Terra Nova – Uma Leitura
Índice
1 – O Nome
2 – Posição Junto A Freguesia do Rio Fundo
3 – De Engenho a Povoado
4 – Nem E. Terra Nova nem E. Aramaré
5 – Origem do Povoado
6 – Antídio depoimento
7 – Distritos
— Outros povoados
8 – A Escola
9 – O Lazer
Terra Nova Origem
1 – O Nome
Não se encontra ou mais precisamente não encontramos referências sobre a expressão terra nova; um lugar ou uma propriedade; um acidente geográfico ligado a essas duas palavras, que motivasse um proprietário a batizar um engenho com o nome de Engenho Terra Nova. No entanto, deve ter havido uma razão, e para nós tem a ver com a expansão dos engenhos no Recôncavo, que no início se instalaram ao longo da Baia de Todos os Santos, e por isso chamados de engenhos da beira mar; as terras foram se tornando fracas pelo uso e escassa devido a ocupação, consequentemente ocasionando, também, falta de lenha. Esse conjunto de fatores precipitou a interiorização dos engenhos para o sertão, em busca das terras novas. Como o engenho Terra Nova é um dos engenhos interiorizado, seja, nas ditas terras novas, nos acreditamos que o nome dado esteja ligado a expressão terra nova.
O engenho Terra Nova já no ano de 1718 consta entre os relacionados e pertencente à Freguesia de São Pedro de Rio Fundo. Achamos importante salientar, que na mesma época constata-se relacionado entre os engenhos da Freguesia de São Sebastião do Passé o Engenho Terra Nova das Carmelitas, o que reforça nossa consideração a respeito da origem do nome.
2 – Posição da Freguesia do Rio Fundo em 1788
Juntamos ao presente dados de um texto, que chamamos de Povoamento:
O Povoamento
Os engenhos ao se instalarem num lugar, traziam com eles as pessoas, predominantemente escravos, para o trabalho, povoando a terra desabitada. Muitos desses locais desapareceram, restando uma ruina, uma ou outra casa, uma roça uma fazenda, um pé de pessoa, entretanto, o nome ficou identificando o lugar.
Nos limites, do hoje, município de Terra Nova o panorama do parágrafo anterior tem vários exemplos de engenhos, contemporâneo do Terra Nova, e como este pertenciam à Freguesia de São Pedro do Rio Fundo, alguns desses engenhos tinham mais escravos do que o Terra Nova, não sendo, portanto, essa a condição para que um povoamento se tornasse um lugar público, e digamos assim, com alguns princípios democráticos.
Para ilustração destacamos de uma tabela/1788, com 35 engenhos da Freguesia retirada do livro – Segredos Internos página 255, e incluída no arquivo do Word no texto O Povoamento:
Tabela/1788 – Livro Segredos Internos
Engenho | Escravos | Livres |
Terra Nova | 205 | 4 |
Rio Fundo | 124 | 17 |
Roçado | 75 | 2 |
Pandalunga | 199 | 14 |
Felipe | 134 | 3 |
Mercês | 57 | 2 |
Camboatá | 106 | 6 |
Canabrava | 283 | 25 |
Jacu | 186 | 21 |
Santo Apóstolos | 50 | 1 |
Brejo de André | 100 | 6 |
Paranaguá | 42 | 3 |
Papagaio | 106 | 7 |
Camorogi | 266 | 58 |
Carapiá | 72 | 2 |
Está muito longe os pré-requisitos para Terra Nova se tornar um povoado. Não há nenhum centro comercial, nem mesmo como regime de troca de mercadoria, para subsistência do povo habitante, muito pouco não escravos. A senzala era o abrigo; o alimento era a caça, a pesca, e o que a natureza provia. Portanto não havia sinal de povoado, existia um povoamento com limite de locomoção para a massa de trabalhadores e um dono de tudo dentro do limite do povoamento.
