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Usina Terra Nova

 

 

Arquivo Público

Caixa 2367

Maço 119

Doc. 432 (354)

Pesquisado em 29.07.2002 – Viraldo

 

Contrato do Estado com a Usina Terra Nova

Data Limite 1908

 

Ilmo.

Sr. Dr. Governador, do estado da Bahia

 

Cezar Rios& Comp. Sucessores de Gonçalves, Cezar & Comp. Concessionários  da Usina Terra Nova, contrataram em 1899 de acordo com a lei No. 255 de 25 de agosto de 1898, mediante 1200 apólices, a construção e exploração da usina, que deveria ter a capacidade de trabalhar 250 toneladas de canas, em 24 horas, mas  que os concessionários construíram de 400 toneladas para melhor garantia da empresa .

As ditas apólices, de valor de nominal de 1.000$000, foram recebidas de 1899 a 1901 e ainda sua cotação na praça muito baixa, produziram depois de várias operações de crédito a importância em moeda legal, de cerca de 700:000$000, tendo por consequência uma depreciação de 40% do seu valor. Aconteceu também n’aqueles anos o câmbio atingiuao ase maior declínio, oscilando de 8 a 5 sendo o valor de [libra] de 30$000 a 40$000  encarecendo normalmente o custo dos mecanismos e dos materiais de construção, como ferragens, cimento e etc.

Os concessionários desprenderam na construção da usina e do primeiro trecho do Ramal Pacheco de 3 ½ kuilômetros, inclusive  1 ½  de linhas na área da Usina, para desvios de canas, linhas e produtos, a importância de Rs 1.126.000:000$000 em valor legal. A primeira safra apurada pela Usina , de 1901 a 1902, coincidiu com a maior baixa de açúcar conhecida, sendo o preço do cristal de 160 a 180 o quilogramae o demerara/açúcar de exportação 140 a 160 reis não havendo comprador, senão para pequenos lotes e tendo a Usina produzido 30.000 sacos de demerara e 4.000 branco. É escusado dizer que foi inteiramente negativo o resultado da safra, que, além d’aqueles preços tinha contra si os inconvenientes da estreia sem pessoal habilitado e familiarizado com os mecanismos.

As safras que se seguiram atem, a de 1906 a 1907, foram de preços baixos e poucos remuneradores ou então escassas, quer pelas irregularidades das estações, quer pelo desanimo dos lavradores, sendo que na safra de 1904 a 1905 a Usina apenas produziu  13.000 sacos.

A última safra 1907 a 1908 começou, sob melhores auspícios e foi de fato magnifica para as Usinas, que tinham grande cultura própria e também para os fornecedores de canas.

Para a Usina Terra Nova, porém, o seu resultado ainda em parte sujeito à liquidação, deixou muita a desejar, e por isso, por circunstancia que: a usina não se pode manter sem cultura própria, capaz de fornecer 50% de sua lotação. Devido ao alto preço a que o mal atingiu, a Usina deixou de receber cana de fornecedores que ainda conservam os seus mecanismo de seus engenhos, como Terra Nova, Conceição e Paciência, obtendo melhor preço pelas suas canas do meio da safra em diante, obrigando assim Terra Nova para não puder o pequeno fornecimento, que  então tinha, a acompanha-la e a fazer ainda maiores vantagens a alguns fornecedores que dispunham de safra, já por si mesma muito reduzida, por causa da seca que vinha nos atravancando. O resultado deste leilão de canas foi ter se pago canas preços que não estavam em relação com o preço real do açúcar, cuja venda, exatamente neste ano, foi muito difícil nesta praça e tem sido assim muito demorado por condições especiais do mercado.

Ainda outras circunstancias vieram concorrer para reduzir sensivelmente o êxito industrial da safra. Sendo muita escassa a safra os fornecedores estavam sempre na esperança sobreviessem trovoadas com chuvas, para desenvolvimento de seus acanhados e raquíticas plantações, aumentando-la [-a], em 60 a 90 dias,o rendimento da cultura; por outro lado acentuando-se a notícia de que a mesma seca tinha reduzido bastante a safra do Norte, aguardavam os fornecedores de cana melhor preço no mês seguinte, de modo que a combinação destes dois fatores deu um resultado que fosse muito lento a esperançado o fornecimento de matéria prima à Usina que rara vez conseguiu trabalhar horas seguidas semanal.

