Dona Preta – Zélia Cruz Leão

Assunto Zé do Carmo – Pai de Santo

Data: 30 de Junho de 2005.

Viemos aqui na casa de dona Zélia, que nos conhecemos como Dona Preta, para conversarmos um pouco sobre Zé do Carmo, o nosso Pai de Santo.

Viraldo – Então Dona Preta, eu gostaria senhora desse seu nome, desse sua identidade.

Dona Preta – Meu nome é Zélia da Cruz de Leão, mais conhecida por Pretinha; meu marido chamava-se Francisco Mendes de Leão, apelidado de Chiquinho Fogueteiro. Meus filhos. Eu tenho seis filhos, dois homens e quatro mulheres. A primeira chama-se Iracy, o segundo Roque da Cruz Leão, hoje em dia é o prefeito da cidade; tenho uma filha que chama Maria Helena, outro que se chama Wellington, conhecido por Lito e tenho Neuza também que não se encontra aqui na cidade, tenho Adriana que mora aqui comigo.

– A senhora nasceu aqui em Terra Nova?

– Nasci em Teodoro Sampaio em 1936.

– Agora o seguinte: em nossa caminhada, nessa busca sobre o passado de Zé do Carmo, eu soube que a senhora teria sido tratada por ele, me diga, conte ai sobre essa história, por favor.

– Meu problema foi causado por uma tesoura, caiu no meu pé, ficou três dias que eu não tive mais perna para andar e também não dormia, não comia, fiquei totalmente inválida. Então um colega de meu marido, Chiquinho, foi e disse: Chiquinho por que você não procura Seu Zé do Carmo que entendido nesse negócio de espiritismo. Ai ele retornou até lá foi fez uma consulta com ele, ele disse: sua esposa está com um problema diabólico e eu posso curar ela. Sinto do meu espirito aqui ele tá dizendo que ela tem que vir aqui pra minha casa, aí eu posso fazer qualquer coisa por ela, mas pra ela vir você tem que levar esse remédio pisar que foi uma erva de passarinho que se tira no mato pisar e dá a ela o sumo com mel. Ela vai vomitar um pedaço da ponta da tesoura. Se ela vomitar ela vai ser salva. Se ela não vomitar, tudo bem porque ela já tomou o remédio antes mais vai dar mais trabalho.

– Sim, me diga uma coisa: ele disse que era para tomar o chá de erva de passarinho e a senhora ia vomitar um pedaço, da ponta da tesoura.

– É a tesoura que caiu no meu pé.

– A tesoura caiu no seu pé. Não foi um pedaço engolido.

Não, não ele bateu no meu pé e como se fosse um problema diabólico mesmo. Ela bateu no pé só fez ferir, não cortou não furou, Não saiu sangue nem nada, só fez tirar uma pelezinha e não quebrou a ponta da tesoura, mas eu voltei e ele levou pra mostra a várias pessoas.

– A recomendação foi tomar o chá para vomitar.

– Tomar o chá vomitar aquilo por que o mal estava dentro de mim, e eu vomitei mesmo ai vomitei a ponta da tesoura, um pedaço de ferro preto como carvão. Pedaçozinho, perfeitozinho como se fosse uma ponta de tesoura. Ele botou dentro do álcool e levou, mostrando a várias pessoas de minha família. Eu mesmo vi na hora que eu vomitei. Ele botou uma bacia com agua para puder ter a visão daquilo o que era né. Aí eu vomitei e melhorou, levantei da cama, levantei da cama, me levaram para o banheiro me deram banho para eu ir para a casa dele.

– Você não caminhava?

– Não caminhava. Eu fui levada num banguê, assim, fizeram, improvisaram um banguê assim de pau com dois paus e me botaram deitada pra puder eu ir até lá, porque não ia carro no local.

– Mas dona Preta, e Chiquinho fazendo essa consulta a Zé do Carmo ele teria procurado médico, enfermeiro, alguma coisa?

