A ESCOLA EM TERRA NOVA

12- A Escola em Terra NovaO ponto inicial da Escola em Terra Nova situa-se entre os primeiros anos de 1900”.12 - A Escola em Terra Nova.jpg12 - A Escola em Terra Nova.jpg12 - A Escola em Terra Nova.jpgPara que se instale uma escola, é necessário que no lugar haja uma concentração de pessoas. Esse cenário viabilizou-se com a implantação da Usina e a construção da Ferrovia Santo Amaro a Bom Jardim Ramal de Catuiçara”.

“Para determinar o início do processo histórico da Escola em Terra Nova, Bangüê valeu-se de depoimentos de pessoas nascidas nas primeiras décadas do século XX (e ainda vivas) e de registros históricos. A análise desses dados conduz para a conclusão: a Escola regular de Terra Nova teve seu inicio nos primeiros anos de 1900.”
”Nas conversas, foram sempre citadas duas professoras que, provavelmente, foram contemporâneas em determinado período: a professora Lulu (Maria
de Paiva Lima) e a professora Maria da Conceição Costa. D. Lulu, como era conhecida, não era formada,(retifique-se essa informação transcrevendo o que diz o professor Ronaldo em sua palestra Hoenagem a Venerana Professora “Foi aquela criança robusta que viria a ser,a 2 de abril de 1883, a Professora Luiza Simões de Paiva, mais conhecida por Professora Lulu. Depois de formada não começou logo a sensinar aqui, pois teve que aguardar vaga. Neste tempo ensinou no lugarejo, hoje, Vila de Jacu, de cuja época, ainda podemos ter a prova de um seu aluno:Dr. Bomfim”) e, que por muito tempo foi a única professora de Terra Nova, até a chegada de Conceição, professora diplomada.”
O Ginásio
Toda esta fase antecedeu ao ginásio, que foi estabelecido no ano de 1965 sem mais necessidade do Exame de Admissão, decorrente da Reforma de Diretrizes e Bases. O primeiro diretor foi o padre Moisés. O aluno ao se matricular, depois de ter passado da quarta série, já estava na primeira série ginasial.

A Escola em Terra Nova

Terra Nova, em 20 de outubro de 1961, foi desmembrado de Santo Amaro, de quem era distrito, pela Lei estadual número 1.532.
A atual área do município, representada por sua sede e mais os distritos de Jacu e Rio Fundo, abrigou grande parte dos engenhos pertencentes à Freguesia do Itararipe de Santo Antonio do Rio Fundo, como o Engenho Santo Antonio, Jacu, Brito, Aramaré, inclusive o Engenho Terra Nova, propriedade da família Pacheco, do qual, que há alguns anos passados, resistia como ruína apenas a Casa Grande, conhecida como Sobrado de Artur Pacheco, próxima à estrada de rodagem que ligava Terra Nova a Aliança, nos lados de Terra Nova Velha.

Ao se falar da Escola nesse município, não se deve esquecer da política escolar da Bahia e sua herança escravocrata, que gerou um atraso muito grande no processo de instrução dos negros e dos seus descendentes, que ostentam, nos levantamentos estatísticos da população brasileira, as piores posições em tudo que se refere a direitos (escolaridade, saúde, renda, emprego etc).
Por não terem sido encontrados registros históricos relacionados à Escola em Terra Nova, bem como ao seu processo evolutivo, torna-se necessário fazer uma reflexão rastreando dentro da população quem estudava, como estudava e para que estudava.

Portanto, falar na história da Escola de Terra Nova, a partir do momento em que, formalmente uma casa e uma professora foram colocadas à disposição da população para “ensinar a ler”, requer basicamente: reflexão; busca na memória das pessoas, principalmente das mais velhas, de fatos do seu tempo de escola; estabelecimento de um ponto inicial.

