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ESCRITÓRIO DA USINA DE TERRA NOVA; DEVER DE CASA; CARRO DE BOI

Número 23 Edição 01 – Sítio Inhatá, abril 2003
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ESCRITÓRIO DA USINA DE TERRA NOVA

escritorioÉ de tremer nas bases quando um trator, naquele seu jeito desbravador, começa a passar por perto de um monumento, de uma lembrança da história, mesmo sabendo-se que está sendo preparado o terreno para se edificar alguma coisa útil, um empreendimento de benefício para a população, algo até mesmo para substituir aquilo que se tornou obsoleto.
Deve ter sido assim para alguns, quando aquele trator entendeu em passar ‘riscando’ pelo Bueiro de Terra Nova. Era para um grande empreendimento, era o serviço de terraplenagem, para a instalação de duas fábricas e uma escola. Mas o Bueiro também é uma escola, e não podia sair.O Bueiro traz lembrança da botada, do esquente, dos catingueiros, do trem de Santo Amaro, que chegou em 1883 para atender os engenhos e fechou em 1964 para atender a Revolução.

O Bueiro que foi o terceiro da Usina Terra Nova, desde a sua instalação em 1898. Bueiro que lembra o carro de boi, o burro de cana e mel cabaú, o carreiro e o chamador de boi.
Bem que o Portão da Usina também poderia ter ficado, simbolizando a entrada dos carros de boi e dos burros de cana, para pesar suas cargas logo depois na balança. Com certeza faria um contraste bonito com o novo e seria uma página para todos.
O Chalé foi muito bem aproveitado, é hoje a sede da prefeitura (poderia ter uma outra cor), mas precisa ser mais arborizado (fica bem entre árvores) e ter o seu jardim como era nos tempos da usina quando era cuidado por Seu Caetano.
Como o Chalé e o Bueiro, espera-se o mesmo cuidado com o”Escritório da Usina”. Pode muito bem se tornar uma biblioteca, um centro cultural. Aí com certeza, seria colocado um pequeno acervo das professoras Meríta e Alice, D. Lulu, peças de D. Eliza do Mingau (panelas, fogão formas, colher de pau, ralo de coco, urupemba) que se encontram guardadas em sua casa, na rua da Cabeça da Ponte ou rua da Bomba.

A rua do Caípe merece um capitulo à parte. Tem muita gente para ajudar a resgatar e criar e fazer dali um espaço para quermesse, queima de palhinha, samba de roda etc.
A Rua da Quinta-Feira basta conservar o nome e criar algo que chame a atenção de que ali começou Terra Nova.
Se quiser mais é só fazer uma limpeza no Trapiche, e ficará como símbolo da rua de Otávio Nunes (um dos primeiros Presidentes do Sindicato), Godó,Tenda de Duque, Venda de Zé Rozendo, Tenda de Mané Seleiro,Vadu, Jaime de Dedinha, Sinhá Martinha, Dona Cudu.
Pois é, Terra Nova é realmente nova, mas também tem o que mostrar do passado.

Vinte e sete
Festa no Cosme Velho, 639/
Uma alegria só/
Verdade, verdade, o ouriço começou
Bem antes do dia 27/

Gente do Rio, S. Paulo, Bahia/
Mês de abril/
Rio de Janeiro nunca viu
Tanto feriado junto/
Dia 27 só não foi porque já era/

O porto tava todo enfeitado/
Bandeiras pra todo lado/
Bolas pipocavam antes da festa/

Dia 27 hora marcada A Barca aportou/
Sua roupa comprada sei lá em que porto
Destacava-se/
Desemcabulado nem parecia
Marinheiro de primeira viagem/

E antes do ‘Parabéns pra você’/
Noé apresentou toda sua marujada/

Josué, Aurora,Tom, Alice, José, Davi,
Lia, Mina, João Pedro, Miguel,
Sebastião, Ludmila, Fernanda
Cristóvão, Pablo,
Lucas.

A algazarra impediu Bangüê
Ouvir outros nomes.

DEVER DE CASA

ddcasaEntre o executivo de um município e sua população, existe um espaço muito grande onde se pode trabalhar.

