PRIMEIROS ENGENHOS; CUNHADISMO; EDIFICAÇÕES; FÁBRICAS DE AÇÚCAR
Escrito por Viraldo B. Ribeiro
PRIMEIROS ENGENHOS
Capela Sto.Antonio R. Fundo
Muito provavelmente a introdução da cana de açúcar pelos portugueses se deu antes da expedição de Martim Afonso de Souza em 1530.
“Não se conhece a data exata em que os portugueses introduziram a cana-de-açúcar no Brasil. Entre o descobrimento, em 1500, e o estabelecimento das capitanias hereditárias em 1533-4, os interesses econômicos da Coroa e dos particulares estiveram, em sua maioria, voltados para comercialização do pau-brasil”….. “Já em 1516 a Casa da Índia (órgão de administração colonial) ordenara a vinda de um técnico na manufatura de açúcar, ao qual deveriam ser fornecidos todo o material e recurso necessário para construção de um engenho. Em 1526, a Alfândega de Lisboa recebeu açúcar do litoral do Nordeste. O capitão português Cristóvão Jacques havia estabelecido em Itamaracá um pequeno engenho… em 1530 destruído pelos franceses”. Segredos Internos – Stuart B. Schartz, pág 31
Na verdade os primeiros engenhos construídos com objetivo de competir, na Bahia, foram instalados na vigência das Capitanias. (Fig. acima –Capela e Sobrado – Engenho Santo Antonio do Rio Fundo – Terra Nova)
“Os primeiros engenhos na Bahia foram construídos na época de Francisco Pereira Coutinho, Donatário da Capitania, tudo levando a admitir haver sido o primeiro de propriedade de João Velosa que se fixara em Pirajá”. Recôncavo – Milton Santos pág.25
“Neste período Santo Amaro da Purificação implantava o seu primeiro Engenho, denominado engenho do Conde Linhares, em que presentemente ainda existem ruínas”. Recôncavo – Milton Santos pág.25.
CUNHADISMO
De acordo com Darcy Ribeiro no Livro Povo Brasileiro, o cunhadismo era um velho uso indígena de incorporar estranhos à sua comunidade. Consistia em lhes dar uma moça índia como esposa. Assim é que aceitando a moça, o estranho passava a ter nela sua temericó, e, em todos os seus parentes da geração dos pais, outros tantos pais ou sogros. O mesmo ocorria em sua própria geração, em que todos passavam a ser seus irmãos ou cunhados. Na geração inferior eram todos seus filhos ou genros. Nesse caso, esses termos consangüíneos ou de afinidade passavam a classificar todo grupo como pessoas transáveis ou incestuosas.
Foi o cunhadismo uma forma eficaz de recrutamento de mão de obra para o trabalho pesado. Portanto usado no regime de Feitorias, Capitanias Hereditárias e Governo Geral.
Darcy Ribeiro – A função do cunhadismo na sua nova inserção civilizatória foi fazer surgir à numerosa camada de gente mestiça que efetivamente ocupou o Brasil. Ë crível até que a colonização pudesse ser feita através do desenvolvimento dessa prática. (fig. Ao lado índia domesticada). pag. 81.
EDIFICAÇÕES
Poucas construções do século XVII chegaram até nós. Muitas edificações como engenhos, capelas casa-grande foram incendiadas pelos índios ou destruídas pelos holandeses.
Provavelmente os primeiros engenhos foram construídos com adobe, cobertura frágil pouco resistente á ação do tempo e vandalismo. Esterzilda B. de Azevedo no seu livro Arquitetura do Açúcar págs. 98, a 32 e 133 – “Pouco se sabe sobre a arquitetura dos engenhos do século XVI. São raros os documentos históricos e vestígios arqueológicos, e não se conhece icnografias que possibilitem uma visão precisa do conjunto ou de algumas das edificações do engenho nesse século.
Não obstante a profunda crise da economia açucareira no século XVII a arquitetura das casas-grandes e capelas deste período foi das mais ricas e exuberante do ciclo de açúcar”.
Como se desafiando o tempo estivesse, algumas edificações ou vestígios de engenhos casas, capelas permanecem até hoje.”Entre os remanescentes engenhos com casa, capela e fábrica restam apenas o Unhão em Salvador e o Freguesia, em Candeias. Sete deles mantêm casa e capela: Passagem dos Teixeira e Pindobas em Candeias;
Lagoa, em São Sebastião do Passe; Mata, em Mata de São João; Santo Antônio do Rio Fundo, em Terra Nova; Campinas em Cachoeira e São Roque, em Maragogipe. Outros dois: Cajaiba, São Francisco do Conde e Pimentel, em São Sebastião do Passé conservam casa e fábrica”.
FÁBRICAS DE AÇÚCAR
Usina Aliança
A industrialização de cana de açúcar, dos seus primórdios até hoje e passou por três tipos de fábricas: o engenho, o engenho central e a usina.
Engenho – Primeiro tipo de industria transformadora da cana de açúcar. Suas modificações decorreram da necessidade de produzir açúcar competitivo com o mercado. Assim o engenho foi de cilindro vertical, cilindro horizontal, movido a animais, movido a água, lenha ou bagaço de cana como combustível.
Eram classificados de À beira mar “tendiam a ser mais antigos, maiores e, de certa forma, mais aristocráticos, no sentido de que em fins do século XVIII as famílias mais ilustres da Bahia eram donas de uma proporção relativamente grande (35%)…. da mata ou de terra adentro eram em geral menores e não tão bem capitalizados, e arcavam com os custos de transporte mais elevados devido a sua localização. Podiam classificar-se segundo três tipos de propriedade: régia,corporativa ou privada”. – Segredos Internos pág.92 – Stuart Schwartz.
“Na Bahia como em outras partes do Brasil, alguns engenhos eram propriedade de ordens religiosas. Os Carmelitas possuíam o Engenho do Carmo, e um outro de nome Terra Nova em Passé… Os beneditinos … por volta de 1656 começaram a instalação de Engenho São Bento das Lajes.Entre 1720 e 1723, a ordem construiu um segundo engenho, São Caetano de Itaporocas, mais no interior, e um outro menor em Inhatá, no Rio Fundo, em princípios do século XIX. Os jesuítas eram os maiores senhores de engenho entre as ordens religiosas.
O Colégio jesuíta de Salvador construiu o primeiro engenho, Mamão, em Passé, por volta de 1601, também construíram um engenho em Camamu por volta de 1607… O Colégio de Lisboa acabou por adquirir o Engenho Sergipe, no Recôncavo, e o Engenho Santana , em Ilhéus, após longa batalha judicial no século XVII” – Segredos Internos pág 93.
Ainda do Livro Segredos Internos pág 93 – A grande maioria dos engenhos baianos era particulares…. A compra e venda de engenhos era constante e, como após 1663 eles passaram a ser propriedade legalmente indivisíveis, eram legados testamento de modo a manter sua unidade….. Do ponto de vista social, algumas linhagens de grandes proprietários acabaram por controlar um grande número de engenhos. O historiador F.W.º Morton estima que 92 dos 316 engenhos baianos em 1818 (29%) eram propriedade de vinte grandes famílias, entre elas os Góis,Calmon,Fiúza,Costa Pinto, Dória e Rocha Pitta. ..Os engenhos mudavam de mãos rapidamente; uma má colheita, a chegada tardia de uma frota, uma guerra européia podiam acarretar desastre.
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Número 03 – Edição 01 – Sítio Inhatá, 16 a 30 de setembro 2001