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ALMAS; FAZENDA ENGENHO VELHO – RIO POJUCA

Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sáb, 16 de Maio de 2009 09:14
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Número 15 Edição 01 – Sítio Inhatá, julho/agosto 2002
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ALMAS

01 - Igreja - Engenho  Sao MiguelResultante do trabalho de pesquisa realizado no Arquivo Público da Bahia, no Livro 609, Secção Colonial, descobrimos diversos dados interessantes, que têm levado o Bangüê a fazer visitas a locais citados, conversando sobre os assuntos, aprofundando as informações.
Trapiche das Almas foi um dos achados. É citado em capítulo sobre a Freguesia de Nossa Senhora do Socorro do Recôncavo quando se faz referência ao rio Cahipe .“ Está o dito rio navegável de todas as embarcações e terá de comprido 300 braças e vem do mar salgado. E junto ao dito rio tem povoações e vai circulando esta freguesia do Socorro em distância de três léguas ate chegar ao trapiche das Almas”. O canal está lá ao lado de uma haste cilíndrica para atracação das barcas e confirma a existência do pequeno porto; do trapiche, somente as ruínas, Do ramal ferroviário, uma parte compactada do pastos, onde o gado vive, lembra o leito da linha férrea.
Tudo aquilo que vimos: paredes, pilastras, alvenarias, canal fazia parte da história do Engenho S. Miguel, não tinha sinal dos canaviais, a não ser o massapê forte como sempre.
Da Usina Cinco Rios nenhum vestígio da sua passagem; o que tinha alí já existia bem antes dessa fábrica de açúcar.
Na memória de D. Josefa, mulher do administrador (Edvaldo) estava ainda viva o que encontrou, tanto da usina como do engenho, quando eles alí chegaram em 1979 na Fazenda Almas, Granja S. Miguel, apontando da casa da fazenda: “ lá em baixo, naquele bambuzal ficavam as casas dos trabalhadores da Usina Cinco Rios; os bambus foram plantados para atender uma fábrica em S. Amaro. Quando chegamos aqui não tinha mais linha de trem, as canas eram transportadas para a usina em caminhões; nossa primeira morada aqui foi numa das ultimas casas que tinham junto ao Trapiche (Apontava para o lado direito, para as ruínas do Trapiche). Quando viemos estavam ainda de pé o sobrado a igreja e o trapiche, todos sem o telhado. Agora só resta ruínas”.

As Asas Invisíveis de Padre Renzo -Viajava com D. Leonor e uma senhora que trabalha como ela. Nesse dia Matheus estava em Serrinha, Lena em S. Paulo, João Henrique, Noé e Ciça, no Rio. Estávamos indo para Amélia Rodrigues, Isa estava lá. Programava ainda uma passagem rápida por Terra Nova. Lá estavam D. Santinha e os mais.
D. Leó sabia disso tudo, e sobre isso poderia ter sido o assunto da viagem. Mas ela escolheu outro tema, passando a contar passagens de um livro escrito por Emiliano José. Por conhecer pessoalmente e até familiarmente alguns daqueles presos pela revolução de 1964,ouvindo-a, tinha-se a impressão de que o livro estava diante dos olhos.
Emiliano (jornalista, vereador, candidato a deputado estadual pelo PT), aproveitou o Diário do Padre Renzo e praticamente tornou-o um livro.
Dizia que Haroldo Lima foi o último preso politico a ser solto, os dois últimos foram o próprio Haroldo e o outro Theodomiro. Contou da decepção que a mãe de Theodomiro teve com Deus, quando ele foi condenado a morte.
E continuava ela a falar sobre os personagens, fatos, fatos em que ela mesma fora personagens, se não do livro mas, com certeza, da história.
Com mais ênfase contava as passagens em que aqueles comunistas insistiam a dizer ao Padre Renzo que não acreditavam em Deus e ele, o padre, pensava: “como é que eles podem não acreditar em Deus, se eles são o próprio, em nenhum momento pensam em si, até se esquecem de si tal a preocupação com o outro. Isso não é ser Deus? E as vezes confessava para um ou para outro: “vocês são muito mais cristãos do que eu que sou padre, nunca ouvi de nenhum de vocês uma frase de arrependimento”.
E no dia em que Theodomiro disse para o Padre Renzo: ” Padre, vou lhe contar um segredo, mas você não vai contar pra ninguém, e o padre sorriu por dentro, como é que ele pode me pedir isso se um padre não pode revelar um segredo de confissão”. Foi ai que ficou sabendo do plano fuga de Theodomiro.
Se a viagem já não era longa se tornou mais curta ainda com o relato de parte do livro: As Asas Invisíveis de Padre Renzo.