– Não, ele procurou vários médicos procurou enfim ainda fui internada. Era para cortar a perna, amputar a perna, mas ele disse não. Mas se é para procurar uma pessoa assim entendida de espirito eu vou procurar antes de isso acontecer de cortar a perna. Aí ele foi procurar seu Zé do Carmo, foi que ele deu toda a solução, que eu não precisava amputar minha perna, que o que era, era força espiritual, que ele me trouxesse, fizesse isso que ele ia se der bem. Ele fez o chá me deu e eu me dei bem. Levei oito meses na casa dele fui sem andar, fui levada pela mão dos outros e voltei com meus pés, minha perna bastante inchada, preta como carvão, cheia de tumores, assim criava aqueles tumores pé, com que ia saindo, o pé inteiro, meu pé, mas por Deus e por ele o espirito de guia dele me curou.

– E o que é que ele fazia lá no?

– Ele orava, ele ia pra o quartinho dele, ele fazia as orações dele, fazia os pedidos e retornava a dona Flor, para dona Flor fazer os banhos pares me dar. E dona Flor ia no mato tirava nos horários certos tirava as folhas do mato, uma folha chamada.., um pau chamado cana de macaco pra me dar banho e banhar minha perna pra puder desinchar, pra puder não sair aqueles pedaços que saia, que saia parecendo que ia sair o pé inteiro, aquela chapa do pé. Durante oito meses eu fiquei em casa dele, me tratando, ele e a esposa dele cuidando de mim. E também não me exigiu nada, nem pagamento, nem nada, não me exigiu. De mim, ele disse queria só amor e amizade. Olhe o que eu fiz por você, é como se fizesse para minha família, fiz por amor, por carinho, atenção. Quando eu perguntei a ele que sair da casa dele andando e acompanhamento de santo que eu fiz, dos orixás dele, aí eu perguntei a ele quando sair pra ele me dizer quanto custava o tratamento e ele me disse que não era nada, não me cobrou um centavo.

– Então eu queria saber dona Preta essa questão que a você puxou aí sobre o acompanhamento dos Santos.

– Eram os orixás dele que ele recebia, mas a gente não sabe que é um momento que apanha a gente que a gente não vê como se fosse uma coisa assim que toma e a gente não sabe como.

– Então a senhora tem mediunidade.

– Ele me dizia que eu era médium, e se eu cuidasse eu ia ter a mesma força que ele tinha que eu ia ter, por que tudo indicava que o que ele via é que eu tinha uma força espiritual, mas não poderia ver assim como ele queria, pois tinha que entrar em tratamento e fazer os trabalhos que merecia que precisava para puder aquela entidade me pegar. Entendeu? E eu não segui, eu não segui, deixei tudo em vão não fiz o que ele me indicou que fizesse; que eu ia ser uma médium, que ia cuidar de todas outras pessoas como ele estava cuidando e que.

Eu tinha um espirito de mediunidade muito boa e que eu era quase idêntico ao dele, entendeu, mas eu não segui, precisa muito cuidado, muita atenção, pra fazer os trabalhos certinhos, pra poder então eu fazer uma reunião toda sexta feira em minha casa, como ele fazia lá. Não precisava ter muitas pessoas, que procurasse umas cinco pessoas e fizesse aquele trabalho dentro de minha casa: um copo de água, um ramo de flores, mesmo que fosse com a minha família, e não fiz, eu não fiz.

– Depois de curada você passou a frequentar a casa de Zé do Carmo, pra frequentar as festas ou coisa assim…

– Não, não. Eu conversava com o filho dele, procurava saber dele, dona Flor vinha em minha casa saber e tudo saber de mim como eu ia, mas eu não continuei indo lá.

– Quem era o filho dele?

– Eduardo, Eduardo.

