ILHAS NEGRAS; USINAS; MOLÉCULA DESAPARECE, MAS SUA “MEMÓRIA”: PERMANECE; CRISTÃOS NOVOS NOVAMENTE
Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sex, 30 de Novembro de 2001 12:46
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Número 07 – Edição 01 – Sítio Inhatá, 16 a 30 de novembro 2001
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ILHAS NEGRAS
No interior da Bahia em especial no Recôncavo, se há uma concentração de negros, o canavial, o engenho estiveram ali. Mesmo alforriado, mesmo liberto, o negro não teve alternativa. Quem o trouxe do outro lado do Atlântico não abriu aqui uma porta de saída. Por isso, sem instrução, sem terra, e sem passado, teve de ficar gravitando em volta do canavial, em volta do engenho de fogo morto. Ao contrário, os nascidos dos senhores de engenho, mudaram-se para a cidade grande, engajando-se em outros ramos da economia.
Municípios como S.Felix, Cachoeira, Terra Nova, Santo Amaro,São Francisco do Conde; distritos como Rio Fundo Passagem dos Teixeira, Matoim, São Bento do Inhatá, são retalhos da África.
Ilhas Negras – Na Capital os negros e pobres estão ilhados na periferia ou em bairros do centro, em que outrora a acessibilidade era difícil e somente depois vieram a ser procurados pela classe média.. Locais como Curuzu, Japão, Pero Vaz, São Caetano são verdadeiras cidades negras.
ABDÍAS NASCIMENTO
Um trecho de livro – Em O Negro Revoltado, página 27, o escritor Abdias trata da situação dos ex-escravos. “Mas a abolição formal e jurídica da escravidão foi meramente um jogo de interesses econômicos com a Grã-Bretanha. A lei do 13 de maio de 1888, a última em todas as Américas a abolir a escravidão legalizada, somente assegurou a continuação da escravidão de fato. Esta escravatura de fato tomava diversas formas, mas basicamente se incorporava na expulsão do ex-escravo, a grande maioria do povo brasileiro, do mercado de trabalho chamado livre. Àqueles que haviam construído o pais, e aos seus filhos, foram vedados os mais básicos elementos de subsistência..Milhões de negros foram criminosamente jogados, nas ruas ou nos campos, à fome, à degradação e à morte coletiva. Seus lugares no mercado de trabalho foram ocupados pelos imigrantes brancos europeus.
USINAS
Das usinas do Recôncavo também só restam ruínas, salvo a Usina Aliança que permanece moendo. Usinas como Terra Nova, Cinco Rios, Itapetingui, S.Bento, Santa Elisa, S. Carlos, Passagem, Capimirim, Paranaguá, há muito que estão de fogo morto.
O aproveitamento do negro nas Usinas melhorou um pouco em relação aos Engenhos. Entretanto as ocupações mais rudimentares, como os trabalhos nos canaviais, continuaram com o negro. Mesmo após a proclamação da República em 1889 sua expectativa de ser absorvido pelo mercado de trabalho não ocorreu, continuou à margem do mercado.
“Os afro-brasileiros sofreram nova decepção em seus sonhos quando constataram que até mesmo no crescente contexto industrial do País, especialmente em São Paulo, sua força de trabalho era rejeitada. Isto que chamam de acelerado progresso e expansão econômica brasileira não modifica sua condição, à margem do fluxo e refluxo da mão-de-obra. E para que assim permanecesse o negro um marginal, o governo e as classes dominantes estimularam e subsidiaram a imigração branco-européia que, além de preencher as necessidades de mão-de-obra, atendia simultaneamente à política explicita de embranquecer a população.” O Quilombismo – Abdias Nascimento pág. 65.
HERÓIS NEGROS
A história oficial não conta, nas escolas, com o merecido enfoque, a respeito dos negros que lutaram contra o regime escravocrata. Essas lutas se deram de forma física e literária. Achamos que o assunto merece outro tratamento por parte do Estado. Seria uma maneira do negro resgatar sua dignidade. É necessário que se popularizem os fatos heróicos dos negros. “Em 22 de novembro de 1910 a Marinha de Guerra, sob o comando do marinheiro negro João Cândido, rebelou-se contra o governo do país . O objetivo imediato da revolta: a extinção do castigo, uma punição corporal remanescente do regime escravo” Quilombismo, pág. 67, Abdias do Nascimento.
Foi feito o acordo não honrado pelas autoridades, que se aproveitaram da boa fé dos revoltosos, após a entrega das armas, para, covardes, em seguida massacrarem os revoltosos.