A Usina gastou 6 meses de setembro a fevereiro, para fabricar 21 mil e poucos sacos de açúcar, que normalmente teriam sido fabricados em 2, tendo por consequência consideravelmente encarecidas as despesas de fabricação, desde o aumento do combustível – lenha, que atingiu 2% sobre o peso da cana, até o dispêndio com pessoal para efetuar um trabalho, que em condições regulares demandaria um terço do tempo empregado!

Não dispondo de nenhuma cultura própria por se terem cingido os concessionários aos intuitos do legislado, que entendeu deixar aos lavradores o trabalho da cultura, os concessionários exclusivamente fabricantes, o que a experiência já demonstrou não passar de utopia, a Usina teve de adquirir mensalmente matéria prima por preços que não correspondiam aos do açúcar vendido, ao passo que os demais tendo vastas e bem cuidadas culturas próprias, com o custo médio de 5 a 6$000por tonelada, detiveram grandes lucros em suas plantações, sendo-lhes pouco sensível a aquisição de 20 a 30% de canas a fornecedores estranhos por preços superiores aos relativos açúcar do mercado.

Supomos, Exmo. Sr., ter demonstrado quais os motivos por que a safra última não deixou resultado que era de esperar, sem que, entretanto, nos caiba culpa ou responsabilidade atentas [a tantas] as razoes de força maior, que acabamos de enumera-las.

Com o arrendamento a outras Usinas de engenhos, que até então forneciam canas a Terra Nova, com o desenvolvimento de outras Usinas que até então se limitavam a trabalhar com culturas própria e, com a ligação destas à E. F, Santo Amaro, auxiliadas pelo Estado, foi decrescendo o fornecimento de canas obrigando os concessionários, a compensar a perda de tão sensível quantidade de matéria prima, aplicaram os pequenos saldos das safras, acrescidas a outras operações de custo, à construções de ramais férreos.

Assim é que o Ramal Pacheco, iniciado em 1901 foi prolongado e construído um desvio de 500 metros de extensão para servir ao engenho Aramaré, ficando com a extensão total de 4,1/2 quilômetros.

Construíram mais os concessionários o primeiro trecho do ramal Boa Sorte, de 6 quilômetros de extensão, com trilhos de aço 21 quilos por metro, com obras d’arte tendo sido este ramal trafegado pelas locomotivas material pesado de E.F. Santo Amaro.

A Usina teve infelizmente por enquanto a compensação desejada com o aumento do fornecimento de canas devido a estação seca, sendo que na última safra apenas recebeu este ramal proveniente de cinco propriedade agrícolas, 1871 toneladas. Igualmente foram necessários e importantes que, pela experiência diversos melhoramentos e mecanismos novos de modo que a Usina se mantivessem ao nível de seus congêneres que, como já dissemos, com as ligações com E. F. Santo Amaro,          concorrer na aquisição de matéria prima.

Comparando-se a relação de mecanismos, aparelhos e linhas férreas, de que se compunha a Usina Terra Nova, logo depois de sua inauguração em 1901, de que existe arquivado no Tesouro documento constante de uma certidão de inscrição hipotecária feita em Santo Amaro, em cumprimento a uma das cláusulas do contrato, comparando-se esta relação com o que hoje existe, na Usina, verifica-se que os concessionários instalaram mais os seguintes aparelhos e mecanismos:

Uma bomba poderosa, de volante, para a alimentação dos geradores de vapor.

Um reparador hidro-extrator de encanamento geral do vapor.

Um acumulador hidráulico de A.P.W. Maconie – para moenda de canas.

Uma bateria de cinco, decantadores contínuos, de fundo cônico, com três torneiras de bronze, de 4” de diâmetro, cada uma, ligados em série, para decantação de caldo e montados sobre longarinas e colunas de ferro. Dois eliminadores com serpentinas de cobre para vapor colocados ao lado do aparelho de cozinhar no vácuo e destinados ao tratamento do mel.

Três turbinas hidráulicas de Watson Laidlow e Co completo elevando-se assim a nove a bateria da Usina.

Uma bateria de cinco grandes filtros de areias, verticais, de geo. Stade de Berlim, montados sobre plataforma e colunas de ferro com capacidade correspondente a 400 toneladas de canas.

Uma bateria de ferro e maquina vertical, ligada ao tanque  de mel para separo [separo] do mel antes da filtração.

Dois tanques de xarope e um para mel montados sobre uma plataforma de trilhos e uma ligação com os filtros.

Dois tanques com serpentinas de vapor ao lado de um malaxeur de massa de primeiro jato.