Povoamento do Recôncavo – Carlos Ott
Ainda sobre o Engenho Terra Nova, na página 53, o historiador Carlos Ott, no seu livro O Povoamento do Recôncavo pelos Engenhos – 1536 – 1888, relata sobre o engenho:
“Terra Nova” foi um dos engenhos vizinho do engenho “Triunfo” e provavelmente hoje pertencente mais ao município de “Terra Nova”, dando-lhe o nome, pois era um dos engenhos maiores desta zona, possuindo 2.280 tarefas de terras, em 1854, das quais 1.280 eram de massapê , 340 de “Salão” e 660 de terrenos. Tinha 85 escravos; seus quatros fazendeiros que moíam sua cana no engenho “Terra Nova” de “meia” ainda possuíam 68 cavalos. O engenho trabalhava com máquina a vapor e carreava com 140 bois, produzindo anualmente 13.000 arrobas de açúcar, figurando, pois, entre os maiores engenhos do recôncavo baiano. Era engenho antigo, já funcionando, em 1757. Aos 9 de setembro de 1862, foi registrado por Antônio Bitencourt Berenguer Cesar [primeiro proprietário que vimos registrado, antes dos Pacheco], dizendo que não possuía “3.300 tarefas de terras”, tendo, pois, comprado 1.020 tarefas entre 1854-1862, que se dividem pelo sul com terras do engenho “Santos Apóstolos” e terras do engenho “Papagaio”, ao norte com terras do engenho “Aramaré” e a oeste com terras do engenho “Periperi”.
3– De engenho a povoado
Existem dois pontos de vista sobre o começo de Terra Nova, um no imaginário das pessoas, e outro oficial.
O primeiro decorre do nome herdado do engenho Terra Nova, como aliás aconteceu com diversos lugares, que hoje, como fazenda ou simples lugar com ou sem habitantes, tem os mesmos nomes da época de engenhos: Mercês, Santos Apóstolos, Aramaré, São Caetano, Papagaio, Santo Antônio, Carapiá.
O segundo é reconhecido por decreto, considerando a origem de Terra Nova ter sido através de uma Feira nas terras do Engenho Aramaré, precisamente na antiga Rua da Quinta, que a partir do reconhecimento oficial passou a chamar-se Praça Luiz Paulino, proprietário, que em 1819 solicitou à corte portuguesa a instalação de uma feira nas terras do Aramaré.
4 – Nem Engenho Terra Nova nem Engenho Aramaré
Nós temos em alguns trabalhos, tipo Terra Nova Não Começou Na Quinta Feira, demonstrado que Terra Nova não teve sua origem dentro de propriedades de dono de engenho, porque inexistia comercio, dentro dos limites das terras dos engenhos, consequentemente sem possibilidade de uma evolução populacional consistente, que no futuro viesse a se transformar num povoado, num distrito ou mesmo num município, esse princípio se estendeu também nas usinas, com raras ou nenhuma exceção. Estão aí como prova o que restou das usinas São Bento, Itapetingui, São Carlos, Santa Elisa, Capimirim.
Portanto, nenhum dos dois engenhos foram ponto de partida para o município de Terra Nova. Acrescente-se à impossibilidade deste ponto ter sido Aramaré, o fato das terras do referido engenho está limitado pela margem direita do rio Pojuca, enquanto a rua da Quinta Feira está na outra margem do rio. Se a feira se instalou foi em outro local.
Mas há de se ressalvar, que mesmo não oferecendo as condições indispensável para gerar e manter um habitat populacional, o engenho Terra Nova foi fundamental, para a vida de Terra Nova, como polo gerador de renda para o desenvolvimento do comercio, e de matéria prima para a nova indústria que se instalava – a usina de açúcar.
5 – Origem do Povoado
Existia envolta pelas terras dos Pacheco, as quais Seu Antídio Roque, na lucidez durante seus 100 anos de vida (915 e 1916) chamava de a clara do ovo, do qual a gema era as terras situadas no centro de Terra Nova, cujas proprietários eram família dos Paiva Luna e Dona Sinhazinha.
Os proprietários das duas fazendas não plantavam cana, nem tinham engenhos para indústria de cana de açúcar. As terras foram paulatinamente ocupadas, por vendas de lotes, arrendadas, ou mesmo doação, portanto livres para quem as adquirisse, dispondo dela para o que quisesse.
Foi, para nós, nesse pedaço de terra – gema do ovo – localizado no centro entre Caraconha e Dornel, que prosperou um comercio em torno de um mercado, onde nos dias de domingo armava-se uma feira.
Sobre o Centro, reproduziremos um texto resultante de conversas com Seu Antídio Roque e algumas intervenções de Paradorá, para o qual demos o nome de O Centro.
