A LONGA VIAGEM; FOGO MORTO; TERRA NOVA PONTO ZERO
A LONGA VIAGEM
Primeiro de novembro de 1755, dia de Todos os Santos. A população de Lisboa se aprontava para viver mais um pacato dia de feriado, sem imaginar o mal que vinha da terra. Em poucas horas, um terremoto devastador,seguido de incêndio e maremoto, destruía a capital do império e, junto com ela, a célebre Real Biblioteca.
É a partir desse episódio que começa A longa viagem da biblioteca dos reis, que percorre eventos cruciais da história brasileira, sempre através dos livros. A narrativa acompanha a reconstrução do acervo da biblioteca nas mãos do marques de Pombal; os tempos incertos de d. Maria I; o angustiante momento da fuga da família real que atravessava o Atlântico pela primeira vez e as vicissitudes de sua nova vida nos trópicos, até chegar ao processo de independência brasileiro, quando se pagou, e muito, pela Real Biblioteca.
Os livros, porém, permitem mais: são símbolos de poder e de prestigio, carregam dons e possibilitam viajar no tempo e no espaço. Ao evadir-se de Portugal, d. João não se esqueceu dos livros que vieram em três viagens sucessivas – , assim como d. Pedro I não abriu mão das obras e do lustro que elas garantiam: nada como iniciar uma história autônoma com uma Biblioteca Nacional daquele porte para assegurar um passado e conferir erudição a um país recém-emancipado.
A longa viagem da biblioteca dos reis refaz muitas jornadas e mostra como, por intermédio de bibliotecários mal-humorados, obras selecionadas, pode-se contar uma história dessa mesma nação.”
Tanto a ilustração como o texto foi retirado do livro da escritora Leila Moriz Schwarcz A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis. O tema biblioteca é quase uma obsessão do Bangüê. E não pode ser diferente, pois as desvantagens de uma comunidade pobre, as desvantagens de uma criança resultante de uma família semi-analfabeta, sem cultura são grandes; se quer esta família tem condições de acompanhar as lições primarias. As famílias com um melhor poder aquisitivo, com melhor conhecimento, têm mais condições de acompanhar e incentivar seus filhos na educação escolar.
Não tendo essa ajuda em casa essa criançada precisa de um instrumento fora de casa, para tentar reduzir o desequilíbrio.
Os professores também precisam desse incentivo, para que não fiquem restritos às lições básicas. O mundo se renova numa velocidade espantosa e essas mudanças podem ser acompanhadas através de jornais, revistas, palestras.
Para se assenhorear de conhecimentos, não bastam as técnicas educacionais, treinamentos, que às vezes se tornam difíceis de repassá-los (tanto de instrutores para professores como destes para os alunos) por falta de atenção com as ocorrências dárias.
Às vezes vale lembra o jogo de gude do tempo de menino. E se dizia: é brincando ou á vera. À vera, o jogo era para valer para ganhar ou perder. Era jogo sério!
As profissões, ou profissionais, são também assim, para umas o jogo é brincando, para outras é à vera.
FOGO MORTO
O Bangüê continua procurando o período de existência das usinas. Em que ano deu-se a sua primeira moagem e, quando ela se tornou de ‘fogo morto’.
É importante se saber o período de vida de: São Bento do Inhatá, Santa Elisa, Paranaguá, São Carlos, Bonsucesso, Passagem, Pitanga, D. João, Cinco Rios, Malembá, Camurugipe.
Algumas datas, principalmente, de quando fechou uma ou outra estão na lembrança de quem trabalhou ou conviveu. Contamos, pois, com a memória dessas pessoas para nos ajudar na busca e quem sabe, tomando conhecimento do interesse desse jornal, repasse a informação.
TERRA NOVA PONTO ZERO
DECRETO DE 9 DE AGOSTO DE 1819”
Concede a faculdade para estabelecer-se uma Feira
No quarto dia de cada semana em terras do
Engenho de Aramaré da Capitania da Bahia
“Tendo-me representado o Marechal de Campo Graduado Luiz Paulino de Oliveira Pinto da França, que sendo reconhecido pela experiência que as causas que poderosamente, obstam a uma maior abundância na Cidade da Bahia, e à prosperidade do comércio interno com seus dilatos sertões da parte do norte, consistem na falta de trânsito cômodos, depósitos e mercados centrais, para onde possam concorrer os introdutores e compradores de boiadas, cavalaria e mais gêneros assim de consumo da Cidade e das Vilas do Recôncavo como os precisos para a lavoura das terras deste, por não se lhes oferecer outra direção mais do que a da Feira de Capuame, só cómoda aos sertões da Beira-Mar, e o mercado irregular de Sant’Ana dos Olhos d’Agua, cujas posições distam entre si mais de 10, 20 e 30 léguas, nem poderem ser conduzidos senão pela única estrada, denominada de Boiadas, que, dirigindo-se à Cidade com ramificações clandestinas e contrarias aos interesses fiscais, é impraticável nas estações invernosas e também nas secas, pela falta de pastos, do que resultam a infecção dos gados conduzidos de 200 e mais léguas, e a impossibilidade em que se acham os proprietários e lavradores de darem extracção aos seus géneros; todos estes inconvenientes comodamente se remedeiam, sendo conduzidos os géneros de consumo e comércio para o Porto de Vila de Santo Amaro da Purificação, 14 léguas acima da Cidade da Bahia, uma vez que estabeleça um ponto central para onde todos concorram de diversas partes; e que, possuindo ele no Termo da mesma Vila o seu Engenho denominado Aramaré, em uma situação central por onde atravessam duas estradas que se comunicam com os muitos ricos engenhos colocados ao norte, do nordeste e noroeste da referida Vila com grandes terras, mui extensos e abundantíssimo pastos e águas saudaveis, além das do Rio Pojuca, que o atravessa em vários sítios, tem propectado socorrer a causa pública, aínda, com algum sacrifício particular, oferecendo uma parte do mesmo engenho para nele se estabelecer uma Feira semanária fazendo á suas custa as primeiras acomodações, rancharias, currais e pastos fechados e abertos, com os ténues interesses propostos nos artigos juntos, me oferece, pedindo-me para este efeito a necessária licença e faculdade: ao que tendo consideração e as grandes vantagens que devem resultar de semelhante estabelecimento ao aumento e prosperidade do comércio interno daquela Capitania, e ao novo impulso que com o seu aumento deve consequentemente receber a agricultura, que muito desejo promover, como o primeiro manancial de riqueza: Hei por bem que no sobredito engenho Aramaré possa o suplicante estabelecer uma Feira no quarto dia de cada semana, segundo o plano, que com este abaixo-assinado por Tomás António de Vilanova Portugal, do meu Conselho, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino, que fará parte deste Decreto, como condições, a que se obriga o suplicante, para poder haver os benefícios pessoais que lhe podem provir, e nele se acham declarados. A Mesa do Desembargo do Paço o tenha assim entendido e faça executar com os despachos necessários.” – Cartas Baianas (1821-1824) Do escritor Antonio D’Oliveira Pinto de França
Palácio do Rio de Janeiro, 9 de Agosto de 1819
Com a rubrica de El-Rei Nosso Senhor.