Não está errado afirmar que o setor público, quer no nível estadual quer no municipal, não financiava a educação antes do início formal da escola, (considere-se formal a escola com um programa do primeiro ao quinto ano, inclusive a alfabetização). Existiam nas fazendas pessoas que, cobrando ou não, ensinavam individualmente ou a pequenos grupos; pais instruindo filhos, habilitando-os para as necessidades do trabalho na lavoura, no comércio, na indústria, e até mesmo para se submeterem ao exame preparatório para ingressar nos cursos de nível médio ou superior, – eram leigos, voluntários como os existentes no tempo presente. Isso explica como pessoas oriundas de famílias pobres ou negras da comunidade, há mais de cem anos, aprenderam a ler, escrever e contar.
Para reflexão, torna-se válido recorrer ao livro do professor Luis Henrique Dias Tavares, História da Bahia páginas 270 e 271:

Evolução do Ensino – Tudo começou praticamente do nada. O Liceu Provincial e a Escola Normal foram criadas na Bahia em 1836. O Liceu, para substituir as aulas avulsas de latim, francês e grego e a Escola Normal, para formar professores do ensino elementar. O primeiro Liceu instalou-se em 1837 no antigo Convento da Palma. Matriculou-se 323 alunos nas disciplinas obrigatórias: Filosofia Regional e Moral, Aritmética, Geometria e Trigonometria, Geografia e História, Comércio, Gramática Filosófica da Língua Portuguesa, Eloqüência e Poesia, Analise e Crítica dos Clássicos, Desenho, Música, Gramática Latina, Gramática Grega, Gramática Francesa e Gramática Inglesa. Os acontecimentos da Sabinada Envolveram alguns Professores do Liceu, entre os quais o mais famoso era o padre doutor Antonio Joaquim das Mercês. O Liceu não funcionou nos dois meses da revolução, nem nos anos imediatos. Nova lei, em junho de 1841, reformou os seus estatutos e estabeleceu exames prévios pra a matrícula nos cursos de Grego, Gramática Filosófica, Belas Letras, Filosofia, Retórica, Geografia. A conclusão do curso concedia aos aprovados o diploma de Bacharel em Letras.
A primeira Escola Normal da Bahia começou a funcionar em 1842 numa casa antiga da rua do Colégio. Tinha duas cadeiras: Cadeira de Ensino Mútuo e Cadeira de Leitura, Caligrafia e Gramática Filosófica da Língua Portuguesa. Os professores João Alves Portela e Manoel Correia Garcia foram enviados a Paris para aprender os métodos de ensino mútuo e simultâneo. O ensino seria teórico e prático, a escola dividida em dois turnos, um só para homens e outro só para mulheres, matrícula compulsória para os professores de primeiras letras das de São Pedro, Santana e Santo Antonio além do Carmo.

Conselho de Instrução Pública

Data de 25 de maio de 1842 a lei que criou o Conselho de Instrução Pública, composto de seis membros e com largas atribuições. Não funcionou. Alterado o seu plano primitivo em 1849, data desse ano o cargo de diretor-geral dos estudos, o mais importante da administração educacional baiana no império. Nos anos seguintes apareceram vários projetos e sugestões para a reforma da instrução. Em 1851, o diretor-geral dos estudos, Casemiro de Sena Madureira, lembrava a ‘necessidade de escolas industriais’. Em 1852, o presidente da providencia, Francisco Gonçalves Martins, queria edifícios especiais para as escolas. Na posição de diretor-geral dos estudos, Abílio César Borges condenou em 1856 a interferência da política e dos políticos na educação. Em 1860, a Assembléia Provincial votou a reforma elaborada por João José de Oliveira, a mais avançada do seu tempo, pois permitia a admissão de escravos nas escolas, todavia proibida dois anos depois. Essa reforma dividiu a Escola Normal em duas: uma só para mulheres, outra só para homens. Ato presidencial de 1881 tornou a reformar o ensino e a reorganizar o Conselho de Instrução. Instituiu Salas de Asilo (jardins-de-infância), cursos de pedagogia e um currículo de ensino primário no qual entravam elementos de ciências naturais pela primeira vez.

Reforma de 1881

A reforma de1881 refletiu mudanças e exigências de uma Bahia na qual o trabalho escravo era lentamente substituído por novas formas de relações de trabalho, algumas assalariadas e a maioria de semi-escravidão. Precisava-se de escolas primárias que formassem pessoas com ‘aptidões práticas para a vida social’, como escreveu em 1885 o diretor-geral dos estudos Eduardo Pires Ramos. Deve-se observar que a reforma de 1881 estabeleceu no item referente ao ensino particular que ‘qualquer cidadão brasileiro ou estrangeiro poderá abrir Escola ou outro estabelecimento de ensino primário e secundário, e exercer o magistério’. Diretor-geral da Instrução de 1881, Romualdo Maria de Seixas Barroso registrou que só havia 21.626 alunos matriculados em todas as escolas da Bahia, contraste imenso com a população de um milhão e meio de habitantes.