O Centro
Na linha férrea, entre a Ponte de Ferro e Caraconha, ficava uma estação ferroviária – Ponto Ceen, em princípio construído de madeira, no fundo deste, numa posição perpendicular ficava O Cruzeiro (não existia a igreja de São Roque nessa década). Foi entre esses dois pontos (Ponto Ceen e O Cruzeiro), que se fixou o Centro Comercial de Terra Nova.
No meio do Centro tinha um Barracão com cobertura de zinco, e no seu entorno funcionava a feira, de oito em oito dias aos domingos.
No lado direito do Barracão (sentido da Ponte), dando os fundos para o Ramal da usina, ficavam as lojas de tecidos e vendas de molhados identificados alguns proprietários: Pedro Margardes, Januário Bispo, Celestino, Pendeluc, Sabino Capenga – cabelereiro. Tinha mais uma vendinha de Avelino Firmo, na altura do Cruzeiro, do outro lado da linha e de frente para esta.
Do lado esquerdo do Barracão a loja de tecidos de Pedro Gonçalves.
Tinha uma morada de um gringo chamado Salim.
– Aqui só tinha duas ruas, confirmava Paradorá, a rua Chile, com poucas casas, e a rua da Palha.
O lado direito, a partir da Ponte- sentido Centro, era somente mato, um brejo, não tinha casas. A primeira construção do lado direito do ramal era a loja de seu Avelino Firmo. [O Ramal era a linha férrea da Usina Terra Nova, que se bifurcava da linha do trem de Santo Amara, uns 50 metros antes do Mercado, e seguia ao longo do Dornel até os Pontos de Cana da usina].
– A rua da Palha era assim chamada, por ser as casas cobertas por palha ou pindoba. Começava à esquerda da igreja (na época inexistente) seguindo em direção ao Dornel. A rua acabou porque a usina tinha uma lastreira (local com linha de trilho onde se apanhava terra – lastro) e o barranco foi desmoronando. Hoje ela é a rua Domingos Conceição.
– Entre essas lojas da feira tinha uma loja maior que funcionava como Cooperativa dos Operários da Usina. Depois a usina construí o prédio (hoje Cesta do Povo), ao lado, fora da área da Feira, inaugurada em 1927.
Está escrito no verso dessas fotos: Lembrança da Cooperativa Operaria Terra Nova ao seu Digníssimo Diretor Secretário Zacharias West.
Terra Nova 24 de Setembro, de 1927;
Lembrança da Cooperativa Operaria Terra Nova ao Membro da Comissão Fiscal Ermelino Teles.
Terra Nova 24 de Setembro, de 1927.
Nessa época, dizia Seu Antidio, a rua que acompanhava o ramal da usina a partir da cabeça da Ponte tinha casas até a casa de Dr Herondino (Epaço Bangüê), recomeçando adiante com a loja de Seu Avelino Firmo. O espaço em construção era bastante desnivelado – um buraco. Nessa direção pelo outro lado da linha apareceam as casas de negocios, de frente para a feira e fundo para a linha. Com o desenvolvimento do comercio o espaço foi sendo tomado com residências e casas comerciais.
Outra das nossa conversas com Seu Antidio, que se tornou um texto evidenciando outros comerciantes, que se juntaram ou deram continuidade ao comércio de Terra Nova, que se encontra no Word com o nome de:
Terra Nova de A a Z
6 – Antídio – Depoimento (12.08.15):
Avelino Firmo– Filho de José Firmo e Dona Bem. Seu Firmo morava com a família na casa onde morou Pequenita. Esta era irmã de Avelino Firmo, por parte de pai.
Filho de Avelino – Dimas- Avelino Firmo Pereira Filho, Vindu – Vindaura, Ademir, Hamilton, Ary (mais 3 filhas.
Iniciou sua vida de comerciante com uma quitanda vendendo miudezas
Avelino tinha um irmão, que tinha um problema na coluna (era corcunda), que vendia miudezas na feira e na janela da casa (casa de Pequenita, três casas a partir da esquina da Quinta Feira, sentido praça); vendia de tudo de prego a alfinete.
Construí uma casa próximo a Bida, próximo da igreja, continuando a vender miudezas e tecidos. Tinha uma funerária no fundo, onde ele mesmo fazia os caixões de defunto.
