ALDEAMENTO; EXPULSÃO DOS JESUÍTAS
Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sex, 01 de Março de 2002 13:30
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Número 11 – Edição 01 – Sítio Inhatá, 1 a 31 de março 2002
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ALDEAMENTO
Povoação de índios dirigida por missionários.
Batiam, matavam e se não tivessem provas de dois ou mais brancos, nada lhes acontecia. Este era o tratamento dado pelos colonos aos índios. Esta era uma das razões em que os jesuítas se apoiaram para requerer o Aldeamento.
“Para obviar situação tão deplorável, sugeriu Nóbrega o estabelecimento dos aldeamentos fixos. Nas Aldeias o índio estaria a cobro das injustiças dos brancos, e teria um regime de defesa, onde viveria uma vida social e cristã” Herbert Ewaldo Wetezel – Mem de Sá pag. 179
A primeira tentativa de Aldeamento pelos Jesuítas foi por volta de 1550, com a colaboração de Caramuru.O primeiro grupo liderado pelo padre Manoel da Nóbrega, chegou, em 1549, na comitiva do governador-geral Tomé de Souza.
CATEQUESE
A Companhia de Jesus em Portugal, teve alcance ultramarino. Um grupo se instalou nas Índias e Japão e outro, no Brasil, com a finalidade de pregar o cristianismo e converter gentios.
O aldeamento facilitava a catequese e a manutenção dos índios na fé, bem como a sua alfabetização. Os conflitos com os colonos, que viam os nativos apenas como uma força de trabalho, reforçava a necessidade de os padres morarem com eles e, também, de ajuntamento dos grupos.
O comportamento dos colonos foi prejudicial à conversão do gentio, dificultando o convívio com os brancos. A ordem vinda do Reino era para que os índios convertidos ao cristianismo, não convivessem com os não-convertidos e que morassem perto das capitanias e mantendo assim conversas constantes com os cristãos, permaneceriam na fé católica.
Só no governo de Mem de Sá as aldeias tiveram impulso.
O terceiro governador baixou três leis “sobre grave pena”, a conselho do padre Manoel da Nóbrega, objetivando estabilizar as aldeias:
“Primeira; que nenhum dos nossos confederados ousasse de ali por diante comer carne humana; segunda: que não fizesse guerra, senão por causa justa, aprovada por ele (governador) e pelos de seu conselho; terceira: que se juntassem em povoações grandes, em forma de república, levantassem nelas igrejas, a que acudissem os já cristãos a cumprir com as obrigações de seu estado, e os catecúmenos à doutrina e Fé; fazendo casas aos da Companhia para que residissem entre eles, a fim da instrução dos que quisessem converter-se”.Mem de Sá – Herbert E. Wetzel pág 181.
As tais guerras justas produziram um efeito contrário, expectável da lei, com perseguição e aprisionamento, sem distinção, de índios aldeados convertidos.
EXPULSÃO DOS JESUÍTAS
O patrimônio dos jesuítas acumulado através das doações (engenhos, fazendas, escravos africanos) sintetiza os privilégios que gozava a Companhia, origem de poder e inveja. Isso gerou conflitos junto aos colonos, funcionários da Coroa, outras nações e até mesmo, com o Clero, culminando com a expulsão em 1759 dos jesuítas e a fase de apoio ao índio.
O Abolicionista Joaquim Nabuco em Sumário XIII diz “Em outros paises, a propaganda da emancipação foi um movimento religioso, pregado do púlpito, sustentado com fervor pelas diferentes igrejas e comunhões religiosas. Entre nós, o movimento abolicionista nada deve infelizmente à igreja do Estado; pelo contrário, a posse de homens e mulheres pelos Conventos e por todo clero secular desmoralizou inteiramente o sentimento religioso de senhores e escravos. No sacerdote, estes não viam senão um homem que os podia comprar, e aqueles a última pessoa que se lembraria de acusá-los. A deserção pelo nosso clero do posto que o Evangelho lhe marcou foi o mais vergonhoso possível: ninguém o viu tomar a parte dos escravos, fazer uso da religião para suavizar-lhes o cativeiro, e para dizer a verdade moral aos senhores. Nenhum padre tentou nunca impedir um leilão de escravos, nem condenou o regime católico das senzalas. A Igreja Católica, apesar do seu imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação”.