Muitas pessoas, possivelmente, se beneficiaram com a licença dada a qualquer pessoa abrir uma escola e exercer o magistério. Isso fica evidente pela quantidade de pessoas sem posse, mas que sabiam ler e que, com certeza, não foram alfabetizadas em escolas regulares, até mesmo por não existirem. Citemos algumas delas: João Batista Coutinho, nascido em 1908, estudou numa fazenda no Jacu, vindo também a ensinar. Seguindo depois seu destino, prestou concurso para Coletor, aposentando-se como Fiscal de Renda; José do Carmo Barbosa, nascido em 1896, trabalhou na lavoura de cana, também ensinou pessoas adultas a escrever o nome, como comumente ainda se diz. Depois de adulto, já maduro, deu asas a sua mediunidade tornou-se pai de santo; Seu Maneca, nascido em 1884, foi administrador de campo na lavoura, aprendeu a ler na fazenda com seus parentes. Por necessidade do oficio, outros administradores de campo tiveram esse caminho para aprender a ler, escrever e contar; Florentino Ribeiro (Fulô), era rezador, com suas folhas, rezava as pessoas de mau olhado, cobreiro espinhela caída. “Ele sabia ler muito bem! gostava de ler livros, lia para as pessoas, ensinava as pessoas que não sabiam ler, lia o livro de ofícios. Fulô era muito inteligente!” disse sua filha Mariêta Ribeiro (Dona Santinha), e continuou: Meu irmão Neco, aprendeu a ler com um senhor que morava defronte da Tenda onde ele aprendia a cortar cabelo. Não me lembro o nome dele, mas sei que ele ensinou Neco. Meu outro irmão, Firmino, não sei com quem estudou, sei que era muito inteligente, gostava muito de ler livros policiais, tinha até uma coleção de Coiote, você sabe.

Além dessa gente pobre, simples, havia os mais abastados, os grandes proprietários ou mesmo pessoas de famílias mais esclarecidas, (médicos, advogados, engenheiros) submetendo-se ao Exame Preparatório pra ingressar nessas faculdades, aprendendo sem a presença da Escola. Entre eles está o advogado Adalicio Nogueira, tio da professora Alice Nogueira e tio avô de Violeta Nogueira Bacelar, esta ainda residente em Terra Nova; Dr. Melo Lima, médico nas usinas, pai de Vavá Melo, que, por muito tempo, foi farmacêutico e dono de farmácia; os irmãos advogados Américo e José Pachêco, cujos familiares, netos e bisnetos, residem em Terra Nova e região; Lima Teixeira, advogado e Jaime Vilas Boas, engenheiro.

O Exame Preparatório tinha o mesmo princípio que, no presente, tem o Vestibular. A diferença entre os dois está na obrigatoriedade da prova oral para o primeiro e na necessidade da conclusão do curso de segundo grau para o exame vestibular.
Assim a professora Lulu (leiga) e muitas outras pessoas devem ter se beneficiado da lei de 1881, tanto para a escolaridade própria como para a abertura de suas escolas, algumas remuneradas pelo município como foi, muito provavelmente, a Escola da Professora Lulu precursora do ensino em Terra Nova. A professora, uma pessoa de posse (tinha uma grande propriedade de terra), tinha consciência da importância da educação, o que foi demonstrado com a abertura de uma escola e pela educação escolar proporcionada a suas filhas. Destas, uma a ajudava a ensinar e a outra se formou em professora na escola normal em Salvador.

O ponto inicial da Escola em Terra Nova situa-se entre os primeiros anos de 1900.
Para que se instale uma escola, é necessário que no lugar haja uma concentração de pessoas. Esse cenário viabilizou-se com a implantação da Usina e a construção da Ferrovia Santo Amaro a Bom Jardim – Ramal de Catuiçara, respectivamente nos anos de 1904 e 1883, quando, com certeza, uma pequena população e um comércio regular já existiam, pois, em 1819, foi requerida pelo proprietário do engenho Aramaré, João Paulino d’Oliveira Pinto da França, autorização para estabelecimento de uma feira nas suas terras (era a feira que precedia o povoado). Com uma feira, uma indústria e um meio de transporte facilitando o deslocamento de pessoas e de mercadorias, o povoado foi se desenvolvendo.