Bida – Teodoro Lopes, filho de Francisco Lopes.
Tinha vários irmãos: Bebé Lopes, Henrique Lopes, Laura Lopes.
Conheci Bida como Fiscal do Armazéns da Usina; trabalhava com Oscar Pacheco (irmão de Dr. Jose e Dr. Américo), que era Gerente da Cooperativa.
Depois botou, em parceria com Oscar Pacheco, no local onde Seu Lotas também teve armazém (hoje pertence a Siri). Separaram-se e Bida construiu o armazém que por sua morte passou para o sobrinho Babá e hoje propriedade de sua viúva Dona Doralice.
Pedro Gonçalves Tinha uma loja (mais ou menos entre 1925 e 30) vizinha à Cooperativa (Cesta do Povo), a loja era recuada em cujo espaço foi construído um chafariz. Sua mulher chamava-se dona Malzira.
Seus filhos: Pedriles, Ronaldo e mais uma filha. Ronaldo, na semana de Natal, vinha de Salvador trazendo presentes que distribuía as crianças no lado da igreja. [temos em nossos arquivos, escrito por Ronaldo, inclusive com publicação no site do Bangüê, uma cópia xérox de um texto, de uma palestra homenageando a professora Lulu – Luiza de Paiva Luna].
Aurélio Cerqueira – Alcancei seu Umbelino, pai de seu Aurélio, era mascate, negociava com tecidos. As mercadorias eram carreadas por animais ou conduzidas em malas na cabeça do empregado (burro de gringo), eu tinha uns 10 anos.
Depois que terminou com esse comércio, botou uma loja na esquina da praça [hoje uma igreja protestante]. Essa loja passou para seu Aurélio que aumentou para secos e molhados.
Depois é que passou a vender por atacado. Chegou a ser representante da Vinícola Rio-grandense; recebia os barris de vinho em Salvador e distribuía para Alagoinhas, Feira de Santana. Em Terra Nova distribuía engarrafado. Chegava em Santo Amaro em navio.
Rafael, hoje funcionário da Prefeitura Municipal foi empregado da firma de Seu Aurélio por muito tempo, e nos informou que na durante a parada da Usina Terra Nova a chave do deposito de açúcar ficava Seu Aurélio Cerqueira, uma espécie de Fiel Depositário. Asa vendas de açúcar, nesse período, era feita através da firma dele.
Oscar Pacheco – Filho bastardo de dotou Américo [Era irmão e não filho, o pai era José Pacheco Pereira].
Era gerente do Armazém (Cooperativado Operários).
Abriu um armazém com seu Bida. Quando terminou a sociedade com Seu Bida, construiu um com seu irmão Almir Pacheco, um armazém no Dornel chamado Sete Portas [provavelmente daí é que derivou a rua sete Portas]. Esse Armazém era composto por uma farmácia, uma padaria e um armazém de molhados, Almir era farmacêutico.
Tomazinho – filho de Felipe Acácio e de dona Laô (Laura).
Irmãos: Dona Laura (esposa de Nezinho Osorio), Tintim – Manoel Valentim Acácio, Dedé, Dulce, Mariazinha, Dague, Baba – Braulino Acácio, Toninho Acácio.
Comerciante – Começou como alfaiate. Ficava junto a hoje farmácia, vizinha a alfaiataria de Belarmino.
Foram seus oficiais: Arranha Céu, Zé Badalo, Piroquinha, Tintim.
Transferiu a alfaiataria, para casa que se tornou loja (imóvel ainda hoje existente que dá a frente para o lado do Mercado).
Mesmo sendo uma alfaiataria, Tomazinho trazia corte de pano de boa marca, costurava para seus fregueses; dividia em cortes para vender. Trazia de Salvador camisas prontas e vendia na alfaiataria.
Terminou com a alfaiataria, tornando-se lojista. A loja de tecidos funcionou no mesmo imóvel que foi a alfaiataria.
Abriu, também, no Jacu uma loja de tecidos.
Lotas – Leovigildo Assis Silva, veio de Irará trazido por Abdias (um alfaiate).
Seu Abdias tinha uma alfaiataria num espaço dentro do cine Brasil, trouxe Lotas para trabalhar com ele, tempos depois seu Abdias deixou a alfaiataria, e Lotas passou a ser o dono.
