BIBLIOTECA; ESCOLA DO PÁSSARO PRETO
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Número 32 – Edição 01 – Terra Nova, dezembro 2003
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BIBLIOTECA
Desde o dia 29 de abril de 2001, quando foi exposto na Igreja de S. Roque, em Terra Nova, o trabalho “Terra Nova Decreto 9 de Agosto de 1819” aflorou a necessidade de se criar na cidade uma Biblioteca. Consta, na parte conclusiva do trabalho, o que reproduzimos a seguir:
“Estas informações que coletamos, considero como início de um projeto, que se completará com a instalação de uma Biblioteca”.
“É importante, portanto, que o empreendimento tenha participação da comunidade e de todos os setores organizados”.
“Esta é a hora da nossa geração resgatar este débito que tem consigo mesma”.
“Ninguém dá o segundo passo sem que o primeiro seja dado. Acho que o primeiro está sendo dado agora por esses dois grupos da Terceira Idade”.
A partir daí, tornou-se mais evidente a identidade com o Recôncavo, na forma de pesquisas e registros fotográficos, que foram se transformando em textos. Mas esses textos mereciam um nome próprio e uma regularidade, que se evidenciaram quando nos deparamos com o nome Bangüê.
– Você sabe o que é bangüê? perguntou Juvenal.
E assim surgiu o jornal, batizado por Bangüê; tempo depois veio o site Bangüê – www.bangue.com.br.
As coisas foram acontecendo lentamente, de uma forma natural.
No dia do aniversário da cidade, fizemos uma exposição de fotos-bangüê e de fotos antigas de Terra Nova. A satisfação ficou estampada no rosto dos quase 300 visitantes ao stand, o que nos levou a pleitear e conseguir emprestado um imóvel maior para exibição por mais tempo. Nem houve tempo para a transferência das fotos. Amigos proprietários de uma escola, recém fechada, em Salvador, nos presenteou com os livros da biblioteca. Nasceu aí o Espaço Bangüê.
O trabalho continua. Já foram viabilizadas as condições, mínimas, para leituras e pesquisas da juventude estudantil. A etapa seguinte será motivar os educadores a agendar, pelo menos uma vez por semana, um encontro no Espaço Bangüê.
Como a cidade é pequena, esse grupo pode pensar, entre outras coisas, num mecanismo para intervenção nos problemas típicos das cidades maiores (violência, drogas), que tanto afetam a juventude.
O crescimento da participação dos jovens nos itens de violência e no consumo de drogas indica que a escola e a família vêm perdendo autoridade na orientação de filhos e alunos, obrigando a sociedade a recorrer, como complemento educacional, aos poderes da justiça e da polícia. O que não é bom. É preciso que a sociedade, antes desse passo, apresente-se como parte do problema.
Se conseguirmos envolver alguns setores da comunidade no projeto-bangüê, muitos frutos advirão. Uma base já existe: sala, cadeiras, livros, vontade. Do outro lado temos os professores, religiosos, comerciantes, justiça.
No passado, com o poder de coação exercido pela família, pela escola e até mesmo pelo vizinho, aparentava existir mais disciplina por parte dos educandos. Hoje métodos de coação não são mais aceitos pela sociedade como instrumentos educativos, pois causam marcas na personalidade do indivíduo. Porem essa mesma sociedade não pode se omitir na solução do problema, simplesmente entregando os jovens que começam a se comportar de uma forma inadequada um órgão policial.
Se a sociedade terranovense vive uma etapa mais avançada, e por causa disso os problemas individuais e sociais se tornam difíceis de resolver, cabe aos seus componentes adotar uma nova postura de envolvimento, para evitar que a nossa pacata cidade se iguale a tantas outras.
Particularmente, esperamos que o Bangüê, ou uma entidade qualquer, mostre competência fazendo destas variáveis uma equação.
ESCOLA DO PÁSSARO PRETO
Será que perdemos a guerra pra nós mesmos?
Será que é uma fase natural no processo?
Olhando-se pra trás, alguns acham que não.
Outros dizem:
O mundo está como nunca;
Antigamente não era assim não!
Um menino de dezesseis anos
Ali na delegacia respondendo por um roubo
Era o primeiro dia de dezembro,
Terra Nova ano dois mil e três.
Como ias pagar, se não trabalhas?
Foi a pergunta na sala de espera.
Com o dinheiro da Bolsa Escola.
Ninguém se escandalizou.
Com dinheiro da Bolsa…
Ele que estava ali,
Na delegacia, com a mãe,
Acusado pelo roubo de uma bolsa/
Com dinheiro do Bolsa-Escola
Pagar por um Pássaro Preto roubado?!
Botava outro no lugar.
Apressou-se a mãe.
Será que perdemos a guerra pra nos mesmos?
Botava outro no lugar…
Sou paga para ensinar e não para desapartar briga,
Justificou a professora.
E um menino de dez anos morreu.
Morreu no hospital,
Espancado por colegas da mesma idade.
Tá na A Tarde, primeiro dia de dezembro,
Salvador, ano dois mil e três.
Vira encargo da polícia
Quando a família e a escola.
Perdem a luta.
É preciso escandalizar-se.
Embate novo.
Arma nova,
Participação.
Outrora – Família, Escola, Vizinho.
É preciso: Família, Escola, Comunidade.
Viraldo
Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sáb, 16 de Maio de 2009 11:54