Para determinar o início do processo histórico da Escola em Terra Nova, Bangüê valeu-se de depoimentos de pessoas nascidas nas primeiras décadas do século XX (e ainda vivas) e de registros históricos. A análise desses dados conduz para a conclusão: a Escola regular de Terra Nova teve seu inicio nos primeiros anos de 1900.

Nas conversas, foram sempre citadas duas professoras que, provavelmente, foram contemporâneas em determinado período: a professora Lulu (Maria de Paiva Luna) e a professora Maria da Conceição Costa. D. Lulu, como era conhecida, não era formada e,(retifique-se essa informação transcrevendo o que diz o professor Ronaldo em sua palestra Hoenagem a Venerana Professora “Foi aquela criança robusta que viria a ser,a 2 de abril de 1883, a Professora Luiza Simões de Paiva, mais conhecida por Professora Lulu. Depois de formada não começou logo a sensinar aqui, pois teve que aguardar vaga. Neste tempo ensinou no lugarejo, hoje, Vila de Jacu, de cuja época, ainda podemos ter a prova de um seu aluno:Dr. Bomfim”) que por muito tempo foi a única professora de Terra Nova, até a chegada de Conceição, professora diplomada.

Depoimentos:

Sr. Antidio Roque, mestre de carpinteiro, nascido em Terra Nova em 1915, entrou na escola de D. Lulu, quando tinha sete para oito anos. “saí da escola por ter tomado uns bolos e quase perdi a mão. Fiquei uns tempos sem estudar, pois não tinha outra escola, a não ser uma em Terra Nova Velha paga, mas minha avó não podia pagar”. Entrou depois para a escola da professora Conceição, que funcionava no lado da Usina. Quando tinha 11 anos, voltou para D. Lulu, pois as escolas passaram, por determinação do governo, a separar meninos de meninas. “Eu não queria voltar, mas minha vó me obrigou”.

D. Santinha, uma senhora de 90 anos (28 de dezembro de 1915) – “Não comecei os meus estudos com professora Lulu por ser, no tempo, sua escola somente para meninas. Comecei um pouco fora de tempo, não era mais menina de sete anos não, quem me botou pra estudar foi uma moça que veio do sertão, chamava Fortunata ela me perguntou por que não estava na escola, eu disse que mamãe não ligava, aí ela botou os filhos para estudar e a mim também na mesma escola que botou os filhos… a professora era Zita, filha da professora Lulu. Quando separou meninas de menino, fui estudar com a professora Conceição. Quando a professora Conceição foi embora, fiquei com a professora Alice. Saí da escola zangada porque uma menina buliu comigo. Ela me chamou, me botou de castigo, me deu bolo e não fez nada com a menina, deixei de estudar… Ela me chamou para voltar várias vezes…Se mamãe desse importância para estudo, me obrigaria a voltar, mas ela não ligava… Já ia fazer o quinto ano”.

Zé Ligeiro, nascido em Aliança e criado em Terra Nova. Estudou de noite e de dia, a depender do trabalho de aprendiz na usina. “Estudei com Dona Sinhazinha, mulher de Seu João Cunha, ela chamava os meninos que ficavam jogando bola perto da casa dela para ensinar. Estudei também com minha irmã. Ela tinha uma escolinha lá em Terra Nova Velha, defronte da casa de Zé do Carmo”.

Dona Leonor Coutinho, nascida em São Bento do Inhatá em 23 de setembro de 1919, onde começou sua carreira de professora ensinando numa escola da usina. Aprendeu a ler com sua mãe, Dona Mariquinha (filha de um pároco, tinha um bom nível de educação): … “Não estudei com D. Lulu porque a escola de D. Lulu era do outro lado da Ponte […] comecei a estudar em Terra Nova em 1927 com a professora Conceição, Conceição Costa […] naquela época D. Lulu não ensinava menina, só ensinava menino. A escola da professora Conceição ensinava menino e menina. Fui estagiária da irmã dela em Feira de Santana. Quando a professora foi embora de Terra Nova, logo foi substituída pela professora Alice de quem, também, fui aluna.”