Lotas trouxe os irmãos Coló e Zé (alfaiates), em seguida Maurilio, que era sapateiro.
Zé da Renda – José Fiuza, irmão de Mundinho da garage, cobrava uma taxa pelo arrendamento, do terreno das casas construídas nas terras de doutor Américo Pacheco, situadas em Terra Nova Velha (logo depois da Estação, até onde hoje é a porteira da fazenda de Roque Brito).
Assenção Politica
Mesmo sobresaindo-se de todos os antigos engenhos da Freguesia de São Pedro do Rio Fundo, Terra Nova tardou de ter ascensão politica junto ao municipios de Santo Amaro, como Rio Fundo e Jacu.
A explicação mais provavel, é de que sendo uma area particular, o poder central (Santo Amaro) fica impossibilitado de intervir, disponibilizando serviços públicos, seja uma escola, um posto médico etc, e Terra Nova era um Povoado formado dentro de fazendas.
Ao contrario de Terra Nova outros com nomes de seus engenhos de origem Jacu e Rio Fundo foram elevados a categoria de distrito de Santo Amaro, podemos dizer bem cedo. O que se pode constatar, que os dois lugares se desenvolveram em torno das suas igrejas.
Destacamos os distritos de Rio Fundo e Jacu de um resumo que demos o nome de -Rio Fundo
6 – Distritos
Rio Fundo
A explicação mais concreta é que o povoado de Rio Fundo, se formou em terras fora de propriedade de engenho. O proprietário do engenho Rio Fundo doou as terras para construção da paróquia de Rio Fundo, que se tornou a matriz sede da Freguesia.
”…Lopes Fiuza tornou-se proprietário do Engenho de Baixo, em Paramirim; tempos depois Comprou o Engenho São Pedro de Tararipe, situado onde mais tarde seria a paróquia de Rio Fundo” Segredos Internos pag. 227 de Stuart.
O povoado se formou do lado da igreja; no lado contrário, lado esquerdo, fica o cemitério, Dentro da igreja eram sepultadas as famílias importantes. No cemitério eram enterrados, em covas, as pessoas da comunidade. Provavelmente existiu uma feira, no centro, entre as duas ruas, lá ainda e encontra sinais do mercado e do cartório, este ainda em funcionamento.
Jacu
O mesmo fenômeno deve ter ocorrido com o povoado do Jacu, seja ter se formado nas terras da igreja. Lá se encontra a matriz de Nossa Senhora de Bouças. O cemitério está no fundo da igreja. Próximo a igreja existia um mercado e uma feira.
Em frente ou ao lado do mercado tinha a estação de trem Jacu, última estação do Ramal de Santo Amaro (depois é que a linha foi estendida até Bom Jardim); por ser o final dos trilhos foi instalado uma engrenagem denominada Vira-Mundo, para mudar o sentido da locomotiva, para o retorno do trem para Santo Amaro. Provavelmente desativado com a extensão da linha até Bom Jardim.
Em divisão territorial datada de 31-XII-1936, o município aparece constituído de 11 [12] distritos: Santo Amaro, Aliança, Bom Jardim, Buracica, Jacu, Oliveira dos Campinhos, Rio Fundo (ex-São Pedro do Rio Fundo), Rosário (ex-Nossa Senhora do Rosário), Santana do Lustosa, São Bento do Inhatá, São Francisco e Saubara.
Com a emancipação de Terra Nova em 1961, desmembrando-se de Santo Amaro, o distrito Jacu deixa de distrito de Santo Amaro, passando a distrito de Terra Nova.
Destaacamos de uma publicação sobre Santo Amaro, os enquadramento de Rio Fundo e do Jacu como distrito.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município aparece constituído de 7 distritos: Santo Amaro (ex-Nossa Senhora da Purificação e Santo Amaro), Bom Jardim, Lustosa, Oliveira dos Campinhos, Rio Fundo, Rosário de Santo Amaro e Saubara.
Em divisão territorial datada de 31-XII-1936, o município aparece constituído de 11 [12] distritos: Santo Amaro, Aliança, Bom Jardim, Buracica, Jacu, Oliveira dos Campinhos, Rio Fundo (ex-São Pedro do Rio Fundo), Rosário (ex-Nossa Senhora do Rosário), Santana do Lustosa, São Bento do Inhatá, São Francisco e Saubara.
