de uma classe baixa, mais vivendo hoje dentro cd chamada classe média). Observadas situações semelhantes, juntando-se a outros fatos, não se precisará de estatística, é suficiente para se pensar e escrever sobre a trajetória da educação do negro na Bahia.

Para aquele que nasceu no interior e num distrito sem ginásio a situação era muito mais difícil, pois teria de deslocar-se para Salvador ou para a sede do seu município. Moraria em uma Avenida, à semelhança daquele outro. Isso se passasse no Exame de Admissão para ingressar no Ginásio, condição indispensável na época.

Contam-se nos dedos, (talvez nem precise) em Terra Nova, os descendentes de negros que fizeram esse caminho. Quem seguia adiante era filhos de comerciantes, ou de pais com boa posição na usina. Sendo fundamental para a educação dos filhos a participação dos pais e muito principalmente da mãe, o que levaria uma família pobre, com grau de educação primária, sem amigos ou parentes na capital que facilitasse a acomodação dos filhos, priorizar a educação? Para alcançar o objetivo, superando esses obstáculos, era necessário que o casal tivesse um equilíbrio natural de convivência, visão e principalmente obstinação, ou mesmo a chamada vaidade positiva, este, atributo introspectivo da mãe.

Se observar não for suficiente, fundamentar com dados pesquisados esse problema, que tem raízes na colonização e na escravidão, não é difícil. Os números estão em qualquer jornal, o problema faz parte do contexto do país. George Vidar, jornalista do jornal O Globo, na coluna de Economia (19 de janeiro de 2004) , com o titulo Perto da Meta, comenta:
“Mais de um terço dos filhos de analfabetos repetem a situação dos pais e ficam sem instrução. Apenas 1% dos filhos de famílias sem instrução chega ao curso superior. Já no caso dos filhos dos pais com curso superior, pelo menos 60% também passam pela universidade. Basta que os pais tenham quatro anos de ensino fundamental para que a possibilidade dos filhos ficarem sem escolaridade se limita a 2,8%. No entanto, apenas 11,6% dos filhos nessa condição terão curso superior. Esse é o resultado de uma pesquisa sobre mobilidade educacional feito pelo professor Fernando Velozo, do Ibmec Busines School, e do economista Sérgio Ferreira, do BNDS.Ajuda a explicar a perpetuação da pobreza no pais: quanto menor instrução têm os pais, maior será a probabilidade de os filhos também não estudarem”.Nesse mesmo dia, no Rio de Janeiro, O Bangüê registrou:“Se insere no contexto aquela família ali, que provavelmente não passaria por branco na Europa, mas discriminadamente coloca aquela jovem negra, em outra mesa para almoçar nesse restaurante.” Ali esta uma jovem negra, com mais ou menos dezesseis anos olhando por debaixo dos olhos, sentada no seu devido lugar.Uma situação natural, com os personagens representando seus papeis.
Os números e observações do dia a dia mostram essa realidade dos pobres, cuja maioria é de negros e pardos, com o nível de auto-estima lá embaixo, vem mudando muito lentamente ao longo de sua história no Brasil. Mudou muito pouco também a mentalidade de muitas pessoas que têm uma situação melhor, mesmo os afros-descendentes.

Pelo que se observa na sociedade, vai precisar de muitas décadas para que o conhecimento seja democraticamente distribuído. Enquanto uma minoria vai se beneficiando, por exemplo, com o avanço da ciência, tipo informática, a grande parte se quer conhece esse instrumento que avança em todos os seguimentos da ciência, ficando sempre defasada no tempo, sem conhecimento básico para interagir com a realidade social (participando,lutando, buscando).

Recuando-se no tempo, há de se encontra quando e para quem a escola começou na Bahia;“Tudo se iniciou praticamente do nada. O Liceu Provincial e a Escola Normal foram criadas na Bahia em 1836. O Liceu, para substituir as aulas avulsas de latim, francês e grego e a Escola Normal para formar professores do ensino elementar. Matricularam-se 323 alunos nas disciplinas obrigatórias:Filosofia Racional e Moral, Aritmética, Geometria e Trigonometria, Geografia, e Historia, Comercio, Gramática Filosófica da Língua Portuguesa, Eloqüência e Poesia Análise e Critica dos Clássicos,Desenho, Musica, Gramática Latina,Gramática Grega, Gramática Francesa E Gramática Inglesa.”(Historia da Bahia, Luiz Henrique Tavares, pág. 270).
Uma tentativa de escolarização em favor dos escravos ocorreu em 1860, como está registrado no livro citado, capítulo Evolução do Ensino.”Em 1860, a Assembléia Provincial votou a reforma mais avançada do seu tempo, pois permitia a admissão de escravos nas escolas, todavia proibida dois anos depois.”

Fora da escola primaria por muito tempo essa população marginalizada, vai precisar de uma ação contundente para recuperar as sucessivas gerações perdidas. A começar por dispor de um tempo diário maior na escola. Como, acredita-se ser um consenso, a participação da mãe na educação escolar do filho, é importante, mas essa mãe analfabeta, ou quase, faz parte dessa geração, que não tem conhecimento fundamental para acompanhar essa mesma etapa básicas dos filhos, as conversas dentro de casa , os comentários sobre assuntos do dia-a-dia do mundo são naturalmente captados por eles, que acumulam em suas mentes aquilo que ouviram,num processo semelhante ao de aprender falar. Um tempo maior dos meninos na escola minimizaria a falta da mãe. As Bancas, tão utilizadas para suprirem a deficiência, não resolvem, pois não estão ao alcance da classe em referida.
Cabe, portanto, ao Estado dar realmente prioridade ao ensino estendendo-o para dois turnos, colocando pra trabalhar na escola, do porteiro, à merendeira, pessoas submetidas a treinamentos atinentes a relacionamento com jovens; e aos professores usarem suas criatividades para tornar os assuntos mais atraentes. Assim as famílias, futuramente, poderão participar com mais eficácia na educação de seus filhos e este país, futuramente, ter uma classe média também formada de negros.

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