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LIBERDADE; HISTÓRIA; TRABALHO; ONDE IREMOS PASSAR O NATAL

Escrito por Viraldo B. Ribeiro
Sáb, 01 de Dezembro de 2001 12:56
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Número 08 – Edição 01 – Sítio Inhatá, 1 a 30 de dezembro 2001
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LIBERDADE

angelinaDas mais diversas maneiras o negro escravo conseguiu sua liberdade, durante o período oficial da escravatura, 1570 a 1888. A liberdade foi conseguida por alforria; pela compra direta; compra através de terceiros; liberação espontânea do proprietário; por leis.

Foram quatro as leis que trataram da libertação dos escravos .

Suspensão de Tráfico – A primeira lei ocorreu em março de 1830, quase 300 anos do inicio do regime, extinguindo o tráfico.

Na verdade a lei não pegou, pois o tráfico continuou de forma clandestina e só foi extinto 20 anos depois com a lei Euzébio de Queiroz de 4 de setembro de 1850.

“…a importação de escravos no Brasil era considerada como crime de pirataria. A expulsão dos principais traficantes do Rio de Janeiro, os dois irmãos portugueses Manoel e Antonio Pinto da Fonseca…serviu de advertência aos comerciantes de escravo da Bahia, e o tráfico cessou completamente no fim do ano.” Fluxo e Refluxo P. Verger pág.433.

Na verdade não foi para o negro já escravizado um beneficio. Era um inicio.

Lei do Ventre Livre – Instituída em 27 de setembro de 1871, considerava livre os nascidos de escravos, a partir da data da lei.

Lei dos Sexagenários – Libertava da escravidão os negros a partir da idade de sessenta anos. Esses homens, nessa idade, sem condições de ganhar o sustento, eram postos à própria sorte sem direito a nada. Era um passarinho libertado com as asas cortadas. Para os proprietários a lei prejudicava a indústria.

“O declínio do trabalho escravo no Nordeste, i.e., a zona açucareira, foi posteriormente intensificado, quando os setores de café, no Centro-Sul, começaram a atrair mais escravos…A Lei dos Sexagenários de 1885, também conhecida como Lei Saraiva-Cotegipe,… reduzia ainda mais, o numero total de mão-de-obra, participando das causas da crise da industria açucareira.” Engenho Central do Bom Jardim, pág.46

Lei Áurea – Proclamada em 1888, a lei acabava com o regime de escravatura no Brasil.

Outras Formas – A liberdade do negro foi conquistada de outras formas, e muito provavelmente a mais significante foi a obtida pela compra da sua própria liberdade – o recurso era proveniente de um trabalho (escravo de ganho).”Na cidade os escravos de ‘ganho’, que alugavam seus serviços e deviam levar somente uma parte de seu ganho para seus senhores, libertavam-se muito facilmente, comprando sua emancipação”. Fluxo e Refluxo P. Verger pág.513

Branqueamento – Pierre Verger, em F. Refluxo Cap.XIV relata: “O fato de haver escravos crioulos, quase brancos, começava também a chocar a consciência dos habitantes da Bahia. (J.B.,31/08/1859): Em favor de uma escrava. Hoje, no teatro San Pedro de Alcântara, um espetáculo…cuja receita tem por fim a libertação da mulata clara…(J.B., 07/02/1859):Ação louvável. Há dias fazia-se na cidade da Bahia leilão de escravos de pessoa que se havia mudado para Portugal; nesse leilão havia uma criancinha de 17 meses, mais alva do que muitas pessoas brancas…Um dos concorrentes comovido agenciou ali mesmo a quantia suficiente para dar-lhe a liberdade”

Alforria – Liberdade concedida pelo proprietário do escravo.

Caixa de Empréstimo – Uma forma grupal de se obter o recurso para a alforria, uma forma profundamente consciente de conseguir a liberdade. Pierre Verger Fluxo e Refluxo pág. 516 “havia as ‘caixas de empréstimos’, destinadas pelos africanos à conquista de sua liberdade e de seus descendentes, caixas a que se denominava de ’juntas’ ”.

Apesar de não haver nada escrito, a sociedade era organizada.

