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DE LAMPIÃO A LULA DA SILVA

Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sáb, 16 de Maio de 2009 09:42
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Número 21 Edição 01 – Sítio Inhatá, fevereiro 2003
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lampiaoO Sertão tem seus oásis, e o segundo pilar do trajeto é um deles – Garanhuns. Por ser uma cidade com um clima completamente diferente, no nordeste, temperatura média de 18 graus, que se inclui, Garanhuns no roteiro de Lampião a Lula da Silva. Sobre essas cidades maiores, cidades com mais de cem mil habitantes, nos guias e na internet, há bastante informações.

Para se chegar a Caruaru, partindo de Garanhuns, uma opção é através de Arcoverde. É uma oportunidade de conhecer Caetés. Caetés, ou mais precisamente a roça onde nasceu Lula – Várzea Comprida, é um registro histórico, que não se deve perder. Uma placa, antes de chegar na sede do município estampa; “Aqui entrada para o sítio onde nasceu LULA presidente do Brasil”. No espaço pintado e apagado lê-se ainda a palavra “futuro”. Lá se testemunha, não só com seus parentes, mas também com outros roceiros, o ambiente da infância do presidente do Brasil.

Vencida a primeira etapa de uma viagem no Sertão (em que foram escolhidos como pilares as cidades de Paulo Afonso, Garanhuns e Caruaru), do trecho ficaram para trás: P. Afonso, Delmiro Gouveia, Canindé de São Francisco, Piranhas, Angico (Poço Redondo) e Entremontes. Ficou uma gente que gerou e não esqueceu os heróis Delmiro e Lampião. Esses nomes permanecerão vivos, pois suas histórias são passadas de boca a boca. A viagem continuará como prevista, podendo, porém, buscar atalhos por locais que registrem fatos marcantes por isso vale conhecer São José da Tapera. Há pouco tempo, com reportagem em revista, era o lugar mais atrasado do Brasil. Perdeu o título para qualquer outro, por ter atendido esse ou aquele item componente do índice da avaliação. Um pouco mais para o direita ou para a esquerda, por essa ou aquela cidade, o cenário e os personagens não são muito diferentes; o mesmo confronto: o ter e o não-ter. Com certeza, quem dedicar mais tempo a qualquer cidadezinha, (daquelas em que se passa e nem se olha para trás), encontrará algum personagem dessa história, que se refaz diariamente no sertão, com a mesma paixão e orgulho pelo seu chão, como os que ficaram para trás: Francisco, de Paulo Afonso; Emanuel, Célia, Simone, Dona Cléo de Piranhas; Jairo de Poço Redondo (Angico); as rendeiras (D. Maria) de Entremontes, Carlinhos (Piranhas) do restaurante da beira do rio. Na verdade quem passa por esses lugares e conhece essas pessoas, não as deixa para trás. Eles seguem com os visitantes, dentro das suas lembranças.

O Sertão não é só secura, terra rachada; não é só o insistente verde do umbuzeiro, do juazeiro, da palma: não é somente a resistência do bode, do carneiro ( de cabeça baixa com o focinho rente ao chão. De longe mais parece que estão plantando do que colhendo). A natureza está mostrando que não é preciso ir-se embora; basta o homem compreendê-la e compreender-se, que a vida ali também pode ser alegre. Os sinais já estão há muito tempo: a energia solar, o recolhimento das águas de chuva dos telhados através de bicas para depósitos, o plantio da palma. Por que essas políticas simples não são adotadas é que não se entende. Parece que contrariam outros coronéis, que Lampião tanto combateu e que se assemelham aos ingleses, que Delmiro desafiou. Mas resta a Esperança, e Esperança nunca acaba.

Noite qualquer

Dezembro

Num dia qualquer

Pelourinho.

Numa hora encontro

Dia e Noite.

Uma janela colorida

Se abre

Descortina

Face da Bahia.

DE LAMPIÃO A LULA DA SILVA

lampiao2Depois de noventa e um quilômetros de Garanhuns a Arcoverde e mais outros noventa, chega-se em Caruaru. Até procurar um hotel e arriar as malas. De preferência um pouco fora do Centro.