Violeta Nogueira Bacelar – sobrinha e aluna da professora Alice. “A família de meu avô Avelino da Silva Nogueira, chefe geral de campo da Lavoura Indústrias Reunidas, morava em São Caetano […] foi seu pai quem educou minha tia Alice e a mandou para Salvador onde fez o curso normal. Quando se formou, se submeteu ao concurso e veio pra Terra Nova ensinar”.

Miriam – nascida em 9 de agosto de 1925, filha de José Marcos Teixeira e dona Jovina Santos Teixeira: “Meu pai foi criado pelo Juiz de Direito, padrinho dele, doutor Paulo Teixeira da família dos Teixeira do Rio Fundo… Comecei a estudar com dona Alice; Mirêta foi com professora Lulu, Mirêta, Zezinho, Horacinho essa turma (irmãos mais velho) foi com dona Lulu – Luiza de Paiva Lima; Toninho já foi com o professor Ranulfo”.

Maricota ou Cota, como ela prefere ser chamada, nascida em Terra Nova em 25 de março de 1924, filha de Zacarias West e dona Silvina da Silva West, começou seus estudos em Santo Amaro. Com nove anos, já em Terra Nova, prosseguiu com a professora Nadir, neta da professora Lulu. Disse mais a entrevistada. “Minha mãe estudou com a professora Lulu […] quando eu conheci professora Lulu, ela já era uma senhora de cabelos todo branco”.

Professor Juvenal, nascido em São Bento do Inhatá, em 21 março de 1921.
“Estudei em Terra Nova, inicialmente com a professora Lulu. Por causa da Ponte minha mãe me transferiu para a escola da professora Conceição, que era do lado da Usina, do mesmo lado em que eu morava […] O Exame Preparatório era o critério adotado, através de provas, para que as pessoas pudessem ingressar nos cursos superiores. Dr Melo Lima foi uma dessas pessoas de Terra Nova que se submeteram ao Preparatório. Creio que seu filho, também medico, José Melo, ingressou na faculdade da mesma forma, assim como Tavinho Bacelar e outros. […] Meu pai, o velho Maneca, nascido em 1884, administrador de campo das usinas aprendeu a ler, escrever e contar com Guilherme West (pai). Foi um escocês que veio para São Bento transformar as caldeiras de engenho para de usina; isso na segunda metade do século XIX”.

Paradorá, nascido em São Pedro do Rio Fundo em 23 de março de 1919. “Meu nome é Antonio Moreira, cheguei em Terra Nova em 1924 e comecei a estudar em 1927. Eu vim de Terra Nova Velha, vim estudar aqui. Minha mãe ia trabalhar na fazenda dos Pacheco e me deixava na casa de Zé do Carmo em Terra Nova Velha. Depois é que viemos morar na Rua da Palha (Rua da Igreja). Estudei com a professora Maria Luiza de Paiva Luna. A escola funcionava onde é hoje o Colégio Castelo Branco. Chamava Escola Municipal de Santo Amaro. Depois da revolução de 30 passou a se chamar Escola Estadual da Bahia. Quem disser que ela era professora leiga não conheceu ela! Nesse lado só tinha ela. Do outro lado tinha a professora Conceição. Agora tinha professora leiga: Mariquinha Cunha, Mariquinha Homem. Tinha delegado escolar, era um sargento da polícia casado com uma filha de D. Lulu. Estudei até o terceiro ano, saí com 14 anos para trabalhar, comecei na usina, de guarda-freio na Tupi, na manobra, na moagem”.

A Escola

A Instalação da sala de aula era na residência da professora, talvez um fator inibidor par o aluno e facilitador da disciplina par o professor, tirava a impessoalidade da escola e a intimidade das crianças com o local de aprendizado.

A primeira escola de Terra nova funcionou do lado do Comercio, na residência da professora, vizinha á igreja, onde posteriormente se instalou o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria. Hoje no local foi construído um colégio. No tempo, nessa rua existia, além da casa da professora Lulu, a Cooperativa da usina, onde agora é a Cesta do Povo, e a casa de Pedro Gonçalves. Estudavam na escola cinqüenta a sessenta alunos.
Mais tarde, a professora mudou-se para um casarão, hoje dividido em duas casas, a de Miguel Santana (já falecido) e a da professora Terezinha.