7 – Outros Povoados
Brejo do André
Paranaguá
Bueiro de Paranaguá
Data: 03.11.2009
Entrevistado: Hermógenes Santos Pereira
Nascimento: Feira de Santana, em 20.01.1925
Vi construir o bueiro
Cheguei em Paranaguá menino, fugi de casa.
Trabalhei na usina, onde me aposentei.
Vi construir o bueiro começou em 1944.
Terminou no mesmo dia que terminou a guerra (08.05.45)
Não sei a razão de terem derrubado o bueiro
Tava tão contrariado, que nem arredei o pé daqui da porta.
Tem, a partir da base mais ou menos 15 metros enterrados.
Enterrado tijolo, pedra, cimento, vergalhão.
Foi construído na administração de Duran (Seu Duran)
Antes de Duram o proprietário era Jorge Moreira Costa Pinto.
Viraldo Ribeiro – Espaço Bangüê.
8– A Escola
Para falar sobre a Escola no início de Terra Nova vamos recorrer ao nosso Trabalho- Terra Nova 50 Anos, onde o assunto foi abordado com depoimento dos próprios alunos da época. Aí aparecem as professoras Lulu – Maria Luiza de Paiva Luna; a professora Conceição Costa; e a professora Alice Nogueira, com destaque para a professora Lulu por ser ela a mais velha.
Existe dois fatos que levam a pensar, da possibilidade da Escola em Terra Nova ter surgido antes do século XX: que a Maria Luiza de Paiva Luna se formou em dois de abril de 1883; que por falta de vaga, não começou a ensinar em Terra Nova.
Esses dois fatos foram colhidos de uma palestra que o professor Ronaldo Gonçalves proferiu, entre 1959 e 1960 em Terra Nova, homenageando sua professora:
“Falava sobre o torrão natal, Terra Nova, seu torrão natal, porque quando poucas casas existiam aqui, a 25 de agosto de 1864, no lar honrado de Felipe Simões de Paiva e de D. Maria do Amaral Simões de Paiva, nascia uma criança que, na pia batismal, recebeu o nome de Luiza. Foi aquela criança robusta que viria a ser, a 2 de abril de 1883, a Professora Luiza Simões de Paiva, mais conhecida por Professora Lulu.
Depois de formada não começou logo a ensinar aqui, pois teve que aguardar vaga.
Neste tempo ensinou no lugarejo, hoje Vila de Jacu, de cuja época, ainda podemos ter a prova de um seu ex-aluno: Dr. Bomfim. [Dr Bonfim era o Pai de Goiás um fazendeiro residente no distrito de Jacu]
Hoje, com 95 anos de idade, encontra, todos vivos, além dos 6 filhos, com 10 netos, 27 bisnetos e 2 trinetos. [Como ela nasceu em 1864, deduz-se que a palestra foi proferida em 1959 ou 1960]. “Existência bem vivida”
Depoimento de alguns alunos:
Professor Juvenal, nascido em São Bento do Inhatá, em 21 março de 1921. “Estudei em Terra Nova, inicialmente com a professora Lulu. Por causa da Ponte minha mãe me transferiu para a escola da professora Conceição, que era do lado da Usina, do mesmo lado em que eu morava;
Paradorá, maquinista da Usina, nascido em São Pedro do Rio Fundo em 23 de março de 1919. “Meu nome é Antônio Moreira, cheguei a Terra Nova em 1924 e comecei a estudar em 1927. Eu vim de Terra Nova Velha, vim estudar aqui. Minha mãe ia trabalhar na fazenda dos Pacheco e me deixava na casa de Zé do Carmo em Terra Nova Velha. Depois é que viemos morar na Rua da Palha (Rua da Igreja). Estudei com a professora Maria Luiza de Paiva Luna. A escola funcionava onde é hoje o Colégio Castelo Branco. Chamava Escola Municipal de Santo Amaro. Depois da revolução de 30 passou a se chamar Escola Estadual da Bahia. Quem disser que ela era professora leiga não conheceu ela! Nesse lado só tinha ela. Do outro lado tinha a professora Conceição. Agora tinha professora leiga: Mariquinha Cunha, Mariquinha Homem. Tinha delegado escolar; era um sargento da polícia casado com uma filha de D. Lulu. Estudei até o terceiro ano, saí com 14 anos para trabalhar;