– Ouviu dona Preta a gente tem feito algumas perguntas a respeito do inicio de Zé do Carmo, do iniciado dele no candomblé. Nós sabemos que ele já foi bastante adultos, já bastante maduro e ele disse que ficou oito dias debaixo d’água. Você já ouviu falar sobre isso, alguma explicação sobre isso?

– Quando eu cheguei a casa dele… Vários dias ele me explicou isso que ele no como ele chegou a pegar o espirito dele. Ele teve essa versão mesmo: que ele sofreu isso ele foi passar num riacho, não sei, foi rio, e que ele ficou lá dentre e quando ele voltou das águas ele veio tomado por esse espirito. E que daí por diante não sei se ele já era casado, não sei, por que quando eu cheguei lá na casa dele, ele já era feito mesmo, já era uma pessoa que já tomava o espírito dele há muito tempo, eu não sei explicar de que época se foi novo ou depois de adulto, não sei. Mas que era uma pessoa bem sucedida no trabalho dele ela era.

– Uma curiosidade também, eu não sei se já aconteceu aqui em Terra Nova, é o seguinte; teve uma.

Determinada casa aqui, que começou a aparecer pessoas jogando pedras em cima do telhado e que ele teria ido lá e feito um trabalho e tirou isso. A senhora soube alguma coisa sobre isso?

– Não esse detalhe eu não sei. Não sei por que não foi na minha época que frequentava a casa dele, eu não sei.

– Então dona Preta, eu fiquei feliz, a gente vem pensa que vai encontrar uma pessoa que não conhecia e eu me lembro de muito bem dessa pessoa, então eu queria que a senhora finalizasse essa conversa que tivemos aqui sobre Zé do Carmo, dizendo alguma coisa e com certeza voltaremos a conversar sobre isso.

– Eu o conheci uma pessoa já bem adulta, mas uma pessoa maravilhosa, uma pessoa caridosa, uma pessoa que não tinha nenhuma vaidade com ele, andava de lá do Caípe até Terra Nova, não tinha assim certos complexo de vaidade.

Transcrito dia 23/06/2021 diretamente da agenda de 2005

29 de Junho 2005 – (30/06) – Dando sequência à busca de Zé do Carmo (pai de santo)

  • Casa de Jorge um determinado momento tratar de Zé do Carmo na doença;

Rosendo e Zé do Carmo (suas entidades) Rosendo para Zé porque só depois de adulto você passou a ser pai de santo

  • Conversamos hoje (30/06) com dona Preta mulher de Chiquinho, mãe de Roque Leão (prefeito de Terra Nova). A conversa foi gravada anotamos dados não gravados

– ela quando menina 12 anos trabalhava na “Casa” de Rosendo em Bom Jardim.

Rosendo [pai de santo] dizia que ela tinha mediunidade, mais só com 18 anos ela poderia atuar.

– ela dizia que nos dias que não ia à sessão, em casa sentia coisas diferentes não seguiu o conselho devido ao “acidente” do casamento com 16 anos.

– com 23 anos já com filhos um dia de sexta feira quando costurava pano para fazer camisas “vendia” a tesoura caiu e pegou no seu pé, nem feriu.

– na feira, sábado em Bom Jardim, o pé começou a doer e voltou para Terra Nova fazendo o metro de apoio.

– saltou do trem no ponto Ceen com muitas dores.

– na farmácia de Vavá que lhe aplicou um antitetânico. Desmaiou, logo que voltou a si seguiu para casa (Caraconha) no caminho, na feira se sentiu mal onde se sentou para descansar finado Martins [chefe de trem] deu banhos de folha.

– Foi para o hospital Ernesto Simões que queriam cortar o seu pé. Ela pediu ao marido para não consentir e que queria volta para Terra Nova ele assinou um documento se responsabilizando para a saída dela do Hospital

– em Terra Nova foi aconselhado a leva-la a Zé do Carmo (segue o resultado na fita de gravação).

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