A casa da segunda escola pertencia à usina e era também residência da professora. Como a primeira, de início, não tinha nome de personalidade. Provavelmente chamava-se Escola Municipal de Terra Nova. Não se dava nome próprio era sempre nome do município ou do estado, assim era Colégio da Bahia, Colégio Ipiranga, Escola Feminina de Inhatá. O único que tinha neme era o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, afirmou o professor Juvenal Alves dos Santos (ex-aluno da professora Lulu), de elevada importância da Educação da Bahia, tanto como membro na Secretaria de Educação do Estado, como da Universidade Estadual da Bahia, de quem foi um dos fundadores.

Na gestão de D. Alice Nogueira recebeu o nome de Escola Jaime Vilas Boas, homenagem a um dos proprietários da usina. Com a construção do Prédio Escolar – Escola Julieta Magalhães, os alunos foram transferidos e a professora foi nomeada diretora. A casa localizada na esquina da rua, tornou-se apenas residência e foi preservada, inclusive sua varanda, o que merece registro na memória de Terra Nova.
A farda da escola era do tipo marinheiro, calça e blusa branca, os meninos; as meninas usavam saia azul plissada com blusa branca.

A terceira escola foi a de dona Merita, (contemporânea da segunda escola) era uma casa localizada na rua da Farmácia de Vavá Melo, do lado do Mercado Municipal.
A farda da escola era calça e blusão cáqui para os meninos; as meninas era saia azul plissada com blusa branca.

Outras escolas

Outras professoras ministraram seus ofícios ensinando gerações, que seriam segundas, terceiras, tomar-se por parâmetro a professora Alice. Entre elas: a professora Belanice, Maria José, Jenita Pacheco, Anita Monteiro, professora Elizabete que, em pleno exercício da profissão, perdeu a visão. Entre essas escolas, merece destaque a do professor Ranulfo, por ser ele o único professor do lugar. Chamava-se Caixa Beneficente Usina Terra Nova. Quem reparar na bandeira das janelas e portas da casa de Violeta Bacelar, próxima ao ginásio, verá que na mesma ainda constam as iniciais CBUTN.

As escolas aplicavam aos alunos, a partir dos oito anos de idade, um currículo do primeiro ao quinto ano, todos os alunos numa mesma sala. Os iniciantes poderiam chegar sabendo ler ou não, se os pais antes do ingresso na escola, não ensinassem os filhos a ler, a professora o faria através da Carta de ABC. Normalmente elas se utilizavam dos alunos mais adiantados paratomar conta da sala, tomar a lição, corrigir contas daqueles das primeiras séries.

Tomar conta da sala era, quando a zoada estava muita, a professora escolhia um aluno, mandando-o ficar de frente para turma e se algum colega começasse a conversar, o vigia chamava cantando: venha pra cá fulano, fulano venha pra cá, venha pra cá…, até Maria, João ou José se encaminhar para ficar em pé próximo à parede. Se aquele que foi chamado demorasse de atender, a professora intervinha às vezes mudando o castigo para ficar de joelhos.

No quinto ano, o exame oral era feito por uma espécie de banca examinadora composta do Inspetor do Municipal e duas professoras. A dona da escola ficava à parte observando, o que foi atestado por Violeta Bacelar: “Quem examinou a minha a minha turma foram as professoras Merita, Belanice e o doutor José Melo de Lima, minha tia Alice ficava observando […] a turma era de três alunos: eu-Violeta Bacelar, Lindalva e Valdete Oliveira.”

Depois de fazer o quinto ano, o aluno, se os pais pudessem e quisessem, se submetia ao Exame de Admissão para ingressar no ginásio, o que significava se deslocar para Salvador ou Santo Amaro. Eram contados, na época, os casos de alunos filhos da classe trabalhadora, que prosseguissem os estudos.

As professoras tinham total autoridade sobre os seus alunos utilizando-se dos mais diversos castigos, a depender do temperamento de cada uma, para manter a disciplina na sala ou como punição por não saber a lição. Esses castigos iam desde ficar de pé ou de joelhos, passando por beliscões, reguadas, bolos ou mesmo ficar preso na escola. O aluno canhoto que era surpreendido escrevendo com a mão esquerda era obrigado a mudar para mão certa.Por vezes, a professora vinha sorrateiramente e passava a reguada no braço do infrator.