Sr. Antídio Roque, mestre de carpinteiro, nascido em Terra Nova em 1915, entrou na escola de D. Lulu, quando tinha sete para oito anos. “Saí da escola por ter tomado uns bolos e quase perdi a mão. Fiquei uns tempos sem estudar, pois não tinha outra escola, a não ser uma em Terra Nova Velha paga, mas minha avó não podia pagar”. Entrou depois para a escola da professora Conceição, que funcionava no lado da Usina. Quando tinha 11 anos, voltou para D. Lulu, pois as escolas passaram, por determinação do governo, a separar meninos de meninas. “Eu não queria voltar, mas minha vó me obrigou”;
- Santinha, uma senhora de 90 anos, (28 de dezembro de 1915) viúva de Eduardo Barbosa- Duque– “Não comecei os meus estudos com professora Lulu por ser, no tempo, sua escola somente para meninos. Comecei um pouco fora de tempo, não era mais menina de sete anos não, quem me botou para estudar foi uma moça que veio do sertão, chamava Fortunata ela me perguntou por que não estava na escola, eu disse que mamãe não ligava, aí ela botou os filhos para estudar e a mim também na mesma escola que botou os filhos… a professora era Zita, filha da professora Lulu. Quando separou meninas de meninos, fui estudar com a professora Conceição. Quando a professora Conceição foi embora, fiquei com a professora Alice. Saí da escola zangada porque uma menina buliu comigo. Ela me chamou, me botou de castigo, me deu bolo e não fez nada com a menina, deixei de estudar… Ela me chamou para voltar várias vezes…Se mamãe dessa importância para estudo, me obrigaria a voltar, mas ela não ligava… Já ia fazer o quinto ano”;
Zé Ligeiro, nascido em Aliança e criado em Terra Nova. Estudou de noite e de dia, a depender do trabalho de aprendiz na usina. “Estudei com Dona Sinhazinha, mulher de Seu João Cunha, ela chamava os meninos que ficavam jogando bola perto da casa dela para ensinar. Estudei também com minha irmã. Ela tinha uma escolinha lá em Terra Nova Velha, defronte da casa de Zé do Carmo”.
Dona Leonor Coutinho, nascida em São Bento do Inhatá em 23 de setembro de 1919, onde começou sua carreira de professora ensinando numa escola da usina. Aprendeu a ler com sua mãe, Dona Mariquinha [filha de um pároco tinha um bom nível de educação]: … “Não estudei com D. Lulu porque a escola de D. Lulu era do outro lado da Ponte […] comecei a estudar em Terra Nova em 1927 com a professora Conceição, Conceição Costa […] naquela época D. Lulu não ensinava menina, só ensinava menino. A escola da professora Conceição ensinava menino e menina. Fui estagiária da irmã dela em Feira de Santana. Quando a professora foi embora de Terra Nova, logo foi substituída pela professora Alice de quem, também, fui aluna; ”
Violeta Nogueira Bacelar – sobrinha e aluna da professora Alice. “A família de meu avô Avelino da Silva Nogueira, chefe geral de campo da Lavoura Indústrias Reunidas, morava em São Caetano […] foi seu pai quem educou minha tia Alice e a mandou para Salvador onde fez o curso normal. Quando se formou, se submeteu ao concurso e veio para Terra Nova ensinar”.
Miriam – nascida em nove de agosto de 1925, filha de José Marcos Teixeira e dona Jovina Santos Teixeira: “Meu pai foi criado pelo Juiz de Direito, padrinho dele, doutor Paulo Teixeira da família dos Teixeira do Rio Fundo… Comecei a estudar com dona Alice; Mirêta foi com professora Lulu, Mirêta, Zezinho, Horacinho essa turma (irmão mais velho) foi com dona Lulu – Luiza de Paiva Luna; Toninho já foi com o professor Ranulfo”.
Maricota ou Cota, como ela prefere ser chamada, nascida em Terra Nova em 25 de março de 1924, filha de Zacarias West e dona Silvina da Silva West, começou seus estudos em Santo Amaro. Com nove anos, já em Terra Nova, prosseguiu com a professora Nadir, neta da professora Lulu. Disse mais a entrevistada. “Minha mãe estudou com a professora Lulu […] quando eu conheci professora Lulu, ela já era uma senhora de cabelos todo branco”.