Heróis Negros – Muitos negros se destacaram nas lutas armadas contra o regime escravista; outros foram expoentes na literatura. Entre outros destacamos aqui José do Patrocínio e Luiz Gama.. “Durante a campanha abolicionista, dois negros se destacaram na defesa dos escravos: José do Patrocínio, filho de sacerdote católico com mulher negra. Nasceu em Campos, Estado do Rio de Janeiro … transferiu-se para a antiga capital do pais, a cidade do Rio de Janeiro…. arena onde desenvolveu extraordinário trabalho jornalístico. O outro chamava-se Luis Gama, filho de africana livre e aristocrata português. Nasceu na Bahia e as oito anos foi vendido como escravo pelo próprio pai… para pagar divida de jogo.O menino Luis Gama embarcou com seu proprietário para São Paulo… conseguiu aprender a ler e escrever, estudou, libertou–se da escravidão e tornou-se brilhante advogado…Tudo que ganhava em sua banca de advogado, Luis Gama destinava à compra da liberdade dos seus irmãos de raça escravizados. Escreveu violenta poesia satirizando os negros e mulatos que tentam esconder ou negar sua origem africana, querendo passar por brancos… Cantou a beleza negra em termos altos e absolutos, muito antes que os poetas da chamada negritude o fizessem, ao evocar ternamente a imagem de sua mãe, Luísa Mahím, a quem jamais conseguiu tornar a ver.” Quilombismo pág 66/67 – Abdias do Nascimento.
Passeio – Estivemos recentemente visitando o município de S. Francisco do Conde, quando constatamos um cenário, que tempo e progresso farão desaparecer, propício para registrar, em fita, a mensagem dos Engenhos, dos negros e dos coronéis.
MOLÉCULA DESAPARECE, MAS SUA “MEMÓRIA”: PERMANECE
Uma surpreendente comprovação, a de que a “memória” de uma molécula pede sobreviver ao desaparecimento dela, está intrigando o mundo cientifico. Para explicar aos leigos no que tal descoberta consiste, o biólogo francês Jacques Benenise lança mão da seguinte comparação: “É como se a chave de ignição de um automóvel caísse no Rio Sena, em Paris, e alguém que recolhesse algumas gotas de água de mesmo rio centenas de quilômetros abaixo pudesse dar a partida no carro com aquela água”. Benveniste e outros 13 cientistas – do Canadá, Israel e Itália _ constataram que uma molécula diluída até que deixe de existir, pode se comportar como se ainda estivesse presente, pois o liquido da diluição conserva a “memória” da molécula. A descoberta , que põe por terra todo o conhecimento molecular até agora aceito, é tão surpreendente para a comunidade cientifica que, há três anos, a equipe está procurando encontrar uma falha no seu próprio trabalho, mas os novos estudos conduzem sempre à mesma conclusão. “Se até agora existe alguma certeza em nosso universo biológico, esta era a de que para cada função existe uma molécula que lhe corresponde, mas nossos estudos evidenciaram a existência de um efeito do tipo molecular em ausência de molécula”, destacou Benveniste.
As pesquisas do grupo foram iniciadas em 1985, a partir de uma interrogação relativamente simples: é possível demonstrar formalmente que os medicamentos homeopáticos têm efeito biológico sobre as pessoas? … Para encontrar a resposta, os pesquisadores diluíram determinadas moléculas até o máximo grau possível – 10 elevado à 160a potência- quando, pela lei de Avogrado, uma molécula deixa de existir quando é diluída na proporção de 10 para 23a. Constatou-se então que a molécula pode ter uma “memória” biológica independentemente de sua própria existência.
Ruínas no Município de S. Francisco do Conde – Fotografamos: Igreja e Engenho Paramirim, Capela e Casa Grande do Engenho D’Agua, Usina Dão João, Imperial Instituto Baiano de Agricultura.
CRISTÃOS NOVOS NOVAMENTE
“Nome dado aos descendentes de judeus convertidos à força ao catolicismo por D. Manuel. Os cristãos-novos surgiram em Portugal em 1497. Pressionado por Espanha, o monarca português decidiu pela conversão forçada de todos eles, mas não chegou a criar mecanismos de controle e perseguição das práticas judaicas no reino. A hesitação de D. Manuel na adoção de medidas persecutórias explica-se pela forte participação dos judeus na primeira fase de expansão ultramarina,…O Tribunal do Santo Oficio da Inquisição foi criado no reino luso de 1536, já no reinado de D. João III…Embora o Brasil não tenha possuído tribunal próprio, o Santo Oficio se fez presente na colônia desde fins do século XVI, através das chamadas visitações…Mas foi no século XVII que o Brasil viveu a experiência mais profunda de ‘renascimento’ do judaísmo. Com a ocupação pelos holandeses de boa parte do nordeste, judeus…foram autorizados a migrar, integrando-se à economia açucareira.” Dicionário do Brasil Colônia, Ronaldo Vainfas.