As turmas, ao longo do tempo, foram mistas ou não. Mas a escola ensinava numa mesma sala do primeiro ao quinto ano separando as carteiras dos meninos e meninas. O aluno entrava com oito anos sabendo ou não ler e contar, isso dependia da sua condição ou entendimento da família.
Era interessante a forma de ensinar o ABC, utilizando-se um livrinho azul de nome Carta de ABC, de três ou quatro folhas: começava-se lendo a primeira fila de A a E; numa segunda fase, estendia-se a leitura a outras linhas e assim até chegar no Z. Depois vinha mais uma lição, que era ler as vogais. Numa última lição, isso depois de vários dias, furava-se um pedaço de papel, de forma que se visualizasse apenas uma letra e, aleatoriamente, a professora, ia perguntando letra por letra.

Constavam nas páginas seguintes da Carta de ABC as sílabas formadas por uma consoante e vogal. E assim até o Z, era uma cantoria: ba (era bêaba) bêébé…bêubu. Ultrapassada essa etapa, era a hora da Cartilha, onde se aprendia a ler soletrando-se as palavras.
Em paralelo, aprendia-se a contar num livrinho chamado Tabuada.
Essa era a forma aplicada pela família para que os meninos e meninas chegassem, aos oito anos no primeiro ano do curso primário sabendo ler e contar.

Esse também era o método aplicado pela Escola aos que não sabiam ler ou contar. Na Escola prosseguiam o curso primário com as disciplinas Português, Aritimética, Geografia, História, Educação Cívica, Ciências e Desenho. Essa escola preparava seus alunos para que no final do quinto ano se submetessem ao Exame de Admissão, com provas escrita e oral e Português e Matemática, História e Geografia, forma de ingresso no curso Ginasial nos colégios de Salvador ou Santo Amaro. No exame, a prova de português era eliminatória.

Não havia restrição de qualquer forma para o ingresso na escola, mas dificilmente se viam na escola filhos de cortador de cana, chamador de boi. Seus pais, muito provavelmente por falta de tradição, não percebiam necessidade dos filhos aprenderem a ler já que o futuro deles não seria muito diferente do seu, seus patrões, naquele regime de semi-escravidão, escolhiam um filho de um ou de outro empregado para aprender a ler e fazer conta para ser aproveita à frente de um trabalho que exigisse tal conhecimento. As escolas onde se aprendia o ABC, às vezes pagas, era mais uma dificuldade para os pais herdeiros das conseqüências da escravidão, pois sua maioria era negra e pobre. Hoje as dificuldades foram minimizadas com a Merenda Escolar, Bolsa Família, Transporte, Livro Farda, etc. Mas a família ainda não se comporta de acordo com a importância da educação para a vida de seus filhos. Esse comportamento é coerente com o tratamento de submissão que foi dado pelo senhor o longo d escravidão. Veja-se o que diz o historiador Stuart Schartz no livro Segredos Internos página 310 sobre a importância da família. “A importância da família e do parentesco em geral há tempos vem sendo um assunto de grande interesse no Brasil e, embora seja muito enfatizado o impacto dessas relações sobre a vida política e social, existente, na verdade, poucos estudos acerca da organização das famílias e domicílios brasileiros no passado…é ainda mais evidente no que se refere à família escrava, que se supôs praticamente inexistente ou tão deformada pela escravidão que teria sido a principal causa de males sociais posteriores”.

O Ginásio

Toda esta fase antecedeu ao ginásio, que foi estabelecido no ano de 1965 sem mais necessidade do Exame de Admissão, decorrente da Reforma de Diretrizes e Bases. O primeiro diretor foi o padre Moisés. O aluno ao se matricular, depois de ter passado da quarta série, já estava na primeira série ginasial.

Os professores primários passaram a sair desse universo, ao invés ao invés de se submeterem a exames específicos para o curso Normal. A escola encheu, aumentou as necessidades de informação, diminuiu o conhecimento dos professores. O Estado tenta remediar com cursos dirigidos, métodos diferenciados buscando adequar os professores à realidade, para diminuir a distancia entre a escola pública e a privada, de forma a tornar os índices aceitáveis pelos órgãos mundiais.

Esta é a etapa em que se encontra a Escola na sede do município de Terra Nova. Nos distritos há escolas primárias, ginásios só na cidade. Não existe escola particular.
. . . . . .

