Dona Santinha
Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Seg, 02 de Novembro de 2009 12:48
Tenho oitenta e oito anos.
-Oitenta e oito!
Sim, oitenta e oito. Quem nasce em quinze quantos anos tem?!
Fui a caçula de quatro irmãos, dois homens e duas mulheres.
Menininha era antes de mim, morreu de parto.
Firmino era o mais velho, o outro era Neco.
Todos já morreram.
– Fale da morte, de parto de Menininha
Ficou com dores por três dias. Por causa da ignorância do tempo, morreu.
Ela casou com Manoel Vicente.
Era o primeiro filho dela.
Quando eu tinha três anos Pepê deixou Fulô.
– Foi por causa da história da mulher de Alagoinhas?
Florentino Ribeiro da Conceição era o nome de Fulô.
Maria de São Pedro Lourenço era o nome de Pepê.
Ela era aloirada de olhos azuis e ele era preto.
Firmino foi criado pelo meu avô Romão
– Deve ter sido quando Pepê ficou sem marido
Não sei se antes ou depois
Fulô tinha outra filha de nome Engraça, a mãe também era aloirada.
O cabelo de Pepê vinha aqui na cintura.
Pepê e Fulô eram de Santo Amaro, lá dos lados de Acupe
Fulô roubou Pepê de seu irmão e veio para Terra Nova.
– Como era o nome do irmão de Fulô?
Não me lembro.
Quando Pepê veio para Terra Nova já tinha morrido todo mundo, pai e mãe.
Seu pai ou seu irmão chamava Inácio e a irmã chamava Júlia.
Quem sabia dessas coisas era Neco.
Deixou em Acupe os filhos Rozendo, João e Mocinha.
Ela falava muito de Mocinha com a gente.
Acho que Rozendo já morou em Terra Nova.
A mulher dele chamava Preta
Preta era uma morena muito bonita.
Pepê tinha um irmão (ou primo?) que vinha de Acupe para vender aqui na feira.
Vendia azeite de dendê, licurí (na casca).
Ele vinha montado num boi, todo mundo ficava espiando.
Aqui não fazia boi de montada.
A gente gostava quando ele vinha, pois a gente quebrava coquinho.
Pepê voltava sempre a Acupe, era sempre na quaresma.
Ela trazia azeite, peixe (xangó).
Gostava de pescar de noite.
– Talvez um hábito do mar?
Talvez
Vivia de roça, carregar água do Caípe, lavar roupa e vender fato.
– É Dona Santinha, oitenta e oito anos; vinte e oito de dezembro
De mil novecentos e quinze. Depois continuamos.
Tá.
Terra nova, entre janeiro e abril de 2003
viraldo