Enquanto os políticos trabalham para a comunidade, visando à manutenção do poder, as entidades organizadas podem atuar objetivando despertar no indivíduo a cidadania, seus direitos.
Sendo o PT um partido sério com propósitos definidos, suas bases no interior deveriam sempre estar acompanhando o que se passa no país, o comportamento do partido frente aos fatos, sempre prontos para esclarecer o povo, promovendo palestras sobre os mais variados assuntos (saúde, educação, política, verbas etc).
Dentro do município, estariam acompanhando a aplicação das verbas, fazendo- se presentes nas reuniões da Câmara de Vereadores, estariam se capacitando para corresponder com competência, quando fossem escolhidos para funções legislativas ou executivas. .
Terra Nova , por exemplo, que deu uma votação de quase 90 % a Lula – e não elegeu um só vereador do PT – deveria despertar para uma nova postura. Não ficar só nas eleições, no embalo dos eleitores, na grande festa.

É a oportunidade de o partido escolher dentro (ou fora) do grupo elementos para acompanhar os temas por ministério, trazendo para discutir com os companheiros, para que todos formem opinião e passem para o povo através de palestras, auto-falantes, bate papos etc. Educando e educando-se politicamente.
O governo Lula é muito enfático quanto às questões sociais e tem mostrado a necessidade de formação de conselhos locais para acompanhar projetos que venham a ser implantados. Existe na agenda do Ministério da Cultura projeto para instalação de Centros Culturais em todos os municípios. O Ministério da Cidade está aí com projetos para implementar.
É hora do núcleo do PT de Terra Nova aproveitar o momento para efetuar um trabalho nesse universo formidável de eleitores que sufragaram Lula, ocupando espaços. Falta, por exemplo, espaço para leitura e o que se ler.

É preciso se criar um fluxo normal de jornais, para se habituar a ler jornal; criar eventos esportivos, resgatar eventos populares
Na capital, em uma biblioteca, uma criança dizia diante de um recorte de jornal: “Não é esse não, o trabalho é sobre ecologia e aqui só fala de óleo”. As crianças terranovenses, com certeza, reagiriam dessa mesma forma. Para se gostar de ler, é preciso saber ler; para ensinar,é preciso gostar, saber.
É preciso fazer o Dever de Casa.

CARRO DE BOI
cboi2De um tempo em que era um acidente o fogo na cana; de quando se gritava, o palheiro tá pegando fogo! (De noite se via o clarão solto no ar, e de manhã as cinzas dentro de casa). Naquele tempo (forma de mostrar intimidade com o passado), naquele tempo, afora os burros de cana, somente ele, o carro de boi vencia o massapê ‘canaviá’ adentro.

Vencido pelo progresso, colocado fora de moda, o carro de boi, pra quem teve e tem ouvido de música, escutava poesia no chiado das suas rodas, no hien! hien! hien! constante, lamentoso como se choramingasse do peso da carga que levava para o “caminho sem fim” na Usina. Outros, ou mesmo os mesmos, conseguiam enxergar o que só poucos viam. Viam beleza no carreiro tangendo sua “junta de boi”, gritando seu ajudante; no chamador ferroando e gritando “Andorinha!”, “êta boi preguiçoso danado, vombora bicho que só demos três viage.”
Quem não se acostumava era a meninada, sempre apostos olhando a passagem. Outros pegavam uma ponga, pendurado atrás do carro, retornando vazio.
O lamento monótono do atrito do eixo com a roda, o cenário do chamador de boi caminhando ligeiro na frente da dupla de bois da dianteira (normalmente os mais ariscos e novos), com a vara no ombro, ferrão na ponta; o carreiro, acompanhando do lado do carro, às vezes atendia um menino, que correndo atrás do carro dizia :Seu Zé Bispo, ô carreiro, jogue uma cana! Quem tinha olhos de ouvir e ouvidos de ver era capaz de tirar daquele cenário páginas e mais páginas de contos, criar histórias e mais muitas daquela beleza que, no agora, o tempo disfarçado de saudade teima em remontar.
Não tem mais olho de cana, o palheiro não queima por acidente. Não tem mais carro, carreiro, boi e chamador, nem menino dizendo … jogue uma cana Seu Zé Bispo; até mesmo o portão da usina se foi.
Aqui e acolá uma marca, ou outra, prá não perder o caminho interminável da vida, mostra a passagem da oficina de fazer açúcar, indústria primeira desse Brasil de cinco séculos.

Viraldo Ribeiro

Viraldo

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