O ensino foi massificado; caiu o grau de aproveitamento ou houve um aumento de informações, decorente do desenvolvimento social, que a Escola não acompanhou?

Na concepção do Bangüê, o Aproveitamento é o resultado de uma equação cujas variáveis são a Escola, o Aluno, e a Família.

Aprendizado é sinônimo de conhecimento. À medida que a sociedade vai se desenvolvendo, os conhecimentos também crescem (ou ao contrário) na mesma razão, para que a comunidade possa usufruir dos avanços.

O aprendizado pode ser representado matematicamente, e também serem admitidos pesos matemáticos para as variáveis a depender do grau de responsabilidade de cada uma delas represente no resultado.

Outro fator que se pode acrescentar para se estudar o problema do aprendizado na escola é a necessidade, esta vista como sendo uma expressão das Ciências Econômicas.

Necessidade é o desejo de consumir aliado à capacidade de comprar (a satisfação do desejo para consumir alguma coisa somente é atendida pela capacidade de pagar por ela).

Outrora num tempo nem tão remoto assim, as necessidades das pessoas resumiam-se em atender as necessidades básicas de subsistência.

Para que ensinar a ler uma comunidade escrava se a Economia só precisava de sua força física?

Para que o aprendizado se, quase até o inicio do século XX, a economia era sustentada pela agricultura e um comércio mambembe?

Que peso a variável família representava na equação do Aprendizado? Nenhum ou quase isso.
A Família é a unidade mais importante na equação.

Na comunidade pobre, na comunidade negra, ela teve até dificuldade de se estruturar. Quando essa variável família é estruturada, mesmo sendo pobre, mesmo sedo afrodescendente, os resultados das suas crianças na escola são outros, são aceitáveis.

Aprender para ter melhores oportunidades de trabalho, mas principalmente aprender para obter conhecimento, para não se tornar um analfabeto, na concepção mais moderna de“analfabeto funcional”.

Se fosse possível considerar o aprendizado um problema de saúde, se poderia dizer que ele está doente há muito tempo, que essa doença se tornou uma epidemia e, com absoluta certeza, o foco da epidemia está na família.

Portanto, sendo uma endemia, para debelá-la, deve-se adotar o mesmo procedimento que é dada às doenças endêmicas; fazer igual ao que se faz com a dengue, por exemplo: visitas periódicas sistemáticas nas residências dos alunos, para ensinar os pais, especialmente as mães a acompanhar o estudo de seu filho na escola, mesmo que elas não saibam resolver os deveres. Isso já é uma ação da Escola (Estado) na família.

Em paralelo a essa medida, deve-se alterar, o tempo do aluno na escola para dois turnos, em que ele deve no perímetro da escola executar atividades fora da sala de aula – lugar de aluno é na escola, bem como o período do ensino fundamental.

Mas o Estado prefere adotar medidas, no mínimo demagógicas, a de alfabetização de idosos é uma delas. Essa política deve resultar na redução do numero de analfabetos, interessante para os olhos dos organismos internacionais.

É da Família que saem o bom aluno, o marginal, o poeta o professor, o padre, o médico. É dela que sai o bem e o mal, então todo trabalho deve começar nela. Nada contra em se tirar os idosos da lista dos analfabetos, no entanto despender recursos na jovem mãe terá um efeito multiplicador incontestável.
Se a preocupação do Estado com os idosos, for realmente pra valer, deveria premiá-los também, nos itens Lazer e Farmácia.

Portanto pensar num projeto voltado para a família do aluno matriculado na escola pública, será a mais concreta política que os municípios devem adotar, para que o peso da importância da família na educação seja estabelecido.

Terminamos esse Trabalho sobre a Escola em Terra Nova, reproduzindo novamente o trecho do historiador Stuart Schwrtz, muito pertinente nessa região que é parte do que foi a Freguesia do Itararipe do Rio Fundo.

“A importância da família e do parentesco em geral há tempos vem sendo um assunto de grande interesse no Brasil e, embora seja muito enfatizado o impacto dessas relações sobre a vida política e social, existente, na verdade, poucos estudos acerca da organização das famílias e domicílios brasileiros no passado… é ainda mais evidente no que se referem à família escrava, que se supôs praticamente inexistente ou tão deformada pela escravidão que teria sido a principal causa de males sociais posteriores”.

Terra Nova, agosto de 2005.
Viraldo Barbosa