Mocinha Barbosa, Maria Helena Barbosa, filha de José do Carmo Barbosa e Maria Genoveva.
– Nasci em Terra Nova, Terra Nova Velha, em 03 de outubro de 1921; estudei com a professora Alice Nogueira; meus irmãos Eduardo, Duque e Durval estudaram com a professora Lulu; fui colega de Santinha.
Quando terminava a aula eu ia com a professora Alice para sua casa, em São Caetano para costurar para ela; eu tinha uns dez anos para onze anos; era um enxoval para o casamento dela; ela morava lá com seu pai Avelino Nogueira, que era administrador da usina.
Aprendi a costurar com dona Senhora, mulher de seu Rosalvo; ela era mãe de Aloisio Sousa. Ela ensinava costura para as meninas no outro turno da escola; Santinha também aprendeu a costurar com ela.
Esse quí-fazer, depois da escola (depois da aula) se estendeu, em Terra Nova, por mais uma ou duas gerações. Dona Mocinha, também, em sua casa (morava com o casal Duque/Santinha)-, tinha um centro artesanal onde as mocinhas iam aprender a costurar e fazer tricô aprendendo diversos pontos.
Os meninos também tinhas suas oficinas para depois da [a escola: nas diversas barbearias existentes a dois três garotos aprendiam a arte de barbeiro, de pé ao lado da cadeira durante o tempo em que o oficial ou o mestre atendia um freguês (não se chamava cliente); nas alfaiatarias outros meninos aprendiam a arte de alfaiate, começavam com um dedal na ponta do dedo (última falange) médio amarrado, chuleando num retalho com o dedo dobrado e o dedal para empurrar a agulha; tinha também as tendas de sapateiro.
Como hoje a família não dispõe dessas oficinas para os filhos, na idade escolar, ocupar o tempo depois do turno da escola, cabe a Escola buscar essa atividade complementar. No caso de Terra Nova temos o Mauá, que poderia ser, na nossa visão, uma extensão da sala de aula.
Creio que outros projetos podem ser pensados como: juntos clubes esportivos; oficinas de carpintaria.
9 – O Lazer
Dentro deste cenário de trabalho os seus agentes, trabalhadores e patrões criaram seus ambientes de distrações, suas comemorações, (Cinema, Micareta e Futebol ).
O cinema também teve sua fase em Terra Nova. Era o Cine Theatro Brasil. Os filmes eram passados nos fins de semana e na segunda feira; tinha seriados que passavam os capítulos semanalmente, para prender o assistente pela curiosidade, pelo suspense.
Existia num mesmo imóvel – onde hoje é Fórum- o Cinema, um Bar com sinuca em dois salões, um para o Cine Teatro Brasil e outro para o Bar. Em épocas diferentes foram seus proprietários: Bezerra, Idelfonso, Gregório (bar e sinuca), José de Lota.
Está ainda na lembrança de dona Jacy Bezerra “O cinema foi inaugurado em 1937, me lembro do filme – A Pequena Órfã. Acho que foi em15 de novembro”.
Cinema
O avanço tecnológico surge substituindo muitas coisas existente. Isso aconteceu com a máquina de cinema, com a chegada da televisão. A TV chegou ao Brasil em setembro de 1950, (conforme pesquisa) por Assis Chatobrian. Na Bahia chegou em 1960 (Tv Itapoan), década da decadência das casas de exibição de filmes – Cines. Na capital, existiam Cines em todos os bairros, alguns com mais de uma casa, e no centro. Desapareceram de um a um – Cine São Caetano no Largo do Tanque, Roma no Largo de Roma, Itapagipe na Ribeira, Bomfim na Calçada, Liberdade e Brasil, na Liberdade, Engenho Velho no Engenho Velho de Brotas, Aliança, Pax Jandai. E muitos outros que não conseguiram concorrer com a coisa nova.
Para concorrer com a comodidade de se assistir diversos entretenimentos em casa, os empresários recorreram aos Shopping Center, onde se concentram uma gama de ofertas diversas inclusive estacionamentos.
Foi esse avanço tecnológico que da mesma forma fez desaparecer as casas de cinema, também no interior do Estado.
Foi por isso que desapareceu o Cine Theatro Brasil de Terra Nova.
Viraldo 2016