Negros – Os cuidados dispensados pela Igreja aos negros foram completamente diferentes dos dados ao povo indígena. Na verdade, nunca houve posição da Igreja, nem das Companhias em favor dos escravos africanos no Brasil.
“A própria Igreja, tão ciosa na liberdade dos índios, tranqüilizava as consciências, justificando a escravidão do negro. Escravo, e somente escravo deveria ser o negro…”O Negro na Bahia, Luiz Viana Filho, pág. 94.
“O tráfico de escravos, esse ramo da atividade marítima … dissimulava em seus inícios sob ‘generosas’ preocupações religiosas e ‘humanitárias’. Ele levava o nome de resgate dos escravos, que implicava a noção de ‘salvação’ das almas pagãs que se traziam á fé católica…Ser-lhes-ia recomendado que nenhum escravo fosse embarcado sem ter sido batizado com cuidado vigilante, a fim de que nenhum entre eles morresse sem ter recebido o sacramento …” Noticias da Bahia, Pierre Verger, pág. 47 e 48.
Por conveniência, o importante para o colono era o corpo e não a alma. Não havia portanto conflito com a igreja, pois esta dispensava o negro até das missas obrigatórias, nos domingos, não prejudicando assim a produção do engenho.
INTEGRAÇÃO
Tanto o índio como o negro escravo lutaram pela liberdade. Entretanto, a liberdade desses dois povos significava a perda de mão de obra e de terra por parte do colono, fatores de produção predominantes na indústria do açúcar. Como o Estado nunca assumiu responsabilidade quanto ao destino social desses povos, arquitetando um projeto de educação e distribuição de terra que desaguasse naturalmente na integração, o resultado é o que vemos hoje nos índices sociais.
Em O Negro na Bahia de Luiz Viana, pág. 94 “Contrastando com o índio, que foi assimilado, morreu ou desertou para as matas, embora deixando vestígios da sua cultura, o negro sobreviveu. A sua escalada foi lenta, mas segura”.
Quando os negros escravos ou africanos buscaram a terra foram outra vez violentados.Toda vez que, através dos quilombos, tentaram refazer suas identidades foram acorrentados.
A escalada não foi lenta, a escalada é lenta ainda. O negro ainda não alcançou o topo da pirâmide. É como se fosse inalcançável.
É marcante a destinação que se processa nos órgãos de vendas de serviço ou mercadoria. Nos aeroportos, nas lojas, canais de televisão, propagandas comerciais, onde a imagem é fator importante, estereotipada no elemento branco, nesses locais a ‘caneta ‘ fica na mão do branco e a ‘vassoura ‘ na mão do negro.Essa é a imagem que o filho vê do pai e projeta para si.
Em países como a África do Sul, onde, por lei, 70 por cento da mão de obra é reservada para o negro, visando evitar a marginalização, constatou um visitante curioso do assunto, nos hotéis, que o número elevado de negros nas portas dos elevadores, em cada andar nos corredores, era em obediência à lei. Era a explicação do gerente.
Observou, também, que, nas casas noturnas, quem servia as mesas eram inglesas puro sangue. Entretanto, para que a relação da mão de obra branca/preto fosse respeitada, as garçonetes não tinham carteiras assinadas.
REFLEXÃO
Inimaginável o tamanho da Terra /
Se o referencial for o Universo
Nem usaremos pensar / É coisa do
outro mundo / assunto pra cientista.
Nos reservaremos a pensar preto e branco
Seria impossível medir, impensável /
Seria imensamente menor que o
átomo /Também que o núcleo
E nós aqui pensando em branco e
preto/ Medindo em preto e branco,
preto e branco
No dia em que despertarmos/ Que este
universo tão tão / Não comporta
uma Terra visível em branco e preto/
Divisível em preto e branco
Estaremos colorindo as cores /
Clareando as coisas
Superando a mesquinhez limitante /
Do valor preto e branco / Do aval
branco ou preto.
Não faz parte da reflexão, e mas é informação publicada na Istoé do dia 29 de abril, número 704, pagina 109: Foi descoberta a estrela xi Hya, cuja luz leva 130 anos até chegar á Terra. O menino que nascer agora, junto com a luz de xi Hya não estará vivo na chegada do faixo. Da família da criança encontrará, ainda menino, um tetraneto com uns dez anos