Relaxado da viagem, programe visita à famosa Feira de Caruaru, ao Alto do Moura e ao Museu do Forró.

A feira fica aberta durante o dia. De domingo a domingo funciona o mercado permanente de artesanato, onde se encontra de tudo, moldado de madeira e pano, linhas e couro. Corresponde à louvação do Rei do Baião.

Nos dias de domingo e segunda, é armado o mercado de frutas, carnes, caças.

No Museu do Forró, está à disposição dos visitantes a história de Luiz Gonzaga: seus parceiros amigos e parentes; vestimentas; histórias de musicas; sua saída de Exu para o Rio de Janeiro. No museu também está,à disposição, a história da artista Elba Ramalho. O mestre Vitalino também tem sua obra, como escultor de barro, disponível numa sala para visitação.

O Alto do Moura fica num lugarejo, espécie de um bairro de Caruaru. Lá está localizado um dos mais, e talvez o mais importante centro de artesanato de barro do país. São muitos mestres nessa arte no Alto do Moura. Destaca-se o mestre Vitalino, que deixou na comunidade não só seus filhos como seguidores, mas também uma gama de diversos oficiais, homens e mulheres, que fazem questão de apontar quem foi o seu mestre ou inspirador.

Terá excelente proveito quem seguir esse roteiro. Muitos outros existem que resultarão também em oportunidade para solidarizar-se e compreender a vida da comunidade sertaneja, seus algozes e heróis. Oportunidade de ver as alternativas que a natureza, mesmo com predominância de adversidade, oferece, ao sertanejo para a convivência pacifica com ela. Basta que o espelho desse homem reflita a imagem do outro.

Se a viagem for longa, se o cansaço se manifesta e antes que haja conflito no grupo, planeja-se a volta. Parta de Caruaru com pernoite previsto em Penado. O Velho Chico está lá esperando para que veja o fim de sua viagem para o mar. Ele escolheu o adeus em um lugarzinho chamado Piaçabuçu. Foi dai que os ingleses navegaram até Piranhas para alcançar de trem Pedras, para destruírem a Agro-Fabril Mercantil de Delmiro Gouveia.

Se o retorno meio apressado impediu de curtir Penedo, prepare as malas para o mais breve retorno. Penedo merece, e os visitantes também. Foi das primeiras vilas fundadas no Brasil nos seus primeiros 30 anos. As suas igrejas não chegam a 365, mas são muitas; suas casas coloniais, estão assentadas na parte mais alta da cidade.

Salvador foi a primeira cidade 1549; São Vicente a primeira vila 1532 e Penedo a segunda, em 1535.
Atravessando de Penedo numa Bolsa (comporta veículos), na outra margem, estão Neópolis e Santana de São Francisco, em Sergipe. Como não altera o tempo do retorno, vele passar pelas duas cidades sergipanas,que estão situadas em lados opostos. Esse é um dos vários roteiros, que se pode fazer em oito dias, sem se tornar a viagem cansativa, para conhecer o sertão, suas dificuldades, suas atrações, seus personagens.
Resta, chegando em casa, dividir os presentes; revelados os filmes, arrumar as fotos. É oportuno um pequeno relato da viagem, tornando-o um documento histórico.

Cotas

O quinhão, (parte de um todo que cabe a cada um dos indivíduos pelos quais se divide) que está sendo proposto para os negros, na universidade, está incomodando aos não-afros. A medida é muito boa, pois a exclusão dos negros, no processo de desenvolvimento do Brasil, é evidenciada não só pelas estatísticas, mas também pelas constatações diárias.

A exclusão é um problema do negro. Com a política de cotas e a reação dos não excluídos, passa a ser um problema da nação, por isso é boa, pois, de uma forma ou de outra a solução para ele virá. Não cabe esperar os resultados vindos da melhoria da educação pública. Desde de 1830 (Verger Notícias da Bahia pág. 51), com a lei que tentou extinguir o tráfico, a reação é semelhante, com as mais diversas justificativas.

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