Um grande deposito de ferro, circular, com 16”  de alturapor 15 de diâmetro com capacidade de 100.000 litros de mel montado sobre um tanque circular de alvenaria de tijolos e concreto elevados e três depósitos  de mel da Usina.

Uma balança nova de capacidade de 21 toneladas com lastro de ferro de 9 metros de comprimento com trilhos fixo sobre longarinas de ferro, para pesar vagões de cana e lenha da E.F. de Santo Amaro.

Luz elétrica.

Oficina completa de uma caldeira e máquina verticais transmitindo movimento a um torno mecânico, maquinas de furar e aplainar, forjar, torno de bancada, máquinas de atarraxar e abrir rosca, ferramentas, etc.

 

(Ramais férreo e material rolante)

Ramal Pacheco e Aramaré – de 4.1/2 quilômetros de extensão, com trilhos de ferro, usado de 22 quilos por metro, com obras d’arte, com três desvios e um ramal de 500 metros para o engenho Aramaré, atravessando os canaviais dos engenhos Terra Nova, Periperí e Aramaré.

Ramal Boa Sorte – com primeiro trecho construído de 6 quilômetros deextensão, com 3 desvios construídos com trilhos novos de aço de 21 Kg por metro, com obras d’arte, tendo sido trafegado pelas locomotivas e material pesado da E.F. Santo Amaro.

Uma locomotiva, 10 toneladas, Baldewin, tendo mudado há 2 anos a caldeira e fornalha e este ano rodas motoras e reparo de   todas as peças de movimento e casa do maquinista.

20 vagões com lastro de aço de 414 [4,41] de comprimento cada  por  2 de largura, capacidade de 6 toneladas cada um.

5 vagões com lastro de aço de aço de 9 metros por dois de largura sobre truques, capacidade de 12 toneladas, cada um.

Além de todo este material, acima especificado, os concessionários fizeram no no intervalo das safras, como ainda estão fazendo permanentemente, todos os reparos e substituições de peças de maquinas estragadas pelo uso natural ou por acidentes do trabalho, como e do conhecimento doEngenheiro Fiscal e do Engenheiro Diretor da Diretoria da Agricultura.

 

Os concessionários asão devedores de juros na importância de Rs400:000$000, aproximadamente, que deixaram  de satisfazer nas épocas determinadas no seu contrato pelo  motivo e causas apontadas na presente petição. Se tivessem pago o Estrato de juros do fim da segunda safra, em diante, teriam ficado, ipso-facto, impossibilitado de introduzir um só melhoramento na Usina, manifestando-se esta desde logo em inferioridade às zonas [demais], pois verificou-se no correr da segunda safra que, em consequência de sua alta capacidade, necessitava a Usina as modificações e aparelhos novos. Capazes de permitir a fabricaçãode açúcar de tipo bem alvo e brilhante, como exigia o mercado.

Era justamente a época em que começavam a chegar ao conhecimento dos fabricantes de açúcar de nosso Estado od melhoramentos e progressos introduzidos na fabricação de açúcar de cana em outros países como Havaí, Cuba etc.

Os concessionários não podiam executar em promover e introduzir tais melhoramento, sob pena de ficaram muitoprejudicados nas safras futuras, mais sem tão pouco deixar de construir os ramais férreos, de modo a animar indiretamente os Srs. lavradores, já tão duramente fragilizados pela baixa do preço e pelas irregularidades  das estações. Se não corresponderam ao suficientemente explanados, nesta petição, cabe aestes, entretanto a satisfação de terem comprido o seu dever.

Demonstrado como ficou, Exmo. Sus. que de fato os concessionários tem realizado as benfeitorias e linhas   férreas na Usina Terra Nova, descritas na presente petição,  e que estimam a importância total dos mesmos em quantia equivalente e dos juros vencidos, em 31 de Dezembro de 1907, vem os concessionários solicitar a V.Exa. que se digne tomar em consideração o que alegam, autorizando ao Tesouro do Estado a fazer compensação da importância das benfeitorias com a dos juros vencidos, ficando a dever a amortização, que os concessionários se obrigam a fazer, de acordo com os recursos da próxima safra, bem como a entrar com a importância de Rs. 30:000$000, correspondentes aos juros pagos pelo tesouro no fim do próximo semestre, ficando deste modo regularizado as obrigações decorrentes do contrato e habilitados os concessionários a desenvolverem o progresso da zona em que está a Usina situada.

  1. deferimento

Bahia 8 de agosto de 1908

Cezar Rios Comp.

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