HISTÓRIA

cboiDuas histórias me fascinam. Fascinam mais, por não serem somente histórias; são fatos, são vidas, aconteceu.

O interessante é que se deram em épocas diferentes. Uma naquele tempo em que o tamanho do mundo era o tamanho do mundo. A outra, outro dia, quando o mundo já era do tamanho de uma “antena parabólica”.

Uma se deu do massapê de São Bento do Inhatá para Condeúba, e a outra, do massapê de São Salvador Bahia para a metrópole de São Paulo. Avó e neta, seus personagens. Tempos diferentes, coragens iguais.

Se o tempo virasse ponta cabeça, a história se repetiria com personagens permutando lugar.

Um dia, Bangüê conta essa historia, que um dia bem longe começou a ser escrita em outra língua, ioruba quem sabe, noutro cenário, do lado de lá do rio salgado.

Todos temos uma historia para contar .Os lugares, as cidades , os engenhos, as usinas , tudo tem sua história que é registrada pelas pessoas que foram personagens, que viveram ou ouviram falar. O importante é não deixar esta memória morrer, pois a fibra de um povo emerge do seu passado.

TRABALHO

A política comum era em favor do branco europeu, oferecendo privilégios para a imigração houve tentativas para que as vantagens fossem também extensivas aos negros, mestiços, ex-escravos e índios, como foi tentado na Assembléia de 1885 pelo deputado João Bueno.Do livro Onda Negra Medo Branco de Célia Marinho Azevedo pag. 168 “Interrompido várias vezes por apartes ora irados, ora sarcásticos, o deputado tentou Inutilmente seu projeto:

“João Bueno – Sr. Presidente, não acho razão para que, tratando nós de aumentar a população laboriosa da província, os seus braços de trabalho, lancemos ao desprezo os nossos patrícios.

Visconde de Pinhal- Eles é que nos lançam ao desprezo,não querem trabalhar.

João Bueno – Há muitas famílias brasileiras que vivem à mingua, que lutam com dificuldade, que não têm um palmo de terra onde possam exercer sua atividade; por que não haveremos de aproveitá-las, animá-las dando-lhes meios de trabalho?….Vadios ou ociosos, como trabalhadores, Sr. Presidente temos em… todos os paises. …Por que não dispensamos também a devida proteção àqueles que abriram as nossa matas…Assim, ofereço o projeto à consideração dos nobres deputados”.

A elite social, presente em todos os grupos formadores de opinião como os representantes da igreja católica, da justiça, e principalmente do poder econômico, que mandou e desmandou no Recôncavo baiano, durante todo o ciclo da cana de açúcar, tanto na vigência dos engenhos como no período das usinas, não fez o seu papel social, político e econômico, objetivando integra a grande maioria ao sistema.

É evidente quem nem os donos de Engenhos , nem tão pouco os proprietários das Usinas, tornaram suas industrias como elemento multiplicador da economia.O pagamento do trabalhador na forma de vales , para trocar por mercadoria na Cooperativa (Armazém), impedia a circulação do dinheiro, e por conseguinte do surgimento da Atividade Comercial, novo elo no Sistema Econômico.

ONDE IREMOS PASSAR O NATAL

O Estado derruba barracos, espanca camelôs. O Estado diz que quer conter a violência. Faz campanha, cria Ministérios, faz mistérios. O Estado de varias caras. Sempre foi assim nunca ataca o problema na raiz . Fica sempre no faz de conta.

“Aonde iremos passar o Natal”?

A violência não é uma causa, mais das vezes é um efeito. O que fizeram foi plantar violência, num terreno de paz. Aonde…

Que sentimento ficará gravado no peito daquela gente, que no dia 19 de dezembro teve os seus barracos derrubados, com a cobertura da policia, sem nenhuma ordem legal, para que, pelo menos dentro da legalidade cometesse mais uma injustiça, mais um absurdo.

Aquele covarde que dizia está a mandado da Prefeitura, mas que correu quando a imprensa chegou, sabia aonde ele e sua família iriam passar o Natal. Pouco importa a pergunta da menina, Afinal de contas aquela não foi a primeira vez .

“Aonde iremos passar o Natal”?

Viraldo Ribeiro

Viraldo

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