A PONTE DE TERRA NOVA; MARCA BANGÜÊ; ÁGUA BOA
A PONTE DE TERRA NOVA
Nem nome tinha , nem mesmo um apelido.
Que se há de fazer? A maioria não tem!
Ponte de Ferro, Ponte de Trem, sua identidade.
Diferenciava-a da de madeira – Ponte dos Carros.
Ligava ao outro, um lado de Terra Nova
Que o rio Pojuca separava.
Nada restou, nem uma longarina,
Traço de união no tempo.
Se não fosse o golpe militar, Revolução 64,
Suprimindo, 25 de maio de 1964, o Trem de Santo Amaro, ela estaria lá, facilitando o vai e vem do povo
Pelos lastros laterais de madeira, pregados nos dormentes.
Se, quem sabe, em 1972, fechada não fosse a Usina, ela estaria de pé, imponente,
Servindo, ainda, de cenário para retrato e de travessas afirmações: passo ali de zóio fechado!
Se, em ainda assim sendo, se dois ou três terranovenses tivessem sentimento
De preservação histórica, o maçarico não
A teria transformado em ferro velho, sucata.
Ah! Se os políticos imaginassem a luta
De trazer longarinas, hastes, cabos
Além mar, parafusando tudo em
Perfeito equilíbrio, como se solta
Estivesse sobre o rio Pojuca
Se pensassem, teriam se antecipado ao golpe final
Requerendo a posse à diretoria da Rede Ferroviária,
Em Salvador ou no Rio de Janeiro.
E a Ponte Sem Nome não seria uma foto.
Já em 1878 os proprietários das terras,
Engenhos Terra Nova, Periperi e fazenda
Caraconha,criaram obstáculos para
A passagem da Linha.
“Parece-me que a desapropriação deve ser feita
no mais curto prazo possível, sem que grande atraso
terão as obras da estrada, pois trabalhos importantes
inclusive uma grande ponte temos ali de fazer…”
Uma enchente, dezembro de 1989,
abalou suas estruturas
Foi mero pretexto pra político
Criar traz mais retorno do que preservar.
E assim, era uma vez uma Ponte Sem Nome.
MARCA BANGÜÊ
Parabéns para o Bangüê; Parabéns para Você.
Começamos este ano de 2005 com novidades.
Coisa pouca mas importante, pois, independentemente do progresso no dia-dia no Espaço Bangüê, prova de que a equipe,mesmo pequena , está ligada no Projeto.
Pois é: Robério, Matheus e Dudu deram uma cara nova tanto ao jornal como ao site.
A mudança não é na substância e sim na apresentação. Mesmo sendo pequena, deve ser registrada, afinal de contas, sem data, não se faz história.
A novidade na folha do jornal está na marca Bangüê; o site modificou-se um pouco mais. Tudo isso objetivando ser mais atrativo para a consulta do conteúdo e aumentar publico.
ÁGUA BOA
História: narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos.
Memória: vestígio, qualquer sinal que faça recordar alguns fatos.
A história de muitos lugares que um dia participaram da indústria da cana pode começar com o parágrafo abaixo. Em alguns, como Água Boa, se encontram vestígios, mas não suficientes para a imaginação transformar em um lugar habitado por pessoas; vestígios inexistentes até para pessoas de cinquenta a sessenta anos que um dia estiveram na busca de um milagre nas águas da fonte da Rainha dos Anjos.
“O ciclo reverte-se. Muitos povoados desapareceram, mas ficou a memória de suas presenças nos restos do que foram matrizes, capelas, casa-grande, engenhos e usinas; nos sinais de pontes e pontilhões, lembrando a estrada e ramais ferroviários; na resistência das palmeiras imperiais e tamarineiros. Esses vestígios captados pelo Bangüê são parte da memória de Terra Nova”.
Na expectativa de que surjam mais informações, juntamos a essa foto dados captados pelo IPAC no caderno “Projeto Patrimônio Histórico” datado de maio de 1978, assinado, entre outros, pela escritora Esterzilda B. de Azevedo.
“ A antiga capela do engenho Água Boa, também conhecida por sua invocação, N. Senhora Rainha dos Anjos, está situada em meio ao canavial da Usina Paranaguá.
Não existe mais vestígio da casa-grande nem da fábrica. O nome do engenho de corre da existência, a cerca de um quilômetro, de uma fonte cuja água supostamente milagrosa jorra de um lajedo.[…] A capela, de relevante valor arquitetônico está abandonada. Apresenta nave única, galerias abertas para o exterior e telhado, com terminação do tipo beira seveira. A fachada possui uma porta de acesso,três janelas ao nível do coro e frontão ladeado por pináculos que coroam as pilastras da mesma.[…] A imagem N. Sra. Rainha dos Anjos foi levada para Usina Paranaguá”. Na capela foram enterradas pessoas de grande importância, como militares, cônegos, e condes, falecidos na metade até o fim do século XIX, cujos nomes e títulos constam nos dados do IPAC. Ainda estão lá em Água Boa o lajedo e a água que jorra, protegidos pelo bambuzal. Como no tempo dos engenhos, o Milagre de N.S Rainha continua a ser procurado pelas pessoas, que chegam em caravanas na busca de cura através de sua água. Não houve qualquer melhoria no acesso, e de carro, só no verão. Com chuva o massapê não dá passagem.
A única novidade de Água Boa é os Sem Terra. Estão lá assentados em lotes de 50 tarefas, com casa, igreja e centro comunitário. É sombrio a perspectiva de sucesso agrário em virtude da falta de água, e também a tradição agrícola, além da falta de maquinário. Mas não é essa a expectativa de quem vive de perto ou participa do projeto.
Piaba (Edilton), um jovem negro expedito, estudante noturno em Terra Nova, residente no Rio Fundo, vive a pé ou encarrapitado num cavalo pelas fazendas, lotes e povoado da região:
– No Onça tem lotes e as casas são próprias…Em Rainha dos Anjos, tem Casa de Farinha comunitária… produzem para o consumo e venda… Eles tocam os projetos contratando trabalhadores avulsos dispensando-os, quando vai ficando pouco o dinheiro…Plantam de tudo, banana, quiabo, mandioca, milho, feijão. Tem reunião sempre com o homen do Incra, tratam do andamento dos projetos, liberação de verbas Prestação de Contas.
Da conversa com Piaba participou a senhora Nalva, que trabalha em Terra Nova como doméstica e que tem parente beneficiado com um lote da Reforma Agrária.
É possível que com essa divisão da terra, o ciclo volte a reverter-se, com nova tendência, e se torne um novo começo para Água Boa. Mas, é indispensável que o Estado não fique só na divisão da terra, é importante o seu comprometimento na infra-estrutura.
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Número 45 – Edição 01 – Terra Nova janeiro 2005
Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sáb, 16 de Maio de 2009 13:11