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CAPELA DE SÃO MIGUEL

capela de sao miguel

Nem São Miguel agüentou.

Ninguém suporta pra sempre
Abandono, desprezo, falta de atenção.
Até que durou.
Coisa de santo, né!
Nem mesmo ele, tão forte,
Desapegado, paciente.
Nem mesmo para os santos
Dura pra sempre.
Lembranças dos acenos na Br 324,
Todas as vezes, naquele trecho
Entre a entrada de Terra Nova e Aliança
Indo ou voltando pra Salvador.
Atendidos num dia qualquer de abril,
No ano de 2002, possivelmente dia 23.
Desafiando as tiriricas, os penicos de cana,
Os perigos desconhecidos.
Aliás inexistentes: proteção de S. Miguel!
No meio do canavial, derrapando no massapê,
Buscando um ângulo melhor para fotografá-la,
Na esperança da Capela de São Miguel
Não se tornasse tão somente uma Foto.
A energia foi se esvaecendo, sumindo tal qual
O reboliço dos tempos coloniais
As festas de ontem, como disse Benedito,
Proprietário da Voz de Terra Nova:
Fiz muitas festas naquele lugar!
Parece até mentira que um dia
Ali morou gente, que comia, bebia, discutia,
Conversava, e que todos, sem exceção,
Cada uma tinha sua história.
Todos carregaram consigo
Histórias pra outros lugares.
Mas ela resistiu, graças a sua fé.
Só Miguel, o Santo, mantivera-a ali de pé.
Assistir missas celebradas pelo padre Moisés!
Disse a professora Vera Barbosa:
Saiamos daqui de Terra Nova
Com o Corinho de São Roque
E a Capela e São Miguel,
A Capela de São Miguel
Ficou como ruína pra contar a história.
Sozinha sufocada pelo canavial,
Se enterrando massapê a dentro
Sozinha, sem testemunha.
Vai se tornando paredes a cada aguaceiro
Somente paredes, lutando com a Natureza.
O Bangüê a colocou no projeto
Pedindo providências
Entregou em mãos ao Ministério competente.
Não faz tempo, o Chefe do município afiançou:
Nossa igreja será recuperada pro ano.
O que se vê de longe não agrada:
Sem cumeeira e sem torre.
Pensar que baldes, água, cal,
Coragem, boa vontade bastavam
Nossa igreja será recuperada
Será que vai dar tempo?
Será que seu Miguel aguarda?

Viraldo 21.11.2004
 

GANGA ZUMBA

Quilombo – vocábulo de origem banto – “fortaleza; acampamento”

“Ganga Zumba Primeiro líder conhecido do quilombo dos Palmares, possivelmente nasceu no mais famoso quilombo da história colonial. Foi o grande senhor dos palmarinos nos anos 1670 e, pelo pouco que se sabe da organização interna de Palmares, fora eleito por uma assembléia de líderes dos cerca de dez mocambos que compunham o grande quilombo. Ficou conhecido por firmar um ‘acordo de Recife’, em 1678, que buscou dar fim a guerra quilombola depois de mais de 70 anos.

O acordo foi possível depois da captura de parentes de Ganga Zumba na expedição comandada por Fernão Carrilho, em 1677-78. Dentre os prisioneiros, estavam os filhos, sobrinhos, netos e um irmão do ‘rei de Palmares’, Gona Zona. Ganga Zumba escapou por pouco, ferido na perna por uma flechada. Apesar da afirmação de Carrilho de que Palmares estava destruído, o governador Aires de Souza de Castro deu início à negociação, tendo como trunfo principal os reféns. Ofereceu garantia de liberdade, terras e direitos aos que se rendessem, além de ameaçá-los com novo ataque no caso de recusa. Em 18 de junho de 1678, uma embaixada palmarina, na qual se incluíam três filhos de Ganga Zumba, foi recebida pelo governador e, na presença do ex-governador Pedro Almeida, mentor do armistício, foi selado o acordo: liberdade para os nascidos em Palmares, concessão de terras em Cucaú para viverem e cultivarem, garantia de comércio com os vizinhos, além de foro de vassalos da Coroa para os palmarinos, ficando subentendido que os nascidos fora do quilombo seriam reescravizados. O acordo foi enviado a Ganga Zumba que, em novembro de 1678, foi pessoalmente selar a paz com as autoridades, levando numerosos séqüitos, sendo recebido pelo governador que, segundo cronistas, teria adotado dois filhos do ‘rei de Palmares’.

Ganga Zumba instalou-se em Cucaú, região de Serinhaém, ao norte de Alagoas, acompanhado de um grupo entre 300 e 1000 negros. O acordo gerou profundas dissidências entre os palmarinos, destacando-se a liderança de Zumbi, que assumiu o governo da resistência e minou o poder de Ganga Zumba, infiltrando seus partidários em Cucaú.

Descoberta a conspiração, os partidários de Zumbi precipitaram a ação, envenenaram Ganga Zumba e massacraram seus acólitos.

Ganga Zumba foi resgatado pela historiografia dos séculos XIX e XX como traidor da luta dos negros contra a escravidão no Brasil. No entanto acordos como o firmado pelo antigo ‘rei de Palmares’ foram comuns em todos os lugares da Afro-América, a exemplo do Caribe. Além disso, o acordo de 1678 significou um recuo do governo pernambucano diante de Palmares recebendo seus chefes no palácio e concedendo liberdade a alguns de seus lideres, reconheceu, ao menos em 1678, a impossibilidde de submeter o mais importante quilombo da história brasileira”. – Dicionário do Brasil Colonial (1508 – 1808).

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