O Bangüê se encontrará com o rio Pojuca em todos os lugares em que ele combinou fazer encontros; em todos os lugarejos em que se tornou limite. Assim já foi feito com o Quicé, fazenda Engenho Velho. Estará também na sua nascente. A bússola será sempre o transcrito da Freguesia de São Pedro do Rio Fundo.
Quando visitamos a fazenda Engenho Velho, ficamos perto da barra que o rio Camorogipe lhe faz, que, por sinal, se chama Barra.
Lembramos dos informes do relatório da Freguesia: “Pojuca, que nasce nos dilatados campos da Vila da Cachoeira, Freguesia de S. José das Itapororocas, frente a capela de Santa Bárbara, em um Sítio chamado Campo Limpo de uma humilde vertente e vai fazer barra ao mar na freguesia

FAZENDA ENGENHO VELHO – RIO POJUCA

cp43siteApesar de não ser navegável tem suas enchentes; “Nenhum desses rios é nesta Freguesia navegávcl de barcas, lanchas e canoas, exceto o rio Pojuca e Camorogipe, que nos invernos chuvosos, em certas ocasiões de suas enchentes, impedem a passar e se necessita de canoa” Relatório do Arquivo Público Da Bahia, Guia da Secção Colonial pag. 90 a 93

Tem o Pojuca também seus pequenos afluentes, ao longo de seu percurso, alguns de tão pequeno precisam ser visitados para se saber que existe: “Camorogipe abundante de água que nasce no continente desta Freguesia no sitio chamado Estaleiro e entrega suas águas no rio Pojuca junto ao engenho Aramaré; Salgado que nasce no sítio chamado Picado e faz barra no rio Pojuca junto ao Engenho Velho.” O rio Mucuri também entrega suas águas no rio Pojuca, no lugarejo do município de Terra Nova, que lhe dá o nome.

A Tropa – A foto mostra uma tropa de burro, conduzida por dois vaqueiros, atravessando para o lado direito do rio Pojuca, retornando de Teodoro Sampaio para onde levou leite para industrializar. No inverno, rio com mais água, massapê pegajoso sulcos profundos e escorregadios, tornam a viagem mais difícil. Com base nesse local, Fazenda Engenho Velho , num raio de não mais de 30 quilômetros, há 300 anos passados prosperaram muitos engenhos, nestas terras da Freguesia de São Pedro do Rio Fundo. Por exemplo, os engenhos Aramaré, Terra Nova, Bom Jardim, Buraco, Brito, Inhatá do Patriarca de São Bento, Jacu , Engenho Velho, que deu seu nome a fazenda.
Uma reflexão na foto nos leva não só ao tempo dos engenhos, mas também das usinas, quando homens como aqueles,conduziram, nos caminhos dos engenhos da freguesia de Rio Fundo, tantas outras tropas de burro ( na tropa só este tipo de animal), tal aquela apenas substituindo os vasilhames por ganchos para a carga de cana.
Com destino aos Alambiques da região, tropas de burros também circularam, procedentes das usinas ou dos engenhos com sacos de couro cheios de mel cabaú.
Não esqueçamos que também rodaram alí os carros de boi, principal veículo no transporte de cana especialmente no período colonial quando predominaram os engenhos. No advento das usinas o transporte ferroviário, teve predominante participação no transporte da cana de açúcar.

Rio Camurujipe

Meu Pojuca! que saudade! Te lembras do último banho no teu leito, lá no Dendê? Também não me lembro. Era dos poucos lugares, na sua passagem por Terra Nova em que se tomava banho nu.
E das lavadeiras de fato de boi, que nos dias em que se matava boi, acendiam fogo, botavam o fato pra ferver dentro de latas de gás, isso lá na Ponte de Carro. A Ponte também não existe mais, pois quando eras um retado, todo ano quando chegavas em Terra Nova com todo volume do mundo, tiravas uma casquinha dela.O pessoal foi deixando, deixando, não ligando, e ela se foi.
A última vez que te vi bem arrojado, fizeste o que fizeste. A Ponte do Trem, (tirei até retrato) tiveram que substituí-la por outra de cimento, tal o estrago que tuas águas fizeram em uma das cabeceiras.
Companheiro, não sei o que está acontecendo, passas agora por lá todo cabisbaixo, moribundo, minguado, raquítico. Será por causa dos dejetos que a cidade cada dia te joga mais; ou dos ingazeiros e árvores outras substituídas por pastagens
Será culpa do teu amigo Camurugipe, que não te tem passado suas águas, nas bandas do Aramaré, no volume prometido? Ou a culpa é daqueles mais pequenos, o Ingazeiro e o Vermelho, que também atravessam a estrada 101? Tem pouco tempo que tirei retrato deles, para à vista dele conversarmos. Até daquele porcariazinha, que vem dos lados de São Bento, São Bento do Inhatá, o Mucuri eu fotografei tá magro mas sadio, vou dar uma passada também no distrito do Picado, quero conversar de perto com o Salgado.
Que tempo aquele, heim! São Caetano e Aramaré ficavam ilhados, pra vir para rua tinha que usar jangada, feita de toros de bananeira, lembras? Então por que este jeito de doente, de velho. Rio não envelhece, como pode, se a todo instante se renova?
Outro dia me contaram- pensei que era exagero- que subiste a poucos metros das tabuas da ponte de trem.Que beleza deve de ter sido!
O Bangüê é todo nosso, te esperamos.

Viraldo Ribeiro

Viraldo

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